Crawling back to you...

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Era tarde da noite no Thousand Sunny, e, após um dia agitado, a tripulação dos Chapéus de Palha já estava dormindo. O silêncio da noite era cortado apenas pelo som das ondas. Zoro estava no convés, sozinho, em um dos raros momentos de descanso de seus treinos. Em uma das mãos, segurava uma garrafa de saquê; na outra, girava distraidamente a ponta de uma das espadas, enquanto sua mente vagava por pensamentos que ele nunca havia permitido.

Ele sabia que alguma coisa estava diferente dentro de si, mas não queria admitir o motivo. Ultimamente, seu olhar parecia sempre gravitar em direção ao loiro esguio que passava a maior parte do tempo na cozinha. Zoro sempre havia considerado Sanji uma irritação, alguém que nunca perderia a chance de provocá-lo. Mas, recentemente, algo mudara. Ele se pegava observando a maneira como Sanji movia as mãos enquanto cozinhava, ou a forma como ele fumava, as longas tragadas de cigarro parecendo uma dança hipnotizante.

Em outro canto do navio, Sanji estava sentado no corrimão da amurada, tragando um cigarro com um olhar distante. Sua mente também estava em conflito, e a bebida que ele havia tomado no jantar não ajudava. Ele tentava entender a si mesmo, mas, a cada reflexão, só conseguia lembrar-se de uma única pessoa: aquele espadachim teimoso, insuportável e irritante.

"Do I wanna know, if this feeling flows both ways?", pensou, quase sem perceber que a melodia de sua mente acompanhava a letra daquela canção que ele costumava ouvir em uma ilha distante. Ele queria saber se, por acaso, Zoro sentia a mesma coisa, mas sabia que, se tivesse alguma esperança, ela viria com uma resposta frustrante. Se perguntasse, Zoro provavelmente riria de sua cara.

Sanji se perguntava por que não conseguia tirar Zoro da cabeça. Ele odiava isso. Odiava a vulnerabilidade que sentia. E mais ainda, odiava a ideia de que Zoro pudesse perceber.

Com um suspiro, ele decidiu se aproximar do convés. Talvez, se visse Zoro, se lembrasse das brigas e irritações, e esse desejo inexplicável desaparecesse. Quando se aproximou, percebeu Zoro sentado, absorto em seus pensamentos, parecendo não notar sua presença.

Sanji parou e observou, incerto. Poderia apenas ir embora, mas algo o impedia. Tomando coragem, pigarreou.

— Pensando demais para um cabeça-oca como você, não acha? — provocou, tentando esconder a voz trêmula.

Zoro levantou o olhar, um pouco surpreso, mas disfarçando com uma expressão de irritação.

— E você? Não devia estar dormindo ou sei lá, tentando cozinhar algo que preste? — retrucou, com um sorriso de canto.

Sanji se aproximou, encostando-se ao lado de Zoro. O vento noturno bagunçava seus cabelos loiros, e ele desviou o olhar, tentando não parecer afetado.

— Por acaso, o que você tava pensando? — arriscou perguntar, mas a pergunta soou mais sincera do que gostaria.

Zoro permaneceu em silêncio, sua expressão endurecendo por um momento antes de relaxar. Sabia que não poderia dizer o que realmente estava pensando.

— Pensando se um dia você vai largar de ser irritante, talvez — respondeu, sem encarar Sanji, como se estivesse temendo a reação do cozinheiro.

Sanji riu, mas era uma risada forçada. Por dentro, sentia algo estranho, como se cada uma dessas provocações fosse um teste para ele. O que faria se Zoro realmente respondesse algo além de uma provocação? Seria capaz de lidar com isso?

— É, eu também tava pensando em algo parecido. Mas sobre você — devolveu Sanji, num tom brincalhão.

O silêncio que se seguiu foi diferente de outros momentos. Nenhum deles falou, e a tensão era quase palpável. Ambos olhavam para o mar, evitando o olhar um do outro, como se o contato visual fosse a chave para destruir qualquer autocontrole.

— Sabe, marimo... — começou Sanji, com a voz mais baixa, hesitante. — Já pensou se um de nós... se eu ou você... fosse, sei lá, mais honesto?

Zoro franziu o cenho, finalmente virando-se para encarar Sanji.

— O que você quer dizer com isso? — perguntou, num tom entre a curiosidade e a irritação, como se não quisesse entender, mas estivesse tentado a descobrir.

Sanji desviou o olhar, tragando o cigarro de forma nervosa. Ele sabia que estava prestes a dizer algo que talvez nunca pudesse voltar atrás.

— E se a gente parasse de fingir que só se odeia, marimo? — respondeu Sanji, num sussurro quase inaudível. — Talvez as coisas pudessem ser... diferentes.

Zoro o olhou por um longo momento, em silêncio, absorvendo aquelas palavras que ecoavam como uma confissão. A mão dele apertou a garrafa com mais força, e ele respirou fundo, tentando manter a calma. Estava acostumado a batalhas, a enfrentar inimigos, mas aquilo? Aquilo era diferente.

— Então, o que você quer, loiro? Que eu diga que gosto de você? — Zoro respondeu, sua voz carregada de uma raiva que ele próprio não entendia.

Sanji riu, mas era uma risada amarga.

— Não, marimo. Eu só queria saber se, por acaso, você sente o mesmo.

Os dois se encararam em silêncio, cada um tentando decifrar os olhos do outro. O som do mar era a única testemunha daquele momento. Zoro, com um suspiro, abaixou a cabeça.

— Odeio admitir, mas acho que... sim — murmurou, as palavras saindo como uma confissão forçada.

Sanji sentiu um aperto no peito. Por mais que quisesse ouvir isso, nunca acreditou que Zoro realmente diria. O silêncio que seguiu era profundo, mas, ao mesmo tempo, cheio de promessas.

— Então você sabe — disse Sanji, quebrando o silêncio. — Eu também odeio isso. Odiar a forma como... como você ocupa minha mente o tempo todo.

Zoro soltou uma risada curta e amarga.

— Parece que estamos ferrados...

Sanji assentiu, e, sem pensar, se aproximou mais, tocando levemente a mão de Zoro. Foi um toque breve, mas suficiente para fazer ambos sentirem a gravidade do momento. Não havia mais volta.

Eles se encararam por um segundo, até que Zoro cedeu, puxando Sanji para perto. Quando seus lábios se encontraram, foi como se finalmente estivessem admitindo tudo o que passaram meses evitando. Não era um beijo suave; era um beijo carregado de frustração, desejo reprimido e todas as emoções que eles não podiam mais conter.

Por fim, se separaram, ambos com o rosto corado e o coração acelerado. Não era algo que podiam manter para sempre em segredo, mas, por agora, apenas sabiam que queriam estar juntos.

Ao se afastarem, Sanji sorriu.

— Vamos fingir que nada disso aconteceu amanhã, só por enquanto.

Zoro deu de ombros, o olhar ainda firme em Sanji.

— Desde que eu possa lembrar disso hoje, tá bom pra mim.

Eles riram, e pela primeira vez, aquela noite, não se importaram com as consequências. E, enquanto os outros dormiam, eles ficaram ali, lado a lado, aproveitando o silêncio e o segredo que os unia.

Ao final, Zoro olhou para Sanji e disse, quase num sussurro:

— Do I wanna know? Será que um dia isso vai dar em alguma coisa, loiro?

Sanji apenas deu de ombros.

— Vamos descobrir, marimo.

"Do i wanna know?" - ZosanWhere stories live. Discover now