Capítulo 11

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A chuva batia forte na janela, deixando o vidro totalmente embaçado ao meu lado. Nicolas estava concentrado enquanto dirigia, eu aproveitei para analisar seu rosto tentando buscar na minha memória, ele era muito familiar.

— No que você está pensando? — Ele pergunta.

— Nada.

— Está sim, você ainda faz a mesma cara de antes. — Senti meu rosto ficar vermelho, eu era tão expressiva assim? — Você não lembra de mim né?

— Desculpa, você é super familiar mesmo e com certeza a gente provavelmente era amigo antes, eu não lembro de muita coisa da infância sabe? Minha memória é péssima.

Paramos o carro no sinal vermelho e ele se virou para mim.

— Muito prazer senhorita, meu nome é Nicolas Eliot. Eu tenho 24 anos e moro aqui desde sempre. — Ele estende a mão em minha direção.

— O que você tá fazendo?

— Ué, me apresentando. Ja que você não se lembra de mim, achei que a gente podia começar de novo. — Ele sorri, ainda com a mão estendida e eu sorrio antes de segurar nela.

— Muito prazer Nicolas, meu nome é Elisabeth Fozzi e eu tenho 22 anos. Moro em São Paulo mas atualmente estou passando um tempo com a minha tia.

— É um nome muito bonito.

— Obrigada. Sempre achei que ele era especial.

Nenhum de nós havia soltado a mão ainda, o clima era tão amigável e engraçado que acho que nem percebemos isso. Ouvimos uma buzina atrás de nós, o que fez com que ele voltasse a dirigir. Nem tinha visto que o sinal já estava aberto.

— Então, posso fazer uma pergunta? — Eu digo.

— A seu dispor.

— Você frequenta a igreja há muito tempo?

Ele pareceu pensar bastante na resposta, será que tinha sido muito invasiva?

— Eu me converti a um ano. Na época estava totalmente perdido. Eu andava brigando muito com meus pais e comecei a andar com uns caras esquisitos que não estavam me levando pra um caminho bom. Um dia aconteceu uma coisa esquisita, a gente tava andando por uns becos como sempre e conversando e um deles começou a falar besteira como sempre falávamos. Alguma coisa começou a me incomodar de uma forma que não consigo explicar, os caras que eu achava serem meus amigos pareciam estranhos naquele momento e eu só comecei a me afastar deles. Estava tarde e eu não sabia pra onde ir ou o que fazer, eu me sentei no meio da rua e tudo ficou em silêncio. Quando eu abri os olhos a sua tia estava na minha frente tentando conversar e ela me levou até a sua casa, me serviu comida e conversamos bastante. Depois daquele dia eu passei a frequentar bastante lá e ela me convenceu a visitar a igreja. Meu encontro com Jesus foi no exato momento em que eu pisei lá e entendi todas as coisas.

Meus olhos estavam lacrimejando, e meu coração batia tão rápido naquele momento.

— Que lindo. Eu fico muito feliz por você ter o encontrado. Você parece uma pessoa incrível.

— Como você saberia? Não me conheceu hoje? — Ele diz e eu sorrio revirando os olhos.

Senti meu celular vibrar chamando minha atenção, Noah estava me ligando novamente.

Não atendi.

— Tudo bem?

— Vai ficar. — Eu digo

— Então, Elisabeth. Ouvi dizer que você sabe pintar quadros.

— É. Eu gosto muito, mas faz tanto tempo que não faço nada.

— E porque?

Mexi nervosa nos meus dedos, esse assunto era tão delicado que mexia muito comigo.

— Desculpa, se não quiser falar sobre isso. — Ele diz de forma rápida.

— Tudo bem. É só que é meio complicado.

— Então farei outra pergunta, certo?

Eu concordei.

— Tem alguma coisa sobre você que poucas pessoas sabem mas que você acha que é ou te faz especial?

— Caramba! Você foi profundo nessa.

— Eu tento haha.

Pensei um pouco antes de responder.

— A maioria das pessoas próximas a mim me chamam de Elis ou Elisabeth mesmo, mas eu sempre gostei muito de Eli.

— Porque?

— Parecia uma forma carinhosa de mostrar que sou importante. Foi mal, acho que não faz sentido.

— Faz sim. Eu entendo você.

Conversamos por mais um tempo até que finalmente chegamos em casa.

— Obrigada pela carona. Hoje foi diferente do que eu esperava.

— Imagina. Você sempre é bem vinda lá com a gente.

Comecei a tirar o cinto e a pegar minhas coisas, a chuva estava um pouco mais fina agora.

— Ah, espera um pouco. — Ele diz e sai do carro.

Observei ele dar a volta e abrir a porta para mim. Já deveria esperar isso mas mesmo assim, achei bem legal.

— Obrigada de novo.

— Que isso.

— Boa noite.

Eu começo a me distanciar dele e ir em direção a porta.

Foi uma noite muito diferente do que eu achei que seria, eu ate me esqueci do porque estava aqui e de tudo antes. Me sentia tão leve. Me diverti bastante com todo mundo.

Olhei para trás e Nicolas ainda estava parado do lado de fora do carro, esperando eu entrar. Eu me virei e acenei para ele mais uma vez.

— Até amanhã. — Eu digo.

— Até amanhã, Eli.

Fechei a porta ao entrar.

É, que noite estranha.

Os traços do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora