CAPÍTULO 4: LOUCURAS EM PLENOS 16❤️‍🔥

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Eu jurava que aquele lobo era ele, e podia jurar que havia um lobo ali, mas na verdade eu não sei o que houve comigo. Acordei com alguém me chacoalhando para que eu reagisse. Meus olhos abriram e viram o rosto de Benício em meio a noite escura e estrelada que estava no céu, minha reação foi vergonhosa, pois dei um soco na cara dele jogando-o no chão, em seguida me levantei desorientada e tão tonta que quase retornei ao chão, teria mesmo caído se ele não tivesse se levantado e me segurado evitando minha queda;

--Você tem algum problema por acaso?
--Eu que tenho o problema? Você quem me chacoalhou igual um caixinha de suco e ainda me assustou quando virou um lobo e eu que tenho problema?
--Ah já saquei, você é maluca.
--Como é? Por que eu sou maluca?
--Porque? Olha o absurdo que está dizendo garota, eu um lobo? A parte em que eu te chacoalhei é verdade, pois você estava dormindo no meio do campus nesse frio em plena madrugada, agora eu ser um lobo? Sua fissura em mim vai até aonde?
--Que fissura?
--Só um cego pra não ver que você tá me comendo com os olhos.
--Ah me poupe, que que eu veria em você? Um amostrado desses.
--Melhor amostrado... Do que maluco e órfão.

Ele saiu andando e me deixou parada em pé no meio do campus. Eu estava devidamente chocada com o que ele disse, maluca eu levaria como uma piada, mas órfã? Quem ele pensava que era pra falar assim de mim? Então sem nem eu perceber ou controlar, as lágrimas começaram a descer.  Desceram de raiva, de ódio, de indignação.
Cheguei ao meu quarto com custo de pensar em outra coisa se não nas palavras de Benício Vila Real. Aquele garoto estava ocupando cada pensamento meu, fosse pelo ódio que eu estava sentindo, ou fosse pelo desejo que ele me provocava, mas sempre estava presente em minha mente. Me troquei e me deitei, senti perturbação pelo que eu vira, se é que eu vira algo mesmo, pois pareceu tão real que tinha um lobo naquele campus comigo, e do nada eu acordo e percebo que estava desmaiada no meio do campus e tudo não havia passado de um sonho. Aquele fato não me descia na garganta, mas me estressei tanto que dormi de tanto pensar.
Acordei pela manhã com uma sensação estranha, como se alguém estivesse me vigiando ou sei lá. Tomei um banho rápido e me aprontei pra tomar café, apesar de que ainda eram sete e vinte e dois da manhã. Desci olhando para todos os lados para garantir que eu havia mesmo alucinado e não havia lobo nenhum, por uma fração de segundo deixei minha mente acreditar que Benício estava certo em uma parte, que provavelmente eu estava ficando louca, afinal eu havia perdido meus pais, me mudado para um lugar que nunca estive antes... Podia mesmo ser que eu estivesse enlouquecendo como uma desvairada qualquer.
No caminho pro refeitório me encontrei com a Diretora Shay, daí fomos andando juntas até lá, apesar de também não ir tanto com a cara dela;

--Bom dia Valéria, tudo bem?
--Bem diretora e a senhora?
--Estou ótima, e muito feliz que você esteje aqui.
--Que bom.
--Sabia que seu pai era um grande aluno desta instituição? Era sem dúvidas um exemplo.
--Ele era muito inteligente mesmo, mas não eu não sabia, nem mesmo sabia que ele e minha tia tinham frequentado esse internato.
--Eram duas crianças bem unidas, mas seu pai sempre teve mais foco que sua tia, em diversos aspectos acadêmicos, o que me surpreendeu ela ter virado uma grande advogada e ele um proprietário de terras.
--Ele era muito feliz com a escolha dele, tinha paixão pelo campo e pelas coisas simples da vida. –Disse eu já ficando meio raivosa, pois pela fala dela minha tia era uma aluna meia boca e se tornou uma boa advogada e meu pai que era um dos melhores e virou um fracassado sendo que não era nada disso.
--Não tenho dúvidas que ele era feliz, mas podia ter tido um futuro muito brilhante. Inclusive foi aqui nessa instituição que ele conheceu sua mãe.
--Minha mãe também estudou aqui?
--Sim, foi uma bolsista, uma boa aluna também no requisito notas, mas sempre faladeira, animada e estonteante.

