A morte que gerou vida.

Capitulo 2

  Já faz uma semana desde a noticia de que Nicole morreu. Ana e Nicolas se esforçam para manter a rotina como antes, mas isso se torna difícil quando você sente que alguém importante está faltando.
Ana se pergunta como está a mãe de Nicole, ela amava muito a filha e deve estar completamente abalada agora.
Mas a pergunta que mais se passa na cabeça tanto de Ana quanto de Nicolas é: "Nicole morreu de quê?".
A verdade é que ninguém sabe como ela morreu, até agora a família dela não recebeu o relatório médico com a possível causa da morte. "Tudo isso é muito estranho" pensa Ana consigo.
Nicolas está sentando em uma mureta do parque. Já era tarde da noite mas ele não se importava, precisava colocar a cabeça no lugar.
O céu está em um tom forte de azul escuro, o vento é úmido e gélido. Tem alguns postes de luz espalhados pela praça que emitem uma luz fraca e meio melancólica. O parque não tem grama e é coberto apenas por concreto.
Nicolas não consegue avistar ninguém mas sabe que não está sozinho. Tem mais alguém ali, ele só não sabe quem.
Ele se levanta da mureta e começa a passear pelo parque em busca da pessoa que está naquele lugar. Ele anda e anda mas não acha ninguém, mas quando ele finalmente está prestes a desistir e aceitar que foi coisa da cabeça dele ele avista uma sombra humana ao longe. A sombra é alta e chuta pedrinhas no chão enquanto caminha de forma triste e melancólica.
Nicolas se pergunta se deve ou não se aproximar, mas se aproxima.
É Samuel. Samuel e Nicole eram irmão de consideração, eles eram extremamente próximos. O céu agora está nublado e Nicolas consegue escutar as poucas árvores na praça chorando e gemendo a dor da perda. A natureza inteira parece estar compartilhando da mesma dor deles dois.
Samuel já notou a presença de Nicolas a muito tempo, mas ele simplesmente não consegue falar nada. Sua irmã morta. A dor sentimental passa pra o seu corpo e domina seu peito que aperta ao lembrar de cada abraço dela que ele rejeitou, de cada vez que eles brigaram por que ela sentia falta de demonstração de afeto dele. Agora ela não vai precisar cobrar mais nada, ela morreu.
Samuel sente o frio gélido na espinha e assim como Nicolas consegue ouvir o choro das árvores e da natureza. Ele nunca quisera tanto morrer.
Samuel nunca foi alguém que fosse muito religioso, mas pela primeira vez desejou de forma intensa dentro de si que existe uma vida após a morte para que ele pudesse rever ele.
Nicolas e Samuel caminham em silêncio pela praça. Nenhum dos dois pronunciou sequer uma palavra. E então de repente Samuel para de andar e Nicolas percebe que Samuel prestes a desabar de chorar

- Eu odeio tudo isso... - Ele fala enquanto tenta segurar as lágrimas.

- Está tudo bem... eu tenho certeza que se existe vida após a morte ela está muito feliz aonde ela está. - Consola Nicolas

- Não. Não tá tudo bem. Algo... algo está muito estranho nisso tudo. - Responde Samuel com um tom de certa paranoia.

- como assim? - pergunta Nicolas extremamente confuso.

- Porque não deram o laudo pra família? O que tem tão errado na forma que ela morreu? - Fala Samuel de forma rápida.

- Ela tinha desmaios frequentes, pode ter sido uma morte natural. Talvez ela tivesse uma doença séria e como não foi descoberta a tempo... - Nicolas ficam alguns segundos em silêncio. - Ela morreu.

- Talvez. - Responde Samuel contrariado.

Eles voltam a caminhar em silêncio. Cada passo com gosto de saudades e dor. Nicolas disse que Nicole estaria brincando com a situação, mas Samuel e Nicolas sabem que isso é mentira. Ela estaria alcoolizada se tivesse que passar por isso.
Samuel e Nicolas andam juntos mas cada um está sujeito aos seus próprios pensamentos. Samuel está coberto de remorso e arrependimento, já Nicolas está tomado por saudade e dor. Uma morte, vários sentimentos distintos.
Eles continuam caminhando com a cabeça baixa e então antes que eles percebam uma camada de névoa está sendo feita.
Eles continuam andando.
A névoa continua se formando.
Eles não percebem.
Eles caíram na teia de aranha.
Nicolas levanta a cabeça e não consegue achar Samuel. Ele grita e grita por Samuel mas não consegue escutar nada a não ser ele mesmo. Está tão silencioso que ele é capaz de escutar seu coração pulsando de forma acelerada em seu peito. Nicolas começa a procurar uma forma de sair da névoa. Ele anda e anda e anda e anda e não consegue ver nada. Ele está perdido. Aonde está Samuel?
E então depois de quase meia hora andando em círculos em meio a névoa ele consegue avistar algo. Parece uma figura humana. A figura é um pouco baixa, gorda, tem cabelos crespos e...

- Ai meu Deus é Nicole.

Nicolas não consegue acreditar em seus olhos. Ele fica incrédulo.

- Nicole é você mesma? Mas você... você não está morta...? - Nicolas pergunta extremamente confuso.

Nicole não responde nenhuma das perguntas de Nicolas apenas sussurra: "eu não estou lá." Nicole se vira e começa a andar da direção de onde veio.
Nicolas fica confuso e corre atrás de Nicole mas ela some antes que ele possa fazer algo. E então a visão dele escurece.