O silêncio dentro do carro era desconfortável, a única coisa que cortava o vazio era o som dos pneus rugindo contra a estrada. Roy dirigia mecanicamente, seus olhos fixos na estrada à frente, mas sua mente estava distante.
Riza olhava para ele de relance, tentando encontrar uma maneira de quebrar o silêncio que pairava entre os dois. Ela queria dizer algo, qualquer coisa que o fizesse olhar para ela, mas sentia que não havia palavras para aliviar a dor que Roy carregava.
— Coronel... você quer conversar sobre o que aconteceu? — ela perguntou suavemente, sua voz um sussurro que tentava invadir o turbilhão silencioso que Roy havia se tornado.
Mas ele não respondeu. Não agora, não enquanto a raiva e o desespero o consumiam por dentro. A estrada à sua frente parecia um borrão, como se ele estivesse dirigindo em um pesadelo.
— Eu... não posso acreditar que fui embora. Que eu a deixei sozinha... ela e o nosso filho — Roy murmurou, sua voz quebrada. Ele apertou os dentes, a raiva intensificando-se dentro dele — Se eu tivesse ficado... talvez as coisas não teriam terminado assim.
Riza engoliu seco. Ela sabia que Roy era um homem de muitas convicções, mas nunca tinha visto ele tão... vulnerável.
— Roy... — ela começou, hesitante — Você não pode pensar assim. Não pode se culpar.
— Eu sou casado há mais de dois anos — ele disse, sua voz soando fria — Ela estava esperando o nosso primeiro filho. E eu... eu fui atrás do cargo de coronel. Eu fui atrás ser o Führer. O maior erro da minha vida — ele cuspiu.
Riza franziu o cenho. Ela sabia que Roy tinha grandes ambições, mas ver uma realidade onde ele desistiria de sua família por isso era algo que ela não conseguia compreender totalmente. Ele nunca havia falado sobre isso de maneira tão crua, tão cheia de arrependimento.
— Você tem um plano, Roy — Riza disse, sua voz firme, com a confiança de quem acreditava nas escolhas do coronel, mesmo que ele estivesse perdendo a esperança naquele momento — Você sempre teve. O Führer não é apenas sobre poder, é sobre você fazer o que é necessário para proteger as pessoas.
Roy não respondeu. Ele se manteve em silêncio.
Eles chegaram ao quartel em silêncio.
Roy entrou no quartel com a expressão fechada, os ombros tensos e o olhar distante. Riza o seguiu, observando-o em silêncio, sabendo que ele não estava em condições de falar. Quando ele chegou à sua sala, parou na porta, olhou para ela e, com a voz baixa e séria, deu uma ordem.
— Riza... eu preciso que você descubra o que aconteceu com Miya e Saki. Tudo que conseguir. Não importa o que seja. Eu preciso dessas respostas.
Ele fez uma pausa, seu olhar distante e fixo em algum ponto no corredor. — Procure em todos os lugares. Eles estão lá. Eu sei que estão. — Sua voz estava baixa.
Riza, sem dizer uma palavra, apenas assentiu, e ele se virou para entrar na sala, trancando-se rapidamente. O som da chave girando na fechadura ecoou pelo corredor vazio.
Ela se dirigiu para a sala de arquivos, seu corpo movendo-se quase mecanicamente. O ambiente estava silencioso, com o cheiro da poeira acumulada nas prateleiras e os papéis espalhados pela mesa. Ela sabia que, com o cargo de Roy, ela teria acesso aos documentos que ele nunca questionaria, mas que, agora, ela precisava vasculhar.
No computador da sala, os registros sobre Miya e Saki começaram a ser acessados. Os primeiros documentos eram sobre o parto de Miya, em um hospital comunitário. Anexada a eles estava uma foto da mulher, sorrindo com o recém-nascido em seus braços. Uma imagem de felicidade, mas Riza sentiu que algo estava errado.
Na página seguinte, o atestado de óbito do bebê. "Morte por complicações relacionadas a convulsões", estava escrito em letras frias. O relatório explicava que os médicos não conseguiram reanimá-lo a tempo. Saki Mustang havia falecido ainda muito pequeno. Riza leu as palavras, um nó apertando sua garganta. Não sabia o que pensava sobre aquilo — não sabia nem o que dizer para Roy quando fosse entregar os documentos.
Mas o pior ainda estava por vir. O que mais a deixou em choque foi o vazio depois daquela página. Não havia mais registros sobre Miya. O sistema interrompia os dados ali. O que acontecera com ela? Por que não havia mais informações? Onde estava Miya depois da morte do filho?
Riza imprimiu os documentos e respirou fundo. Ela sabia que Roy precisava saber a verdade, por mais dolorosa que fosse. Não havia mais o que fazer.
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Além da Chama - Roy Mustang
FanfictionComo você lida com o luto? Com a perda? Com o vazio que fica depois que tudo desmorona e nada parece ser o suficiente para preencher? Roy Mustang encara esses sentimentos no seu estado mais cru e sombrio, enquanto a vida segue indiferente à sua dor...