II - A Cabana

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Eu entrei na cabana com o coração pesado e uma sensação estranha no peito, como se estivesse invadindo um território que não me pertencia mais. A porta bateu atrás de mim, com um som abafado, como se o lugar estivesse me engolindo. Eu respirei fundo e olhei ao redor, como se procurasse algo familiar, algo que me conectasse ao passado, mas o que eu encontrava eram apenas sombras e o cheiro do antigo. O tempo parecia parado ali, como se o lugar estivesse aguardando a minha volta.

A cabana, com seus dois andares, parecia maior do que eu me lembrava. O andar de baixo, simples e funcional, tinha a cozinha à esquerda, a sala ao centro e o banheiro à direita. A cozinha estava empoeirada, as prateleiras cheias de restos de um passado esquecido. No centro da sala, o sofá velho ainda estava lá, coberto por uma manta puída que fazia eco das tardes passadas com meus pais. O banheiro não era grande, mas tinha uma banheira antiga, que sempre me pareceu mais uma peça de decoração do que algo realmente funcional. Era como se o tempo tivesse se acumulado ali de forma constante, sem pressa de se desfazer do que já fora.

Eu não queria ficar ali por muito tempo, mas algo me dizia que deveria conhecer aquele lugar novamente, ver o que ele tinha a me oferecer. Algo que eu ainda não conseguia explicar.

Subi as escadas rangentes, o som delas cortando o silêncio da casa. No andar de cima, três quartos e um escritório. O primeiro quarto era o meu, com a cama simples e os brinquedos espalhados pelo chão. O segundo quarto era o dos meus pais, com as paredes ainda decoradas com fotos antigas e objetos que eu quase tinha esquecido. Mas o terceiro... o terceiro era diferente. Ele estava trancado, a porta parecia intacta, sem sinais de abandono. Algo me chamava ali, e eu não sabia bem o quê.

O escritório, com suas estantes cheias de livros empoeirados, estava ainda mais fechado, como se fosse o último refúgio da casa, o lugar onde todas as lembranças mais pesadas estavam guardadas. O que me chamou a atenção foi a gaveta da escrivaninha. Ela estava trancada, e uma chave desaparecida era tudo o que eu sabia. Eu me agachei e examinei a gaveta, tocando-a com cuidado. A chave poderia estar em qualquer lugar da casa. Eu comecei a vasculhar o escritório, abrindo os livros antigos, procurando nas gavetas vazias, revirando cada pedaço de papel que estava espalhado sobre a mesa. Mas, de repente, um barulho interrompeu meus pensamentos.

Uma batida na porta.

Eu congelei. O som foi breve, mas nítido. Como se alguém estivesse ali, esperando.

O que eu deveria fazer? Eu olhei em volta, buscando uma explicação lógica para o que estava acontecendo, mas não encontrei. O meu corpo ficou tenso, os músculos se contraindo como se estivesse em alerta para alguma coisa que eu não conseguia ver.

E então, a batida se repetiu. Mais forte.

Eu sabia que não estava sozinha na cabana.

Eu hesitei por um momento, a porta ainda meio aberta, e a mulher na minha frente parecia tão calma, tão serena. Ela me olhou com uma expressão de surpresa, mas não parecia estar com medo de mim. Era uma surpresa gentil, curiosa. Algo em seu olhar fez meu coração bater um pouco mais rápido, mas ao mesmo tempo me senti aliviada. Ela tinha cabelos castanhos, pele pálida e olhos da mesma cor que seu cabelo que parecia seda, a mesma aparentava ser a base dos 30 anos.

– É você mesmo? – a voz dela saiu suave, quase como uma pergunta sem pressa. – Por que você voltou?

Eu olhei bem para ela. Havia algo nela que me parecia familiar, mas eu não conseguia entender o porquê. Talvez fosse a maneira como ela me olhava, ou como parecia estar tão à vontade naquele lugar. Eu não sabia o que dizer, então, finalmente, perguntei.

– Você... você é amiga dos meus pais? – minha voz soou mais baixa do que eu queria. Eu estava tentando fazer sentido de tudo o que estava acontecendo.

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⏰ Última atualização: Nov 17, 2024 ⏰

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Destinada- Bruxa BrancaOnde histórias criam vida. Descubra agora