— Bom, já está quase na hora do almoço. Preciso ir antes que minha irmã surte ou algo do tipo... — Disse, colocando as mãos no bolso do meu moletom, tentando soar casual, embora uma leve sensação de desconforto me apertasse o peito. O tempo estava estranho hoje, e o frio parecia me envolver mais do que o normal. Talvez fosse só o cansaço.
Harry olhou para mim com uma expressão séria, como se estivesse calculando algo em sua mente.
— Eu faço questão de te acompanhar até em casa. — Ele se levantou com um sorriso gentil, mas determinado, e veio na minha direção.
— Não precisa, sério... Eu moro bem perto daqui, nem vai dar tempo de nada acontecer. — Tentei argumentar, mas a maneira como ele me olhava me fez sentir como se estivesse sendo cuidado por algo mais seguro do que qualquer explicação.
— Você desmaiou nos meus braços, Louis. Não vou te deixar ir embora sozinho. — Ele abriu a porta atrás de mim, um gesto simples, mas de alguma forma tão protetor que me senti vulnerável ao mesmo tempo.
A casa dele era rústica, amadeirada, com um cheiro acolhedor de madeira e um toque de algo caseiro, como se cada canto tivesse uma história para contar. Havia algo simples, mas bonito naquilo tudo, e por um momento me senti como se estivesse entrando em um lugar onde não deveria estar — mas ao mesmo tempo, algo no ambiente me deixava à vontade, como se fosse a coisa certa a fazer.
O tempo lá fora estava cinza e o vento cortante parecia atravessar minhas roupas. Eu senti isso mais intensamente do que deveria. O frio parecia penetrar em minha pele e até nas minhas ossos, como se meu corpo estivesse dizendo que algo estava errado, algo muito além da mudança de estação. Eu sentia mais frio do que o normal, como se meu corpo estivesse em sintonia com a doença que me corroía por dentro.
A expressão de Harry estava preocupada, mas ele fez de tudo para não transparecer, tentando mudar o tom da conversa.
— Você podia me passar seu número, para te avisar quando os morangos estiverem maiores. — Ele disse, com um sorriso leve, e isso me fez sorrir também, mas não sem um toque de timidez. Era a primeira vez que alguém me fazia sentir assim, tão... vulnerável e ao mesmo tempo feliz. Uma sensação nova, doce, que eu não sabia como lidar.
Mas eu sabia o que vinha a seguir. Não era justo, não era certo. Eu estava morrendo, eu sabia disso. E não deveria deixar ninguém se aproximar de mim. Mas mesmo assim, não conseguia evitar o desejo de ser visto, de ser tocado, de ser... alguém.
— Claro. — Minha voz soou um pouco mais baixa do que eu esperava, e vi seus olhos verdes brilharem, atentos, enquanto ele tirava o celular do bolso e o estendia em minha direção. Ele me olhou esperando que eu tomasse a iniciativa, e quando o fiz, meus dedos tremiam ligeiramente. Não sei se por nervosismo ou algo mais profundo, uma sensação estranha de que talvez não fosse a última vez que faria isso.
Observei a tela de seu celular enquanto colocava meu número, e não pude deixar de notar o plano de fundo: uma paisagem linda, com o céu alaranjado do pôr do sol, refletindo um tipo de paz que eu já não sentia mais. Era uma cena tranquila, mas ao mesmo tempo, algo em minha mente dizia que talvez fosse só uma ilusão.
Terminei de digitar meu número e entreguei o celular de volta. Ele sorriu, um sorriso que trouxe consigo covinhas profundas, e algo em mim reagiu automaticamente — algo que eu ainda não sabia lidar.
Chegando na porta da minha casa, a sensação de desconforto voltou, mas agora por outros motivos. A despedida estava ali, e eu não sabia o que dizer.
— Obrigado por ter me acompanhado até aqui, Harry. — A voz saiu mais suave do que eu imaginava, e eu a ouvi como se fosse de outra pessoa. Meus olhos se encontraram com os dele e, por um breve instante, algo em seu olhar me fez esquecer que eu estava prestes a sumir desse mundo. Como se, por um segundo, eu fosse apenas Louis, e não alguém prestes a ser engolido por uma doença que não podia ser vencida.
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The Night We Met
FanfictionLouis Tomlinson um jovem de 21 anos diagnosticado com leucemia em estagio terminal, decide viver seus últimos meses de forma intensa e decide não se apaixonar, e poupar o numero de vitimas do seu sofrimento ...até um par de olhos verdes entrar em s...