Eram 5 horas da manhã.
Diego notou uma certa diferença no seu cenário rotineiro. O vagão do metrô que embarcava todo dia, fazia 4 anos, não havia uma única pessoa. Estava sozinho. Claro, estava muito cedo então havia menos pessoas na estação, mas uma cidade grande como São Paulo fazia ser raro ver esse acontecimento.
Ele se sentou no banco da janela e colocou sua mochila no colo. A estação que embarcava era a primeira do trajeto, seu trabalho ficava na décima. Seriam longos trinta minutos até seu destino. Normalmente lia um livro, mas decidiu não o fazer, estava sonolento ainda, pois não bastava o horário que tinha que acordar, ainda cultivou o mau hábito recente de ir dormir tarde. Não olhava no celular também. Sabia que, como sempre, ninguém lhe mandara mensagem alguma. Desde a escola não cultivou nenhuma amizade, estava longe de ter uma namorada e morava sozinho. Agora, aos seus 20 anos, era apenas um amontoado ambulante de carne e ossos no mundo, que vivia apenas pelo simples hábito de viver, sem propósito ou objetivos aparentes.
Afastou aqueles pensamentos inúteis da cabeça, não podia se deixar entristecer logo pela manhã, para isso serviam suas madrugadas. Focou na janela suja e arranhada, lutando contra a embriaguez do sono. Então sentiu o metrô finalmente se locomover.
Estava quase voltando a adormecer quando ouvia um riso agudo e baixo a seu lado. Não deu muita importância, alguém que entrou deveria estar com o celular revirando alguma rede social. Então o estômago de Diego esfriou, quase como se engolisse granizo. Sentiu um olhar sob sua nuca, alguém o encarava. Então percebeu: a pessoa estava sentada a seu lado. Ficou confuso, não ouviu ninguém entrando, quanto mais sentando ao seu lado, no banco do corredor. Não sentiu qualquer movimento. A pessoa simplesmente estava lá e, para piorar, tinha certeza que o vagão ainda estava vazio quando saiu da estação, e ainda estava rumo a segunda estação. A pessoa entrou sem ele perceber? Não sabia mais.
Era uma garota. Notou isso enquanto virava lentamente sua cabeça e via suas pernas magras sob um jeans escuro, com uma mochila rosa pequena sobre suas coxas. Então viu sua camiseta violeta, seus braços eram magros e exibiam uma pele bastante clara, branca como uma folha de papel e, como tinha deduzido, um celular pendia em suas mãos. Enfim sentiu seus medos se tornarem realidade: ela realmente o encarava. Tinha olhos verdes-claros, um nariz pequeno e lábios finos. Seus cabelos loiros longos pareciam uma moldura para a obra de arte que era seu rosto. Presumiu que ela devia ter a mesma idade que ele.
— Estou te incomodando? — Sua voz, como percebeu no riso, era aguda e doce, como de uma princesa.
— Me...? Ah não... Não, não, de jeito nenhum! — Diego demorou para falar. Estava desnorteado ainda e demorou para entender a pergunta.
— Me desculpa, de verdade! Eu as vezes não tenho noção das pessoas ao meu redor... — Ela esboçava um leve sorriso de canto enquanto falava. Como ela era bonita.
— Não precisa se desculpar, é até bom eu me manter acordado. — Diego tentou transmitir gentileza pela sua voz, mas a menina apenas sorriu e virou a cabeça.
Se sentindo um idiota, Diego voltou a cabeça para a janela. O metrô parou na segunda estação, ninguém embarcou. Ele começou a pensar que devia ter acontecido alguma coisa no metrô, algum acidente ou coisa parecida, pois não havia ninguém lá fora, não haviam pessoas indo e saindo dos vagões, subindo e descendo as escadas da forma automática como todos os dias. Diego ficou esperando algum sinal sonoro para desembarcar, mas no máximo as luzes do vagão começaram a piscar, inclusive uma mais ao fundo do vagão se apagou.
— Você se sente solitário?
Diego se assustou. Quase esqueceu da garota do seu lado, novamente ele tinha aqueles olhos verdes o encarando, havia um sorriso leve de canto em seu rosto.
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As sombras de cada esquina
Short StoryNas ruas, no ônibus, no metrô, até no conforto de sua casa, todo lugar tem o potencial para acontecer histórias bizarras. Você encontrará quatro contos passados na cidade de São Paulo nesse livro,. Alguns mais leves, outros nem tanto. Os contos vão...