Riza hesitou por um instante diante da porta do escritório. Quando finalmente tocou na madeira, esperou em silêncio. Do outro lado, a resposta foi lenta. Roy abriu a porta apenas o suficiente para que ela pudesse entrar. Sua expressão era um misto de exaustão e dor, um olhar perdido, como se estivesse em algum lugar distante.
Ela entrou e entregou os papeis a ele. Roy voltou a se sentar atrás da mesa, pegando os documentos com as mãos trêmulas. Riza permaneceu em pé, observando o homem que sempre foi seu superior. Ele começou a ler as informações, e o silêncio na sala se tornou quase insuportável.
Os olhos de Roy percorreram as palavras, e a tensão em sua expressão se acentuou. Ele engoliu seco, sentindo um nó se formar em sua garganta. A notícia era clara: Miya estava desaparecida e, antes disso, havia dado à luz Saki, o filho que ele esperava conhecer. Mas a criança não sobreviveu. O óbito estava registrado ali, na página seguinte.
Ele fechou os olhos, deixando os papéis caírem sobre a mesa. O sentimento era uma mistura amarga de perda e arrependimento. Em silêncio, ele levou uma mão ao rosto, tentando conter as lágrimas que insistiam em surgir. A culpa o sufocava. Ele havia partido, acreditando que estava fazendo o melhor ao seguir sua carreira. Mas agora, nada disso parecia importar.
— Eu... — Roy começou a falar, mas a voz falhou. Ele respirou fundo, tentando se recompor. — Eu não devia ter ido embora. Eu deveria ter ficado.
Riza, apesar de acostumada com a postura forte de Mustang, nunca o tinha visto assim. Ela não sabia o que dizer. Sabia que qualquer palavra agora pareceria vazia.
— Coronel... você fez o que achou que era certo. E ainda há um caminho pela frente. Você ainda tem um plano.
Roy balançou a cabeça, sem conseguir responder. Olhou para os papéis novamente, sentindo como se o peso deles o esmagasse. O futuro que ele tinha imaginado, a vida que ele esperava ter com Miya e o filho... tudo isso havia desmoronado.
Ele não conseguiu falar mais nada. Apenas assentiu, um gesto quase imperceptível, antes de se levantar e caminhar até a janela, virando-se de costas para Riza. Ela entendeu o sinal. Sem dizer mais nada, ela se retirou da sala, deixando Roy sozinho
Lá fora, o céu já havia trocado seus tons vibrantes pelo azul escuro. Roy se apoiou no parapeito da janela, observando o sol desaparecer atrás das montanhas. Antes, ele se permitia sentir paz ao ver o pôr do sol; era uma lembrança de dias melhores, uma promessa de que sempre haveria um novo amanhecer. Mas agora, nada disso fazia sentido.
Não havia mais felicidade em estar ali, vivo. A vontade arrebatadora de ver Miya e a esperança de conhecer seu filho foram arrancadas dele. O vazio era insuportável, e ele percebeu o quão cruel o destino podia ser. Ele se sentia preso em uma ironia amarga: tinha se tornado Coronel, alcançado o que sempre sonhou, mas a um preço que nunca imaginou pagar.
Roy fechou os olhos, o peito apertado pela culpa. Tudo o que restava eram promessas quebradas, sonhos desfeitos. Ele nunca teve a chance de segurar seu filho, de ouvir o riso de Miya ao lado dele. As lembranças do futuro que planejaram agora eram uma ferida aberta.
— Eu falhei com eles... — ele sussurrou para si mesmo, o som da própria voz quebrando o silêncio da sala. Ele queria gritar, mas sua voz saiu apenas como um lamento abafado. Não havia ninguém para ouvi-lo ali, além das paredes frias e da noite que caía.
E talvez isso fosse o pior.
A solidão.
Roy se afastou da janela, os passos pesados, como se cada movimento exigisse um esforço monumental. Ele voltou para sua mesa, os papéis ainda espalhados. O nome de Saki Mustang parecia gravado em sua mente, como um lembrete constante de sua falha.
Ele deslizou os dedos pela foto anexada ao prontuário. Era uma imagem simples, mas carregava o peso do que ele nunca teria: Miya sorrindo, os olhos brilhando de alegria, e o pequeno bebê em seus braços. Mesmo na imagem, ela parecia frágil, mas feliz. Como ele poderia ter permitido que algo assim escapasse por entre seus dedos?
A dor era quase física agora, irradiando de seu peito como uma lança que o atravessava. Ele respirou fundo, mas o ar parecia faltar, pesado demais para seus pulmões.
Sentou-se, levando as mãos ao rosto, e permitiu que as lágrimas caíssem, silenciosas e amargas. Ele não chorava por si mesmo, mas pelo filho que nunca conheceria, pela esposa que não pôde proteger.
E pela felicidade que ele jamais sentiria de novo.
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Além da Chama - Roy Mustang
Fiksi PenggemarComo você lida com o luto? Com a perda? Com o vazio que fica depois que tudo desmorona e nada parece ser o suficiente para preencher? Roy Mustang encara esses sentimentos no seu estado mais cru e sombrio, enquanto a vida segue indiferente à sua dor...