capítulo 2 - o peso da angústia

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O despertador tocou às seis da manhã, mas eu já estava acordada, encarando o teto. Os olhos inchados e a sensação de vazio no peito me lembravam de como havia chorado na noite passada, sem razão aparente. Eu costumava dormir bem, mas naquela noite, algo me mantinha inquieta, e o sonho perturbador com o BTS ainda dançava na minha memória como um pesadelo que não queria desaparecer. Senti o mesmo peso no peito que tinha sentido ontem, mas dessa vez era mais denso, mais escuro. Algo estava errado. Eu só não sabia o quê.

Respirei fundo, tentando me convencer de que era só a ansiedade para o show. Meu quarto, com pôsteres do BTS nas paredes e objetos do grupo espalhados por todos os cantos, parecia me observar em silêncio, como se até as imagens deles tivessem algo para dizer. "Está tudo bem, Helena", eu murmurava para mim mesma enquanto levantava, como se as palavras pudessem convencer meu coração a parar de doer tanto.

Me vesti devagar, optando por uma roupa simples: jeans, camiseta e um moletom, já que o tempo estava frio por causa da chuva de ontem. Fui até a cozinha para tomar um café antes de sair, mas o sabor amargo só aumentou meu desconforto. Eu queria ver as meninas. Talvez o riso delas ajudasse a dissipar essa sensação.

Na cafeteria, encontrei todas elas reunidas, como sempre. Letícia acenou animada e Maria Eduarda sorriu ao me ver. Estavam falando animadamente sobre os detalhes do show no Brasil e como seria finalmente ver o BTS ao vivo.

“Helena, você está com uma cara de sono! Não durmiu bem?”, Mirella perguntou, notando meu olhar perdido.

Dei um sorriso forçado e dei de ombros. “Só um pesadelo idiota”, respondi, tentando soar despreocupada. Mas a preocupação de Laila não se desfez. Ela era a mais perceptiva, e sempre sabia quando algo me incomodava. “Você está bem, de verdade?”, insistiu.

Assenti. “É só ansiedade. Falta uma semana, né?”, murmurei. De algum jeito, dizer aquilo me deixou ainda mais ansiosa.

O dia passou devagar. Cada aula parecia durar uma eternidade, e por mais que minhas amigas tentassem me animar, o aperto no peito não me deixava em paz. Durante uma das aulas, olhei para o céu pela janela e vi as nuvens se movendo lentamente, escuras, carregadas. A chuva voltou a cair, e as gotas escorriam pelo vidro, como lágrimas que eu tentava conter. Não conseguia explicar, mas sentia como se algo terrível estivesse prestes a acontecer.

Quando finalmente nos despedimos, o peso no peito já se tornara um incômodo constante. Me despedi das meninas e segui para casa, torcendo para que meus pais conseguissem me distrair um pouco.

Em casa, encontrei meu pai na sala, assistindo televisão, como sempre fazia depois do trabalho. Ele me deu um sorriso caloroso e perguntou sobre meu dia. Meus pais sempre foram um apoio incondicional, e eu sabia que podia contar com eles para qualquer coisa.

“Mãe está na cozinha?”, perguntei, tentando parecer mais animada do que realmente estava. Ele assentiu e voltou a prestar atenção ao programa de esportes.

Na cozinha, minha mãe estava preparando o jantar. Ela era meu porto seguro, e assim que a vi, um pouco da angústia se dissipou. Ficamos conversando enquanto ela cozinhava, e aproveitei para desabafar um pouco sobre a ansiedade para o show e a estranha sensação que me perturbava desde a manhã. Ela ouviu com paciência, como sempre, me tranquilizando com palavras que me traziam algum conforto.

Jantamos juntos, conversando sobre coisas triviais, e aquele momento com minha família parecia ser o que eu precisava para acalmar meu coração. Me despedi deles e fui para o quarto. Depois de um banho quente, me deitei, e o cansaço finalmente tomou conta de mim.