O que esperar de mamãe, meu lado animado puxei totalmente dela. Enquanto ela falava eu meio que imaginava eles naquela escola no passado, como devia ter sido o dia em que se viram pela primeira vez? Era a pergunta que eu me fazia.
Chegamos ao refeitório em instantes, onde Eric já nos esperava na mesa bem recheada. Quando nos viu se levantou em sinal de respeito, não a mim, mas sim a diretora;

--Bom dia Eric. (Diretora Shay)
--Bom dia Diretora, bom dia Valéria. (Eric)
--Bom dia.
--Tenho um dia trabalhoso hoje, cadê o senhor Vila real? (Diretora Shay)
--Eu não o vi ainda hoje diretora. (Eric)
--Como que não? Será possível que perdeu a hora? (Diretora Shay)
--Pode ter sido. (Eric)
--Agora  o que ele estava fazendo é um mistério não é? Pois ontem eram ainda nove trinta e seis quando cheguei no meu quarto para dormir e ele estava comigo cerca de quatro minutos antes disso.
--Então era de fato para ele ter dormido cedo, onde esse garoto se enfiou? (Diretora Shay)
--Bem aqui. (Benício)

Ele entrou usando uma calça preta jeans, botas e um suéter cinza, parecia que iria esquiar. Deu a volta e se sentou ao lado de Eric, se olharam de um jeito que não consegui decifrar o olhar, pareciam se comunicar apenas olhando um pro outro, era algo que me deixava incrédula;

--Senhor Vila Real está atrasado. (Diretora Shay)
--Desculpe, mas precisava achar uma roupa adequada para o meu castigo. (Benício)
--Que bom que se lembrou, quero aquela área do pomar limpinha mocinho. (Diretora Shay)

O clima no café ficou quieto até o final, senti um imenso alívio quando terminamos e cada um se levantou, a diretora foi a primeira a se retirar, Benício logo em seguida, mas por algum motivo Eric não saía;

--Você vai ficar aqui Eric?
--Tenho que tirar a mesa e lavar as louças que sujamos.
--Não tem funcionários aqui na escola?
--Claro que tem, mas eles também tem férias né, e até retornarem sou eu quem cuido da cozinha.
--Eu não sabia que podia isso aqui, não é meio que trabalho escravo?
--Não quando você se voluntaria.
--E por que razão você se voluntaria a fazer isso?
--Pelo motivo que não tenho com quem passar as férias. Todo ano eu fico aqui desde que me matriculei.
--Porque?
--Duas semanas antes do recesso, algum aluno tem que se voluntariar para ficar e auxiliar nas tarefas caso algum aluno receba a punição extrema, que é ficar aqui nas férias de meio de ano. Eu ia ficar de boa aqui sozinho se não fossem as travessuras do Benício, então agora tanto ele quanto eu temos tarefas.
--Meu Deus, eu nunca tinha visto isso em nenhuma escola.
--Métodos espanhóis né, não era para menos.
--Posso te ajudar?
--A lavar pratos? Não é tão divertido.
--Eu gosto de ajudar, não tenho nada para fazer mesmo, e você ainda vai fazer almoço não é?
--Sim.
--Pois então, eu ajudo a lavar e a cozinhar até as aulas começarem, assim você não trabalha tanto.
--Não tem que se preparar para segunda?
--Tenho quatro dias pra isso, e vai ser bom para me manter ocupada.
--Tá beleza então, vem trazendo as comidas para guardar lá dentro que eu levo os pratos e copos.

Assim fizemos. Depois de tirar as coisas, limpamos a mesa, lavamos as louças sujas e começamos a preparar um almoço bem interessante, arroz com pedacinhos de calabresa, feijão preto, salada de repolho e tomate ao vinagre e carne de sol frita. Eu preparei o feijão e a salada, o arroz e a carne como eram coisas que eu não sabia acertar no ponto, concordei que ele fizesse;

--Bom, terminei a salada. Quer que eu vá lavando os utensílios que usamos?
--Não precisa, depois do almoço agente lava para não restar nenhuma na pia.
--Tá bom então.
--Escuta, você trabalhou bem, vai tomar um banho e volta pra almoçar, é o tempo que eu finalizo tudo aqui.
--Tem certeza?
--Absoluta, vai lá.
--Tá bom.

Eu não fiz muita cerimônia quanto a isso, pois eu queria mesmo um banho, o calor da cozinha me fez suar bastante e ficar com cheiro de vinagre nas mãos. Estava atravessando o campus e vi a uns metros onde ficava os pomares, Benício colocando o que rastelou num saco preto, minha vontade era de ir lá e rasgar aquele saco para fazer ele catar e rastelar tudo de novo, só por causa do que ele me disse noite passada. Me aproximei cautelosamente, o que não adiantou muito;

--Veio ver como é o castigo daqui?
--Não, só estava indo tomar banho e vi você aqui.

