Callíope

Capítulo 1

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Callíope Corbin estava dormindo pacificamente quando sua irmã entrou correndo no quarto.

Ao acordar, perguntou assustada:
- Por deus, Thalasse! O quê aconteceu?
- Ele chegou.- respondeu a irmã mais nova.
- Agora? Ainda não é hora! - Exclamou.

Callíope levantou num pulo e começou a se vestir. Não era nem de manhã ainda, o que o noivo fazia já na cidade?

- Acorde o comitê de boas-vindas, quero eles prontos em dez minutos.- disse, penteando o cabelo e escovando os dentes simultaneamente.

- É sinceramente impressionante o jeito com o qual você consegue impor respeito mesmo quando há tanto caos à sua volta - Disse Thalasse ao passar pela porta.

Seu casamento estava para acontecer em algumas semanas, mas ela praticamente implorou ao pai para deixá-la conhecer o futuro marido antes do evento. Ela não fazia ideia de como nem porquê seu pai permitiu, mas sabia quê tinha algo errado. Ele estava planejando alguma coisa.

O Rei Callisto era muitas coisas, mas bom e compreensível não estavam incluídos nessa lista. Ele era mentiroso, cruel e amargo.

Callíope fez um penteando nos cabelos cacheados, vestiu um de seus vestidos favoritos -um vermelho-sangue com corpete justo decorado com bordado dourado e saia incrustada com pedras preciosas e lantejoulas que se intensificavam em algumas poucas camadas que ficavam cada vez mais escuras, formando um efeito degradê maravilhoso- pôs sapatilhas douradas delicadas e uma tiara combinando na cabeça.

Olhando-se no espelho parecia uma princesa. Era uma princesa, seu pai a teria lembrado.

Para quem vê de fora, as palavras do pai poderiam ser reconfortantes e carinhosas, porém Callíope sabia que era mais uma forma de manipular e controlá-la.

Antes de sair aproveitou que um criado, em algum momento, deixou uma xícara de chá e biscoitos na mesa perto da porta e se alimentou.

O chá estava com um gosto estranho,  mas mesmo assim tomou tudo. Não seria nada elegante se, quando ficasse cara-a-cara com o noivo, a sua barriga estivesse roncando.

Mergulhou escada abaixo, tomando cuidado para não tropeçar no vestido, e se posicionou ao lado do pai para, finalmente, conhecer seu noivo.

- Está atrasada. - Criticou o rei Callisto.

- Desculpe pai.

- Apresentando vossa majestade, o príncipe Sulien Olivander!

Callíope ficou instantaneamente nervosa. Tivera um mês inteiro para imaginar a aparência do noivo, porém não pensou em nada convincente o suficiente para um príncipe rico e poderoso como Sulien Olivander.

Ao perceber isso, tentou pensar em sua personalidade. De acordo com as cartas que ele lhe enviara, Sulien parecia do tipo que era carinhoso e amável com seus amigos e familiares, mas firme e sério quando necessário.

Por ser um casamento arranjado Callíope não esperava que ele mostrasse uma personalidade doce logo de cara, mas, lá no fundo, tinha esperanças de que com o tempo os dois fossem se apaixonar e viver felizes longe do pai e de Elysium.

Ela já chegou a amar o reino em que crescera, mas quando o pai se tornou rei, a última coisa que queria era permanecer ali.

E ela sabia que a sua fantasia de um "felizes para sempre" ideal era praticamente impossível. O noivo teria que ser um anjo entre mortais para isso ser possível. Sem falar no fato de que ela ainda teria que aguentar as semanas anteriores ao casamento.

Aí ela o viu.

Ele tinha sobrancelhas grossas, sua pele era em um tom oliva e seus olhos, afiados como os de um falcão, estavam direcionados à ela. Seu cabelo castanho-escuro caindo nos olhos o dava um quê de mistério.

Ele poderia não ser a pessoa mais bonita que ela já viu na vida, mas ela não conseguia tirar os olhos dele. Algo em seu olhar disse à Callíope que ele sabia disso.

Porém, antes que ela pudesse vê-lo mais de perto, Callíope sentiu uma tontura, sua visão ficou turva e suas pernas bambas.

Seu pai e o noivo trocaram algumas palavras, mas ela não as ouviu.

Antes que ela percebesse ela já estava no chão.