Horas depois, um Despertar Assustador

O barulho do silêncio da madrugada parecia mais intenso naquela noite. Meus olhos se abriram subitamente, e senti a mesma angústia de antes. Era como se algo me chamasse. Levantei devagar, o coração acelerado sem razão. Andei pelo corredor em direção à cozinha, passando pelo quarto dos meus pais, que dormiam tranquilamente.

Ao chegar à cozinha, enchi um copo com água, tentando acalmar o turbilhão de pensamentos em minha mente. Mas o que realmente me deixava angustiada era que, cada vez que me acalmava, a sensação de que algo estava errado voltava com mais força.

Voltei para o quarto com o copo vazio na mão. Quando me deitei, olhei o celular apenas para verificar as horas, mas a tela estava cheia de notificações. Sem entender, destravei o aparelho e vi uma mensagem da Letícia no grupo das meninas.

“Helena, você viu? Meu Deus, diz que não é verdade!”

Abri o aplicativo e, com mãos trêmulas, li a mensagem dela. “Meninas… o BTS...”

Engoli em seco. Havia um link para uma notícia no X. Senti minhas mãos ficarem frias e cliquei.

Ali estava o pesadelo mais terrível que jamais imaginei viver. “BTS é vítima de ataque a tiros em Los Angeles.” A notícia explicava que o grupo, ao sair do show, tinha sido abordado no estacionamento do estádio por oito homens armados. Antes que os seguranças do grupo pudessem reagir, os homens dispararam contra eles, fazendo com que os seguranças caíssem, e a van do grupo fosse cercada. Eles ordenaram que todos saíssem do veículo.

Senti o coração parar quando li que, um a um, eles foram alvejados enquanto tentavam se levantar e entender o que estava acontecendo. Em câmera lenta, a notícia detalhava como Jungkook, ao ser baleado, conseguiu murmurar uma última palavra antes de morrer: ARMY. Tudo havia sido registrado pelas câmeras de segurança, capturando os últimos momentos deles em imagens que jamais sairiam da minha cabeça.

Soltei o celular e caí de joelhos, sem ar, sem forças. Minha mente não conseguia processar o que tinha acabado de ler. Eu gritava em silêncio, sem conseguir emitir som algum, uma dor que vinha da alma, muito mais profunda do que qualquer outra coisa que eu já havia sentido. Era como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado brutalmente, e tudo o que restava era o vazio.

“Não… não, isso não pode estar acontecendo!” A voz escapou, trêmula e baixa. As lágrimas desciam pelo meu rosto, incontroláveis, queimando minhas bochechas enquanto a dor crescia no peito. Senti um desespero tão intenso que queria gritar, mas só soluços conseguiam sair.

As imagens dos rostos sorridentes deles voltaram à minha mente, me atormentando, lembrando-me do sonho que eu tivera. Era como se, de alguma forma, eles tivessem tentado se despedir naquela última live, aquele último tchau, ARMY que agora parecia um adeus definitivo. Eu soluçava, o corpo inteiro tremendo, e a única palavra que conseguia dizer era "Por quê?"

O BTS não era apenas um grupo de música. Eles eram inspiração, eram força, eram tudo o que nos mantinha unidos e nos ajudava a acreditar. Eles estavam prestes a vir para cá, para o Brasil, para nos ver, para nos dar o show que nós sonhávamos. E agora… agora tudo tinha sido tirado de nós. Meu peito doía de forma insuportável, como se um buraco negro tivesse se aberto ali, consumindo tudo ao redor.

Enrolei-me na cama, abraçando o travesseiro enquanto meus soluços preenchiam o quarto escuro. A sensação de perda era tão devastadora que eu nem sabia como seguir em frente. Tudo o que conseguia pensar era nas imagens deles caídos, das palavras que Jungkook tentou dizer. E em meu coração, as últimas palavras dele ecoavam, como um lembrete cruel: ARMY.

Foi assim que passei o resto da madrugada, entre soluços e uma dor impossível de descrever.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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