Ele se virou, me olhou de cima a baixo como se estivesse me julgando;

--O que foi?
--Você tá suada e com cheiro de tempero.
--Você também está suado e com cheiro de terra, mas nem por isso falei na sua cara.
--Lógico, queria que eu tivesse cheiro de algodão doce enquanto trabalho?
--Você não está trabalhando, está apenas...
--Sendo punido, é eu sei. E por sua causa ainda por cima.
--O que eu tenho a ver?
--Se não fosse você ter vindo pra cá eu não teria ficado de castigo e nem...
--Nem o que?
--Nada, esquece. Vai tomar seu banho rosa do campo que eu tenho mais o que fazer.

Eu estava ficando irritada com ele de novo, mas ai lembrei que realmente era meio que culpa minha. Ele estava de castigo por minha causa, então peguei o rastelo reserva que estava ao lado da árvore a minha esquerda e comecei a ajudá-lo;

--O que está fazendo?
--Te ajudando, em um ponto se tem razão, está de castigo por minha causa.
--Esquece o que eu falei beleza? Quando eu fico irritado eu acabo extravasando além do limite.
--Percebi. Escuta, eu meio que notei que você não foi muito com a minha cara, mas fica tranquilo que eu não vou grudar em você nas aulas nem nada.

Ele suspirou bem fundo, parecendo acalmar algo dentro de si;

--O problema não é você, meu melhor amigo foi embora do colégio e eu não conseguir lidar e nem digerir isso ainda.
--Eu soube pela diretora quando nos conhecemos, mas o que o fez ir embora?
--Coisas... Se eu pudesse ter convencido ele a ficar, se eu não tivesse sido...
--Sido o que?
--Nada. Eu não gosto de falar disso, não sei nem porque comentei com você.
--Talvez porque você queira se abrir com alguém?
--Nada a ver, e se fosse não seria você a pessoa escolhida.
--Também não precisa humilhar, só disse isso porque aparentemente seus outros amigos não são tão próximos de você quanto esse que foi embora.
--E não são mesmo, alguns chamo de “amigos”, mas não passam de colegas.
--Tipo o Eric?
--Não... Ele não. –Ele suspirou novamente.
--Vocês parecem ser o oposto um do outro em vista.
--E somos, mas por incrível que pareça ele mesmo sendo completamente diferente de mim acaba me entendendo mais que qualquer outro amigo meu desse colégio.
--Conhece ele a quanto tempo?
--Já faz 4 anos. Quando eu entrei  ele já estudava aqui, foi inclusive a primeira pessoa que falou comigo, no entanto conheci melhor o Harry e daí viramos melhores amigos, mas eu sempre cumprimentava o Eric quando o via. E desde que Harry foi embora ele não mr deixou sozinho, o que evitou que eu enlouquecesse.
--Harry era o seu amigo que foi embora?
--Sim, se ele não tivesse ido tudo ainda estaria bom. E tudo por minha culpa.
--No que você foi culpado?
--Chega, não quero mais falar disso, vai tomar seu banho que eu amarro os sacos, já acabamos.

Fiquei incrédula com a atitude nervosa dele, mas fiquei ainda mais espantada quando olhei pro chão e não havia mais folhas para rastelar, sendo que a uns minutos  tinham uma boa quantidade e nós ficamos praticamente na conversa só esfregando o rastelo no chão. No entanto, percebi que aquilo tinha afetado ele, falar do tal Harry e do dia em que conheceu o Eric, o que me deixou ainda mais curiosa, tipo o porque que Harry ter ido embora foi culpa dele?

--Está bem, vou indo. Te vejo daqui a pouco no almoço então?

Ele simplesmente assentiu com a cabeça rm sinal positivo a minha pergunta;

--Fica bem e tenta não ligar pra isso. Seja lá o que tenha acontecido com o Harry, tenho a intuição que não é e nem foi culpa sua.

Saí andando me sentindo bem comigo mesma, pois eu tinha ao menos entendido um pouco o lado escondido de Benício. Lá no fundo ele tinha um coração que se importava com as pessoas, o que me deixou ainda mais encantada por ele. Cheguei ao meu quarto e fui diretamente pro banho, me esbaldei com aquela água refrescante caindo no meu cabelo e na minha pele, era uma sensação ótima tomar banho depois de fazer algum trabalho.
Porém, por algum motivo me bateu uma sensação de que alguém estava me vendo, abri meus olhos em meio a água e nada vi em nenhuma parte do banheiro, mas a sensação não passava... Me senti encurralada, pois eu sabia que em algum cantinho mínimo que fosse, alguém estava de olho em mim.

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