Raya, para você, a metade de mim.
"Ele veio. Ele foi embora. Nada mudou. Eu não mudei. O mundo não mudou. No entanto, nada seria o mesmo. Tudo o que resta é a realização de sonhos e uma estranha lembrança." — Me chame pelo seu nome, André Aciman.
"Acho que sou o meu animal favorito.
Às vezes entro nas redes sociais e vejo o que está sendo tendência, assim fico mais inspirada e consigo escrever com mais facilidade, meu método de escrita não é dos melhores. Ultimamente as tendências estão se tornando as mesmas coisas em roupagens diferentes, normal, tive uma cadeira de publicidade na faculdade e compreendo um pouco disso, mas não o bastante para compreender o motivo da queda na leitura. Os nichos de leitores diminuíram drasticamente, em alguns dias ociosos, frequento minha livraria favorita e sinto que sou a única pessoa que vai até lá, o que é triste, a Gato Sem Rabo é meu lugar favorito na cidade.
No momento, os jovens perdem o interesse na literatura, entendo um pouco. Não totalmente, acho que jamais entenderei, fui uma criança leitora e aprendi que nunca seria um ser humano sem que fosse leitora. André Aciman, Donna Tartt, Sidney Sheldon, Margaret Atwood e eu poderia nomear milhares de outros escritores que passaram nas minhas mãos, até que me tornasse uma deles, entrar nesse grupo seleto me fez quem sou e isso não é bom. Vejo o mundo de uma maneira melancólica demais, idealizo o amor a todo momento e sinto que minha vida é tão patética que deixaria minha analista entediada — tenho muitas amigas que seguem teorias freudianas.
Não sei o que seria de mim sem as palavras, acho que não seria quem sou e isso é óbvio, mas o toque de melancolia me faz repensar tal coisa. Poderia ter sido várias coisas, talvez poderia ter sido um pouco mais feliz, mas, isso não é quem sou. Quem sou, afinal? Também não sei responder, é uma daquelas perguntas que te deixam em Corte Lacaniano — avisei que tinha amigas freudianas. Contudo, algumas coisas sei afirmar. Adoro viagens, livros longos e tristes, gosto de romances idiotas quando estou deprimida, amo minhas amigas e tudo o que sei sobre o amor, aprendi com elas. Não é tudo sobre mim, mas é tudo o que sei dizer sobre mim.
Sinto que Marina Abramović sabia o que estava fazendo quando atravessou a muralha chinesa para pedir o divórcio de Ulay, ela devia estar melancólica e cansada de amar, é tudo o que uma mulher adulta sente. Ao menos é o que tenho visto nas tendências e o que tenho ouvido falar — repare que evito falar sobre mim, tema para análise. Todavia, quando penso na síntese do assunto, sinto que não sei nada sobre nada. O que, modestamente, não é verdade. Entendo de escrita e sei bastante sobre arte, acho que todo artista sabe um pouco sobre isso, é como a dor, já nasce embutida no nosso ser."
Quando se está de coração partido e se é um artista, muitas coisas podem acontecer, mas, num geral, tem duas opções: pode produzir a obra mais perfeita já feita ou pode não chegar perto de sua própria arte por meses — anos, se for um dos dramáticos. Que é o caso de Annella Petersen. Seu notebook e seus cadernos eram um acúmulo belo de obras inacabadas, há dias ela não tocava em nada disso, sabia que não iria conseguir produzir nada bom o bastante, então havia desistido de tentar. Contudo, sua veia artística não deixou que os ignorasse por completo, jogou três cadernetas na mala e o notebook junto, sabia que em algum momento precisaria deles.
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Kafka| Max Verstappen.
FanfictionPara o mundo, o mais recente romance de Max Verstappen, é uma obra-prima sobre escolhas, amor e as encruzilhadas da vida. Para Annella Petersen, porém, é algo muito mais pessoal: um espelho do relacionamento que viveram, traduzido em palavras que d...