Cap.3: Sombras do perdão

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Após quatro dias de recuperação, Pomfrey finalmente me deu alta. Não que eu estivesse ansioso para deixar a enfermaria – a paz ali, embora monótona, era um alívio em comparação ao caos e à hostilidade que provavelmente me aguardavam do lado de fora.—
Apesar de tudo, uma certa inquietação dentro de mim me empurrava para longe daquele lugar; afinal, o trabalho ainda não estava concluído, e as sombras da guerra ainda se arrastavam pelos corredores de Hogwarts.

Esses dias, no entanto, foram repletos de visitas inesperadas.
Harry Potter, para minha surpresa, veio me ver em diversas ocasiões.
Ele me contou que o Ministério havia me inocentado, considerando as memórias que eu entregara a ele e que ele, por sua vez, entregou à justiça.
Mesmo assim, como era de se esperar, alguns bruxos ainda viam minha absolvição com desconfiança.
Afinal, eu era um oclumente —e, portanto, naturalmente suspeito aos olhos daqueles que nunca confiaram em mim.—

Essas memórias, marcadas com a verdade dos meus atos, haviam sido a prova da minha lealdade, mas nem todos acreditariam.
Minha permanência em Hogwarts, para eles, era uma ameaça que preferiam não enfrentar.

Saio da enfermaria e caminho pelos corredores silenciosos da escola.
Cada passo ecoa nas paredes de pedra, e a sensação de estar de volta a esses corredores vazios, tão marcados pela guerra, desperta em mim uma mistura de sentimentos.
Alguns professores partiram; outros, os poucos que restam, olham-me com cautela.

Estou tão absorto em meus pensamentos que quase não percebo a figura que se aproxima. Quando me dou conta, vejo Remus Lupin caminhando em minha direção.
Ele parece ligeiramente surpreso, como se não esperasse me ver tão cedo.

Em sua mão, ele segura uma rosa vermelha — o que, para ele, é inusitado.— Uma escolha sentimental, tipicamente pouco prática para um homem como Lupin.
Pergunto-me, sem querer admitir, se aquela flor é para Ágatha.

Ele para diante de mim e me lança um olhar que mistura surpresa e constrangimento, como se tivesse sido pego em flagrante.

— Viu um fantasma? — pergunto, com a seriedade que uso para esconder a leve curiosidade que, contra a minha vontade, se agita dentro de mim.

Ele franze o cenho, tentando disfarçar o embaraço, e responde:

— Não... — Ele hesita. — Só... não esperava vê-lo andando por aí tão cedo.

Eu o observo em silêncio por um momento, tentando desvendar o que passa pela mente dele, mas logo decido que não vale o esforço.
Com um aceno curto, faço menção de me afastar.

— Entendo... — murmuro, já me virando para continuar meu caminho.

Desta vez, ele não se contenta em deixar o assunto morrer.

— Severus — ele chama, e, contra minha vontade, paro.

Me viro lentamente e o encaro, esperando que ele continue.
Ele parece escolher as palavras cuidadosamente.

— Você vai voltar a dar aulas?

Solto uma risada amarga, que ecoa pelo corredor vazio.

— Não depende de mim, Lupin, O que quer que o Ministério e alguns dos nossos estimados colegas de trabalho pensem de minha permanência aqui será o fator decisivo, não eu.

Lupin baixa os olhos, parecendo desconfortável com a situação.
Ele abre a boca para responder, mas fecha-a rapidamente, como se não encontrasse as palavras certas.
Finalmente, ele suspira e encara-me novamente.

— Eu... Sei que não confiei em você antes — admite. — Mas... reconheço que estava errado, Vi o que você fez, o que passou para manter a escola, e... para salvar Harry. Eu respeito isso.

Suas palavras, embora sinceras, despertam em mim uma irritação silenciosa.
Não espero que alguém como ele compreenda o que significa carregar o peso de escolhas erradas.
Não espero compreensão, muito menos respeito.
Isso sempre foi irrelevante para mim.

— Aprecio sua sinceridade, Lupin — respondo, com um toque de sarcasmo. — Embora um pouco tardia, não acha?

Ele permanece em silêncio, e por um momento vejo um lampejo de algo parecido com culpa atravessar seu rosto.
Ele abre a boca, hesitante.

— Severus... — Ele faz uma pausa. — Sinto muito, Por tudo, Especialmente por Ágatha.

Meu corpo enrijece ao ouvir o nome dela.
Tão típico de Lupin, esconder-se atrás de desculpas e sentimentalismos.
Minha voz sai com um tom cortante:

— Não fale o nome dela, Lupin!, Não precisa fingir que compreende o que é lealdade, Acredite, você nunca será capaz de entender.

— Não estou fingindo, Eu... a respeito, Severus, E acredito que ela sente o mesmo por você, mesmo que você não acredite nisso.

Sinto meu sangue ferver.
Essa conversa, para mim, já havia ido longe demais.

— Você é patético, Lupin — murmuro, mordaz. — E me pergunto se essa rosa que carrega é para ela... ou é um truque sentimental para convencer a si mesmo de que a respeita.

Eu sabia dos sentimentos que Lupin nutria sobre Ágatha e preferia acreditar que ele nunca a machucaria, mas tenho minhas dúvidas.

Ele hesita, parecendo desconcertado, e vejo uma leve irritação em seus olhos.
A intensidade em seu rosto se mistura com algo que beira o ressentimento.

— Severus, eu só queria dizer que ela se importa com você, Muito mais do que você talvez perceba, Ela acredita em você.

— Acredito que já ouvi o suficiente, Lupin — respondo, minha voz um sussurro amargo.

Sem mais palavras, giro nos calcanhares e continuo meu caminho para o meu quarto, sentindo o peso daquela conversa esmagando meus pensamentos. Mesmo depois de anos, a presença de Lupin ainda consegue me provocar uma irritação visceral, algo que mistura rancor, desprezo e uma dose incômoda de curiosidade.

Ao finalmente alcançar meu quarto, fecho a porta e me sento na beirada da cama, soltando um suspiro exausto.
Abro meu caderno de anotações e tento me concentrar nas tarefas que tenho pela frente —os planos para as aulas, as proteções que Hogwarts ainda necessita e os preparativos para o que quer que Voldemort possa estar planejando.—

Mas, mesmo enquanto leio, sinto minha mente vaguear de volta para a conversa com Lupin, para a rosa em suas mãos e para o nome que ele mencionou.

Ágatha Black.

Lembrar dela desperta uma confusão de sentimentos dentro de mim: gratidão, admiração, e, acima de tudo, uma raiva quase irracional.
Ela me salvou, sim, mas o quando eu pedi para ser salvo? Depois de tudo o que aconteceu, depois de tudo que passei, ela achou justo roubar de mim o descanso que eu havia conquistado?

E, no entanto, enquanto essas emoções borbulham dentro de mim, sinto também uma sombra de algo que odeio admitir: um senso de alívio.
Ela se importa, Lupin dissera.m, E eu me pergunto se, no fundo, em algum canto escuro da minha mente, eu também me importo com ela.

Mas essa linha de pensamento é perigosa e inútil.
A guerra ainda não acabou.
Voldemort ainda está lá fora e mesmo que eu me importe, isso não muda o fato de que essa fraqueza pode ser exatamente o que pode me destruir.

Dou um suspiro profundo e volto meus olhos para o caderno de anotações.

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⏰ Última atualização: 8 hours ago ⏰

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