Crises

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Acordei no sábado pela manhã com o toque insistente do meu celular ao lado do travesseiro. Três ligações perdidas. Amanda, claro. A luz do sol entrava pela janela, iluminando o quarto de maneira que fazia parecer mais alegre do que realmente era. Olhei o relógio — já passava das nove. Era meu dia de folga, mas havia muito a fazer.

Espreguicei-me, ainda meio zonzo, e disquei o número da Amanda. Ela atendeu no segundo toque

A pergunta que ela fez não me pegou de surpresa, onde eu estava ontem à noite? Simples, respondi que estava com Mari, o que não era mentira. Perguntei como ela estava, ela soltou um suspiro, como se essa fosse a resposta automática dela para tudo.

"Cansada!" Ela sempre estava, pra variar.

Mudei de assunto dizendo que nos encontraríamos mais tarde, sabia que prolongar aquela conversa não levaria a lugar algum.

Não demorei para desligar o telefone e fiquei sentado na cama por alguns minutos, encarando o teto. Me levantei, caminhei até o banheiro e, ao me olhar no espelho, uma sensação esquisita começou a se espalhar. "Você precisa resolver sua vida, cara," pensei, vendo o reflexo de um homem que parecia estar no piloto automático. Mas, ao lembrar da noite anterior, especialmente o semblante de Luísa, uma faísca de ânimo percorreu meu corpo. Ela tinha algo diferente, e pensar nisso me deu uma sensação estranha, algo bom que eu não sentia há um tempo. "Eu não devia estar me animando com isso..." pensei, mas era impossível ignorar. "Beleza, vamos lá, dia novo, problemas antigos..., mas talvez com um pouco mais de pique." Com um último olhar para o espelho, decidi que aquele dia não seria como os outros. Afinal, o piloto automático precisava de uma pausa.

Tomei meu café da manhã e me sentei em frente ao computador, entrei na minha rede social, e lá estava o campo de pesquisa, eu não queria olhar para aquela barra porque sabia o que eu ia fazer depois disso. Meu feed de notícias, era fotos e coisas fúteis. Abri uma nova aba e lá estava o meu blog, ele andava parado, eu não tinha inspiração pra escrever há séculos. Lembrei da breve conversa que tive com a garota embriagada, e de repente eu estava na barra de pesquisa da minha rede social procurando algum vestígio de sua melhor amiga, como ela enfatizou

Não demorou muito para encontrar. Luísa. Não tinha muitas fotos ou coisas sobre ela, mas ela parecia conhecer muita gente que eu já conhecia ou havia visto algumas vezes. Por que nunca tinha reparado nela antes? Talvez eu estivesse tão focado em mim mesmo que não percebia mais o que acontecia ao meu redor. Fechei o computador – já era o suficiente. E lembrei do que realmente precisava fazer. Acordar, me animar e tomar as rédeas da minha vida. O dia prometia ser diferente.

Chequei preços e passagens para a viagem que tanto desejava. Eu e Amanda precisávamos de férias, um tempo longe das obrigações e das lembranças que pesavam sobre nós. Logo estava largado no sofá, afundado no controle do videogame, quando o celular vibrou. Era Mari:



"Abre a porta, tô aqui fora."

Levantei meio sem vontade, jogando o controle no sofá. Troquei de roupa rapidamente — eu tinha o costume de ficar só de cueca em casa quando estava sozinho, o que, inclusive, já tinha me rendido umas olhadas esquisitas da vizinha ao lado.

Quando abri a porta, Mari já entrou como se fosse dona do lugar, carregando uma energia que sempre enchia o espaço.

"Passei pra ver como você tá... e pra gente terminar aquela conversa que deixamos em aberto.

Me lembrei por que Mari era uma das poucas pessoas que eu realmente conseguia tolerar quando meu humor não estava lá essas coisas. Ela era assim, confortável, quase como um móvel na minha vida, mas de um jeito bom.

O último a sair paga a contaOnde histórias criam vida. Descubra agora