12 de Setembro de 2014
Com o passar do tempo, apercebi-me que eu era a única que conseguia ver o Liam. Era a única que o conseguia ouvir, sentir...
Aprendi a não falar com ele quando outras pessoas estão por perto porque poderiam pensar que eu estava pior outra vez. O meu pai até hoje pensa que o Liam não passava de um amigo imaginário. De algo que eu criei para superar o meu problema. Ele acha que eu nuca mais o vi, o que é mentira.
Aquele rapaz de cabelos despenteados, roupas rasgadas e descalço era agora uma pessoa completamente diferente. Ele cresceu ao mesmo tempo que eu e somos inseparáveis. Claro que ele não tem outra escolha visto que eu sou a única pessoa que o pode ver.
Mas, na manhã de 12 de Setembro, tudo mudou.
Era um dia normal como outro qualquer, e eu estava a ver televisão na sala de estar. Faltavam poucos dias para o início das aulas e o Liam sempre odeia esse dia porque eu fico horas sem poder falar com ele sem parecer maluca. Então ele estava mal humorado e ainda nem tinha aparecido, o que também me deixou de mau humor.
Como se ele pode-se ler os meus pensamentos, ele apareceu na porta da sala.
"Finalmente, onde é que tu...?"
Interrompi a minha própria frase quando reparei na situação à minha frente. Liam estava todo ensopado de um líquido vermelho, que só poderia ser sangue. A sua t-shirt branca era agora quase toda vermelha, com manchas de diversos tamanhos espalhadas. Ele também tinha algumas nas calças mas principalmente nas mãos. Ele também tinha um ar ligeiramente culpado mas ao mesmo tempo ele estava tão... Feliz. Ele estava feliz, sem sombra de dúvida.
Por momentos, perguntei-me se ele não se tinha aleijado e se aquele sangue não era dele. Mas não era. Havia demasiado sangue para ele estar vivo.
"O que te aconteceu?!" Perguntei, olhando-o completamente horrorizada.
Ele nada disse. Apenas olhou para a televisão e o seu sorriso apenas cresceu, o que me deu calafrios. Liam sempre foi um pouco estranho. Ele ria-se quando alguém se aleijava seriamente ou não mostrava o mínimo de pena quando encontrava-mos um animal morto na rua. Era quase como se ele não tivesse sentimentos.
Segui o olhar dele para a televisão e o meu queixo caiu de horror quando vi que, de alguma maneira, a televisão tinha mudado do filme que eu estava a ver para as notícias.
"Jessica Morgan, de dezoito anos, foi encontrada morta pela mãe há menos de uma hora atrás." Disse a jornalista, com cara de poucos amigos. "Jessica, de acordo com os policiais, foi esfaqueada inúmeras vezes no seu quarto e deixada na sua cama. Não há suspeitos ou qualquer pista que possa levar ao assassino de maneira alguma."
Senti as lágrimas nos olhos mas não conseguia chorar. Não conseguia chorar talvez porque eu odiava Jessisa Morgan. Ela era aquele tipo de pessoa que achava-se melhor do que todos os outros. Ela atormentava os mais novos, acabava com a vida social de alguém só porque eles não usavam as roupas que ela queria que usassem e espalhava todos os segredos de toda a gente.
E foi isso que ela fez comigo recentemente.
Jessica era filha de uma amiga da minha mãe então quando éramos pequenas, éramos obrigadas a brincar juntas. Mas era óbvio que eu a odiava e ela odiava-me então as nossas mais desistiram. Infelizmente, a minha mãe deve lhe ter contado dos meus problemas psicológicos e ela deve ter contado à filha. No último dia de aulas, Jessica contou a toda a gente. E se as pessoas já achavam que eu era mais ou menos estranha antes, com certeza acham-me estranha agora.
"Agora já não tens de lidar com ela quando as aulas começarem." Disse Liam.
Ele olhou para mim com toda a esperança e ansiedade do mundo. Ele devia estar à espera que eu lhe agradecesse ou que dissesse que aquilo foi a melhor coisa que ele alguma vez já fez. Ele queria que eu ficasse orgulhosa pois era óbvio que ele estava orgulhoso de si próprio.
"Liam... Mas..." Gaguejei, sem saber bem o que dizer.
Liam parecia confuso.
"Pensei que fosses ficar feliz."
Agora as lágrimas caiam com força e depressa comecei a soluçar. Mas eu não chorava por Jessica Morgan. Eu não chorava por ter perdido uma 'amiga de infância'. Eu não chorava de pena da mãe dela. Não.
Eu chorava de medo do meu melhor amigo.
15 de Setembro de 2014
O início das aulas. Eu esperava chegar à escola e encontrar toda a gente a falar sobre mim. Sobre o quão estranha eu sou ou como provavelmente fui eu que surtei e matei Jessica.
Então é claro que fiquei surpreendida quando miguem nem sequer olhou para mim. Toda a gente falava sobre Jessica. Jessica isto, Jessica aquilo. Jessica Morgan está morta. A rapariga mais popular da escola está morta mas ninguém parece ter realmente saudades dela. Algumas pessoas choram nos cantos mas parecem choros falsos, como se eles fossem obrigados a chorar a morte de alguém só porque a conheciam. Mas a maioria apenas queria saber quem a tinha assassinado e estavam a lançar sugestões ao ar. Surpreendentemente, eu não era uma delas.
"É completamente patético, não é?" Peguntou Ashton, o meu melhor amigo sem contar com o Liam, enquanto se aproximava de mim. "Esta gente está toda a fingir. Ninguém quer saber da Jessica. Ela era uma cabra."
"Ash!" Disse eu, enquanto lhe dava um empurrão leve.
"É verdade. E parece que sou a única pessoa que o consegue admitir nesta escola." Suspirou ele, como se fôssemos fardo que ele tivesse de carregar com ele.
"Como foi o teu verão?" Perguntei, ao tentar mudar de assunto.
"Ótimo." Disse ele, com um sorriso. "Fui visitar os meus avós na Austrália, como te tinha dito. Há anos que já mais os via, foi divertido. E o teu, Vi?"
Abri o meu cacifo e escondi-me atrás da porta para que ele não pudesse ver a minha cara perturbada. Pensei na visão de Liam, na minha porta. Pensei em todo aquele sangue. Pensei nas notícias. Pensei no sorriso perverso de Liam. Pensei em como ele me abraçou enquanto eu chorava e em como isso me fez sentir mil vezes melhor.
"Foi incrível." Respondi e ambos
seguimos para a nossa primeira aula.
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Are you there? {L.P Fanfiction}
FanfictionE se tudo o que sabemos, tudo em que acreditamos, não for real? E se a nossa vida for apenas a nossa imaginação? É isso que acontece com Violet Carpenter. Violet sempre foi diferente das outras crianças. Ela falava sozinha, via coisas que mais ningu...