Filosofia de bar

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Já haviam se passado alguns dias desde que vi Amanda. Ela me disse que estava em uma viagem de negócios, e desde então mal trocávamos mensagens .A sensação de distância era cada vez mais palpável entre nós, como se estivéssemos em mundos separados, mesmo que estivéssemos na mesma casa. Eu
tentava me convencer de que o tempo e o trabalho tomavam todo o meu foco, mas
no fundo sabia que a verdade era outra. A conversa que não acontecia, o toque
que se ausentava, o silêncio que se instalava entre nós – tudo isso parecia ter
se tornado uma rotina.
Naquele dia, o trabalho estava tão exaustivo quanto de costume. O relógio marcava cada segundo como se o tempo fosse mais pesado do que o normal. O telefone não parava de tocar, a quantidade de e-mails
acumulados se tornava interminável e, por mais que tentasse focar nas tarefas,
minha mente insistia em se voltar para Amanda. Não que fosse o que eu realmente
quisesse, mas ela estava lá, entre as brechas da minha atenção, me lembrando da
distância entre nós.Estava cansado, e não era só o corpo. A mente já estava saturada, já não havia mais paciência para as pequenas demandas do trabalho. Foi quando olhei para o relógio e percebi que já era hora de dar um
tempo. Mandei uma mensagem para Mariana, sugerindo que nos encontrássemos no
bar depois do expediente. Uma forma de escapar da monotonia, um jeito de
desviar os pensamentos que me prendiam ali.

Era por volta das 17:00 quando saí. A cidade fervilhava no horário de pico, mas, por sorte, meu bom e velho bar estaria quase vazio, já que era um dia de semana qualquer. Cheguei ao
"CB" e fui direto ao balcão, cumprimentando Luca, o barman, com um
aceno.

"Luca, me vê uma cerveja,
por favor?" Pedi, enquanto o rapaz, de cabelos cacheados e tatuagens pelos
braços, servia a bebida sem demora.

Abri a garrafa, desabotoando o colarinho da camisa e sentindo o peso do calor diminuir com o primeiro gole. O rock clássico tocando ao fundo e o ambiente tranquilo faziam
aquele fim de tarde valer a pena. Olhei para o relógio, imaginando onde Mariana
estava, quando uma voz familiar interrompeu meus pensamentos.

"Olha só se não é o cara
do abraço!"

Me virei, surpreso, e dei
de cara com a amiga de Luísa, que me olhava de uma mesa no canto do bar, um
sorriso brincalhão no rosto. As duas estavam juntas, como sempre. Caminhei até elas, mais
por impulso do que por qualquer outra coisa.
Quando cheguei, Luísa e sua amiga
se levantaram da mesa. Senti meu coração acelerar um pouco, então tentei
disfarçar, sorrindo.

"Eu acho que não
fomos apresentados ainda, pelo menos não direito." -Ri, tentando esconder o
nervosismo que começava a surgir.

A amiga de Luísa estendeu a mão, confiante. "Sou Fernanda, mas todo mundo me chama de Nanda." Ela sorriu de forma ampla e calorosa. "E essa aqui é minha melhor amiga, Luísa," disse, enfatizando a palavra melhor de um jeito que fez Luísa dar uma risadinha me arrancando um sorriso genuíno.

"Prazer, sou Christian...ou só Chris, se preferirem." Dessa vez, minha voz soou mais relaxada, e eu quase me senti parte da conversa.

Luísa sorriu, com uma expressão divertida. "Muito prazer, Chris. - Quer se juntar a nós, ou está esperando alguém?"

"Estou, mas posso sentar até ela chegar."

Nós nos acomodamos e começamos a conversar sobre trivialidades, do trabalho à cidade. Enquanto Luísa falava, eu me pegava fixo no jeito que ela me olhava, na expressão curiosa que se formava quando eu dizia algo que parecia surpreendê-la. Eu já havia tomado
metade da minha cerveja quando notei os olhos dela pararem no meu anel de noivado.

E então, com um tom despreocupado, Luísa disse: "E quando é o casório?"

Congelei por um segundo, sentindo o rosto aquecer. Fingi que era do calor do bar, mas sabia que não.

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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