A chuva batia forte na janela, deixando o vidro totalmente embaçado ao meu lado. Nicolas estava concentrado enquanto dirigia, eu aproveitei para analisar seu rosto tentando buscar na minha memória, ele era muito familiar.
— No que você está pensando? — Ele pergunta.
— Nada.
— Está sim, você ainda faz a mesma cara de antes. — Senti meu rosto ficar vermelho, eu era tão expressiva assim? — Você não lembra de mim né?
— Desculpa, você é super familiar mesmo e com certeza a gente provavelmente era amigo antes, eu não lembro de muita coisa da infância sabe? Minha memória é péssima.
Paramos o carro no sinal vermelho e ele se virou para mim.
— Muito prazer senhorita, meu nome é Nicolas Eliot. Eu tenho 24 anos e moro aqui desde sempre. — Ele estende a mão em minha direção.
— O que você tá fazendo?
— Ué, me apresentando. Ja que você não se lembra de mim, achei que a gente podia começar de novo. — Ele sorri, ainda com a mão estendida e eu sorrio antes de segurar nela.
— Muito prazer Nicolas, meu nome é Elisabeth Fozzi e eu tenho 22 anos. Moro em São Paulo mas atualmente estou passando um tempo com a minha tia.
— É um nome muito bonito.
— Obrigada. Sempre achei que ele era especial.
Nenhum de nós havia soltado a mão ainda, o clima era tão amigável e engraçado que acho que nem percebemos isso. Ouvimos uma buzina atrás de nós, o que fez com que ele voltasse a dirigir. Nem tinha visto que o sinal já estava aberto.
— Então, posso fazer uma pergunta? — Eu digo.
— A seu dispor.
— Você frequenta a igreja há muito tempo?
Ele pareceu pensar bastante na resposta, será que tinha sido muito invasiva?
— Eu me converti a um ano. Na época estava totalmente perdido. Eu andava brigando muito com meus pais e comecei a andar com uns caras esquisitos que não estavam me levando pra um caminho bom. Um dia aconteceu uma coisa esquisita, a gente tava andando por uns becos como sempre e conversando e um deles começou a falar besteira como sempre falávamos. Alguma coisa começou a me incomodar de uma forma que não consigo explicar, os caras que eu achava serem meus amigos pareciam estranhos naquele momento e eu só comecei a me afastar deles. Estava tarde e eu não sabia pra onde ir ou o que fazer, eu me sentei no meio da rua e tudo ficou em silêncio. Quando eu abri os olhos a sua tia estava na minha frente tentando conversar e ela me levou até a sua casa, me serviu comida e conversamos bastante. Depois daquele dia eu passei a frequentar bastante lá e ela me convenceu a visitar a igreja. Meu encontro com Jesus foi no exato momento em que eu pisei lá e entendi todas as coisas.
Meus olhos estavam lacrimejando, e meu coração batia tão rápido naquele momento.
— Que lindo. Eu fico muito feliz por você ter o encontrado. Você parece uma pessoa incrível.
— Como você saberia? Não me conheceu hoje? — Ele diz e eu sorrio revirando os olhos.
Senti meu celular vibrar chamando minha atenção, Noah estava me ligando novamente.
Não atendi.
— Tudo bem?
— Vai ficar. — Eu digo
— Então, Elisabeth. Ouvi dizer que você sabe pintar quadros.
— É. Eu gosto muito, mas faz tanto tempo que não faço nada.
— E porque?
Mexi nervosa nos meus dedos, esse assunto era tão delicado que mexia muito comigo.
— Desculpa, se não quiser falar sobre isso. — Ele diz de forma rápida.
— Tudo bem. É só que é meio complicado.
— Então farei outra pergunta, certo?
Eu concordei.
— Tem alguma coisa sobre você que poucas pessoas sabem mas que você acha que é ou te faz especial?
— Caramba! Você foi profundo nessa.
— Eu tento haha.
Pensei um pouco antes de responder.
— A maioria das pessoas próximas a mim me chamam de Elis ou Elisabeth mesmo, mas eu sempre gostei muito de Eli.
— Porque?
— Parecia uma forma carinhosa de mostrar que sou importante. Foi mal, acho que não faz sentido.
— Faz sim. Eu entendo você.
Conversamos por mais um tempo até que finalmente chegamos em casa.
— Obrigada pela carona. Hoje foi diferente do que eu esperava.
— Imagina. Você sempre é bem vinda lá com a gente.
Comecei a tirar o cinto e a pegar minhas coisas, a chuva estava um pouco mais fina agora.
— Ah, espera um pouco. — Ele diz e sai do carro.
Observei ele dar a volta e abrir a porta para mim. Já deveria esperar isso mas mesmo assim, achei bem legal.
— Obrigada de novo.
— Que isso.
— Boa noite.
Eu começo a me distanciar dele e ir em direção a porta.
Foi uma noite muito diferente do que eu achei que seria, eu ate me esqueci do porque estava aqui e de tudo antes. Me sentia tão leve. Me diverti bastante com todo mundo.
Olhei para trás e Nicolas ainda estava parado do lado de fora do carro, esperando eu entrar. Eu me virei e acenei para ele mais uma vez.
— Até amanhã. — Eu digo.
— Até amanhã, Eli.
Fechei a porta ao entrar.
É, que noite estranha.
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Os traços do amor
Romance"As vezes as coisas podem sair do nosso controle, mesmo que a gente ache que tudo está no caminho certo. A vida vem e bagunça tudo o que você já tinha planejado, mas as vezes você pode perceber que na verdade isso era tudo o que você precisava." A...