Marcas da Redenção - Snape's Vision

Cap.2: A negação da paz

Apenas alguns segundos...
Eu me lembro apenas de alguns segundos de Ágatha Black inclinada sobre mim, com o rosto marcado por um misto de preocupação e determinação. Depois disso, apenas o vazio.
Eu me afundei em uma escuridão profunda, uma escuridão que me acolhia, trazendo consigo uma paz sombria, fria e quase libertadora.

Minha consciência parece flutuar em algum lugar entre o vazio e as sombras.
Sinto como se houvesse algo segurando meus pés, impedindo-me de seguir adiante, de finalmente encontrar descanso. Mas, ao mesmo tempo, há uma parte de mim que se agarra desesperadamente a esse limiar, a essa névoa espessa de memórias e sensações que não consigo controlar.
E então, em meio a essa incerteza, uma a uma, as lembranças começam a emergir — fragmentos desconexos que vêm e vão—trazendo à tona toda a minha vida em flashes intensos e dolorosos.

Primeiro, estou de volta à minha infância.
A pequena casa na Rua da Fiação, as paredes frias e desgastadas, o silêncio pesado que era constantemente quebrado pelas brigas entre minha mãe e meu pai. Vejo o rosto de Tobias Snape, seu olhar frio e impiedoso, e sinto aquele medo paralisante que me invadia sempre que ele levantava a voz.
Minha mãe, Eileen, mantém-se em silêncio, suportando a situação como se fosse inevitável.
Eu tento, desesperadamente, encontrar um espaço onde eu possa desaparecer, onde eu possa escapar daquele ambiente sufocante.

Passo para outra lembrança, agora na rua deserta de Cokeworth, onde conheci Lily Evans.
Ela está ali, sorrindo para mim com uma gentileza que eu nunca havia experimentado antes.
Suas risadas, seus olhos iluminados ao descobrirmos juntos as primeiras manifestações de magia, tudo isso me parece tão distante, mas tão real, que dói. Lembro-me de como eu me sentia ao lado dela, como se, de alguma forma, eu fosse visto e aceito. Aquele era o único momento em que o peso de minha vida parecia desaparecer.
Com Lily, eu não era apenas Severus, o menino esquisito.
Eu era alguém que ela queria por perto.

A lembrança me leva para Hogwarts.
Sinto o ar frio das masmorras da Sonserina, o peso da expectativa dos meus colegas, a pressão de ser alguém poderoso, alguém que pudesse finalmente ser respeitado.
Eu desejava tanto me destacar, ser reconhecido... e foi ali que me perdi.
A lembrança das aulas de Artes das Trevas, das conversas com aqueles que mais tarde se tornariam Comensais da Morte, me enche de um orgulho sombrio e venenoso.
É uma sede por algo que eu não podia definir, mas que consumiu quem eu era.

A próxima memória é dolorosa demais, mas impossível de evitar: o dia em que Lily se afastou de mim para sempre.
Eu havia sido humilhado publicamente pelos Marotos, e a raiva transbordou em um insulto que a feriu profundamente.
O olhar dela, aquele olhar de dor e decepção, marcou minha alma para sempre.
Tentei me explicar, implorei por seu perdão, mas foi em vão.
Ela me deixou sozinho, e com isso levou toda a esperança que eu tinha.
Lembro-me da angústia, do arrependimento, e de como, a partir daquele momento, mergulhei ainda mais nas Artes das Trevas, buscando nelas um sentido, uma razão para continuar.

Agora estou diante de Voldemort, ajoelhado, implorando pela vida de Lily.
Sinto a vergonha de me rebaixar, de clamar por misericórdia para a única pessoa que eu amava.
E lembro do horror que senti ao perceber que minha súplica foi ignorada, que ela estava destinada a morrer por uma decisão que eu, inconscientemente, havia ajudado a selar.
Quando Lily foi morta, algo dentro de mim morreu junto com ela.
A culpa e o remorso tornaram-se parte de quem eu era, e, naquele instante, percebi que meu único caminho para redimir meu erro seria proteger o filho dela, a qualquer custo.

— — —

A dor no corpo é a primeira coisa que sinto ao acordar.
É uma dor profunda, excruciante, que parece vir de cada músculo, cada osso.
Meu peito dói como se estivesse esmagado, e, ao tentar mover os dedos, percebo que meus movimentos são lentos e descoordenados.
Abro os olhos com dificuldade, vendo as paredes da enfermaria de Hogwarts ao meu redor.
A claridade me incomoda, e a sensação de estar ali, de ainda estar vivo, me assombra.