Quando sai do quarto, me deparei com Helena. Ela vinha andando na minha direção. Quando parou e fez uma cara de decepção.- Cara, não consegui usar o banheiro! - ela indaga, depois de virar os olhos.
- Por que não? - perguntei mesmo sabendo da resposta: Tia Ruth e seu problema alimentício.
- Uma senhora meio gorda estroucom tudo no banheiro, antes deu chegar, e não foi só Isso! Ela descarregou tudo. Ainda me lembro de como aquilo fedia. É como se o cheiro estivesse aqui no meu nariz.
- Tem um banheiro no quarto dos meus pais...
- Tem?! Vamos lá. - ela nem deixou eu terminar e me puxou para ir com ela no quarto dos meus pais.
Quando chegamos no quarto dos meus pais, percebemos que a porta estava trancada.
- E agora? - ela pergunta já impaciente.
- Não sei... minha mãe não gosta que eu entre no quarto dela e de papai. - repondo, já me virando pra sair dali.
- Nada disso, Joe! - ela puxa meu colarinho. - Eu quero usar o banheiro! E acredito que vão ter que interditar aquele outro depois que aquela balofa terminar aquela sujeira! - ela responde, enquanto tenta arrombar a porta com os pés.
- Ei, para com isso! - brigo com ela, enquanto puxo ela pra longe da porta. - Olha, se eu me lembro bem... Tem um bolo de chaves lá no porão. Quer ir lá pegar?
- Quero sim, bobão!
- Mas lá deve ter... monstros! Tio Tomás disse que foi lá uma vez, e viu muitos olhos vermelhos e vultos! Eu não vou não!
- Você vai sim, seu bebê chorão! - ela disse, me olhando profundamente nos olhos, e tive certeza que eu não tinha escolha.
Então, fomos. Descemos para o primeiro andar. Logo em seguida entramos na portinha que dava acesso ao porão. Logo quando entramos eu comecei a tocir muito. O lugar estava cheio de poeira e tinha muitas teias de aranha no teto baixo. O lugar estava meio escuro, mas Helena achou um interruptor, e o lugar foi iluminado pela luz da lâmpada que estava logo à um metro da minha cabeça. Adentramos no lugar desviando de algumas caixas, e logo mostrei onde estava as chaves. Estava em cima de uma estante que ficava na parte mais alta do lugar.
- Vou ter que subir em você para pegar - ela disse, sem tirar os olhos da estante.
- O quê?! - digo, meio espantado.
- Para de reclamar, e vamos logo!
Me abaixo um pouco e ela sobe em minhas costas. Depois coloca seus pés em cima de meu ombro e falou para mim levantar devagar - coisa que depois de muito esforço eu consegui! Caraca, que menina pesada!
- Não se atreva a olhar para cima! - ela disse, e até então, eu não tinha pensado na ideia. Que merda! Agora não consigo parar de pensar nisso! Depois de alguns segundos eu decido que minha curiosidade é mesmo uma de minhas características. Olho. E depois olho mais um pouco. Caraca, ela está usando uma calcinha do cãozinho Snoopy! Que estranho, uma menina usando uma calcinha do cãozinho Snoopy.
- Você gosta de assistir A turma do Charlie Brown? - pergunto e no mesmo tempo eu me lembro que fiz merda.
- Seu Desgraçado!! - ela chuta com o pé direito o meu ombro e eu acabo me desequilibrando, levando nós dois as caixas empoeiradas. Depois que ela passa a mão na roupa e se limpa, ela suspira. Percebo que ela se irritou com o que eu tinha feito. - Tudo bem. Não vou ficar com raiva disso. Afinal, eu peguei as chaves! - diz balançando as mesmas.