O ar estava carregado, a tensão quase visível. A luta entre Lucian e a figura encapuzada tornara-se uma batalha feroz, cheia de energia sombria que preenchia o ambiente com um calor sufocante. O chão tremia sob o impacto das forças que se chocavam, e a sala, antes iluminada pelas velas trêmulas, agora estava imersa em um nevoeiro negro, quase sobrenatural.Lucian se movia rapidamente, seus olhos fixos na figura que, com um sorriso cruel, desviava de seus ataques, como se estivesse brincando com ele. Mas a dor em seu rosto era inconfundível. A cada golpe, o corpo de Lucian parecia ceder um pouco mais à maldição, como se cada movimento fosse uma batalha contra sua própria natureza.
Elara estava caída no chão, as mãos tremendo enquanto ela tentava se levantar. O calor e a energia ao redor dela eram esmagadores, e ela sentia como se estivesse sendo puxada para o centro de tudo, para a escuridão que dominava Lucian. Mas ela não podia deixar isso acontecer. Não podia deixar a única pessoa que parecia se importar com ela sucumbir.
Com uma força que ela não sabia que possuía, Elara se levantou e caminhou até o centro da sala, os olhos fixos em Lucian e na figura. A escuridão ao seu redor parecia respirar, cada sombra querendo envolvê-la, mas ela resistiu, focando sua mente na única coisa que ainda a mantinha ali — Lucian.
"Lucian!" Ela gritou, a voz carregada de desespero. "Eu não vou deixar você sucumbir a isso!"
Ele parou por um momento, seus olhos se voltando para ela, com um olhar quase perdido, como se não a reconhecesse mais. O que restava do homem por trás da maldição parecia se apagar a cada segundo, e Elara soube que, se não fizesse algo, ele se perderia para sempre.
"Elara, você não entende," Lucian disse, sua voz rasgada pela dor. "Eu... Eu não sou mais o mesmo. Eu sou apenas um reflexo do que era, e nada do que você fizer vai mudar isso."
Mas Elara não podia aceitar aquilo. Ela não podia deixar Lucian se perder. Ela se aproximou dele, sentindo a pressão da energia que o cercava, tentando tomar conta dela também. "Eu não vou acreditar que você está perdido. Eu não vou acreditar que você é apenas a maldição."
A figura encapuzada observava a cena com um sorriso cruel, como se estivesse vendo um espetáculo em que todos os envolvidos estavam destinados ao fracasso. "Você é ingênua, Elara. A maldição de Lucian não pode ser derrotada. Ela consome tudo, até mesmo a última chama de esperança."
Elara não hesitou. Ela estendeu a mão em direção a Lucian, seus dedos quase tocando a pele dele. "Eu escolho lutar por você. Eu não vou permitir que a escuridão te consuma."
O olhar de Lucian se suavizou por um momento, uma fração de segundo em que ele parecia lembrar quem era. Mas logo a escuridão tomou conta de seus olhos novamente, e ele afastou sua mão de Elara, como se fosse o único gesto que poderia fazer para salvá-la de si mesmo.
"Você não pode lutar contra isso, Elara," ele sussurrou. "Eu sou a maldição, e a maldição é tudo o que sou."
A figura encapuzada avançou, as sombras se contorcendo em torno dela, mais fortes e mais vorazes a cada passo. "Lucian, você já sabe o que fazer. Aceite seu destino. Aceite o que você é."
Mas Elara não recuou. Ela já estava comprometida com aquilo, com ele. Ela sabia que o preço seria alto, mas não importava. Ela estendeu a mão novamente, mais firme desta vez. "Eu escolho a minha própria verdade, Lucian. E escolho você."
Antes que Lucian pudesse protestar ou impedir, Elara tocou seu peito. Uma onda de calor e energia percorreu seu corpo, como se estivesse tocando algo muito profundo, muito primal. Ela sentiu uma conexão com ele, algo além da maldição, algo que transcendia o sofrimento que ele carregava.
A energia ao redor deles explodiu em uma onda de luz intensa. A figura encapuzada gritou em raiva, mas antes que pudesse reagir, foi consumida pela luz. A escuridão recuou por um momento, deixando a sala em um silêncio profundo.
Lucian olhou para Elara, seus olhos agora clareando, como se ele estivesse vendo algo que não via há muito tempo. Ele respirava com dificuldade, como se a luta tivesse drenado o último resquício de força dele.
"Você fez isso," Lucian sussurrou, a surpresa e a admiração em sua voz. "Mas... você não sabe o que acabou de fazer."
Elara olhou para ele, ainda sentindo o calor da conexão entre eles. "Eu sei, Lucian. Eu sei que fiz a escolha certa."
Mas as palavras dele ficaram penduradas no ar. O que quer que ela tivesse feito, a escuridão não a deixaria ir tão facilmente. O preço pela escolha de Elara já estava sendo cobrado.
"Você ainda não entende, Elara," Lucian disse, sua voz quase um sussurro. "A maldição não foi só minha. Agora, ela é sua também."
Antes que Elara pudesse reagir, a sala foi tomada por uma onda de dor insuportável, e o chão pareceu desabar sob seus pés. O último suspiro de escuridão os envolveu, e tudo ficou em silêncio.
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Between shadows and desires
General FictionLucian sempre foi um homem marcado pelo silêncio. Frio, distante, ele se movia entre a elite da cidade sem nunca deixar que ninguém se aproximasse de verdade. Tinha segredos antigos, cicatrizes que ninguém via, mas que estavam presentes em cada olha...