Enquanto o sol se punha e as luzes alaranjadas da cidade iluminavam o horizonte, o beco clandestino tomava um ar sombrio. Barracas improvisadas e tendas cobertas de lona enfileiravam-se de maneira desorganizada, cada uma exibindo itens peculiares e proibidos: medicamentos sem prescrição, componentes eletrônicos de segunda mão, e outras peças de origem duvidosa. O ambiente era cheio de figuras estranhas – homens e mulheres com capuzes gastos, olhares desconfiados, e risos que exibiam sorrisos com dentes faltando. Alguns passavam por Marqueza e Christy erguendo as mãos deformadas ou incompletas, tentando assustá-las. Mas as duas caminhavam com passos leves e descontraídos, ignorando as tentativas de intimidação, misturando risadas ao som abafado do beco.
— O que tem na lista, mesmo? — pergunta Christy, tentando não rir do estado precário das mercadorias ao redor.
Marqueza para, saca um papel dobrado do bolso e começa a ler em tom quase professoral: — Bom, só o essencial: armações de óculos; lentes transparentes; microdisplay; câmera; um microcontrolador... — Ela prossegue listando com entusiasmo cada item: processador, bateria, sensores de movimento, microfone, alto-falante, até GPS e um sensor de batimentos cardíacos.
— Pouca coisa, né? — diz Christy com um sorriso de canto, arqueando uma sobrancelha.
— Só o básico — responde Marqueza com falsa modéstia. — Tudo o que se precisa para um óculos inteligente de qualidade.
— Sabe, você podia comprar isso tudo pela internet, né? — provoca Christy.
— Aí seria fácil demais — diz Marqueza, revirando os olhos. — Não quero deixar rastro. Com a minha família, os espiões estão sempre de olho.
— E têm certeza de que você tá no campus agora, né? — Christy sorri, já imaginando a resposta.
Marqueza exibe um sorriso travesso. — Manipulei as câmeras da cidade. Foi coisa boba.
— Ah, a boa e velha Marqueza Bispo — murmura Christy com um olhar de admiração.
— E quanto vai custar essa pequena aventura? — pergunta Christy, fingindo interesse financeiro.
— Uns R$50.000,00... ou mais. — Marqueza diz como se fosse uma bagatela.
— E você já tem esse dinheiro, claro — Christy levanta uma sobrancelha, desafiadora.
— Mas é óbvio! Peguei da conta da minha avó. A chefe da Família Bispo nem vai notar que esse troco sumiu — diz Marqueza, sorrindo com orgulho.
— E como não vão rastrear isso? — Christy olha a amiga com uma mistura de incredulidade e diversão.
— Fácil! Comprei um Bitcoin usando a conta dela e agora tá tudo na minha carteira. Amanhã cedo já estará irreconhecível nos registros — explica Marqueza, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
Ao final do beco, avistam uma loja que se destaca do resto: uma espécie de armazém eletrônico, com itens de tecnologia que parecem até mais organizados que as barracas improvisadas ao redor. Luzes de LED piscam na vitrine, criando um contraste moderno com a sujeira e a desordem do mercado clandestino.
— É aqui. Devemos achar tudo o que precisamos — diz Marqueza, guiando Christy para dentro.
No interior da loja, o ambiente é mal iluminado, e as prateleiras estão lotadas de peças soltas, desde baterias até câmeras e telas. Os clientes que vagueiam pelo local têm rostos duros e olhares calculistas. O vendedor, um homem de rosto mal-humorado e barba malfeita, observa as duas com ceticismo.
— O que duas meninas fazem num lugar como esse? — pergunta ele, a voz carregada de desdém. Os clientes ao redor riem, mas logo o sorriso se esvai de seus rostos quando sentem a presença intimidante de Marqueza e Christy. Uma aura de poder parece envolver as duas, quase palpável, fazendo com que todos se afastem um pouco e abaixem os olhos.

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Raro Diamante
SeramA linha tênue entre a sanidade e a insanidade. O que reside além do véu da realidade? São as vozes que ecoam em nossas mentes frutos de uma mente perturbada ou sussurros de um mundo oculto? A história se repete: relatos de possessões, visões e exper...