20 de Setembro de 2014
Todos os sábados eu e Liam vamos passear no parque, sem exceção. Não posso falar com ele, obviamente, mas ele nunca para de falar. Às vezes ele decide ser engraçado e eu começo a rir sozinha ou ele está num dia sentimental e desabafa comigo. Seja como for, ele fala sempre.
Mas, depois do que aconteceu com Jessisa, eu não me sentia mais confortável e segura ao pé de Liam. E ele sabia disso.
"Vamos fazer alguma coisa diferente hoje." Anunciou ele ao entrar no meu quarto.
Suspirei ao pensar em como ele insistia em entrar no meu quarto sem bater. Por algum acaso eu estava vestida, deitada na cama e com o meu livro favorito, Alice no país das maravilhas, o meu lado visto que acabei de o ler pela quinta vez.
"Aí sim? E onde vamos?" Perguntei ao tentar fingir entusiasmo.
Ele sorriu e aquilo apenas me fez lembrar das pingas de sangue na cara dele da última vez que ele estava estava assim tão feliz. Novamente, arrepios percorreram todo o meu corpo.
"É uma surpresa. O parque pode ficar para outra vez. Anda, veste-te, Vi."
Ele disse antes de desaparecer. Eu odeio quando ele faz isso. Levantei-me contra a minha vontade e acabei por me vestir, como ele mandou. Atei o meu cabelo num rabo de cavalo, lavei os dentes, pus o perfume que o Liam me ofereceu quando eu fiz anos e sai do meu quarto. Liam, obviamente, estava ali parado.
"Adoro quando não usas maquilhagem. Consegues ficar ainda mais bonita." Disse ele.
Normalmente eu teria corado imenso e sussurrado um obrigada, mas desta vez não disse nada. Nem sequer corei.
Liam não pareceu reparar visto que ele já tinha desaparecido e reaparecido no fundo das escadas.
"Despacha-te!"
Ri-me um pouco e anui, correndo escadas abaixo. Admito que estou bastante curiosa. Onde será que vamos? Liam quase nunca planeia surpresas. E quando digo quase nunca, eu quero mesmo dizer nunca.
"Onde vamos?" Perguntei assim que cheguei ao fundo das escadas onde ele estava.
"É uma surpresa." Disse ele e pegou-me na mão.
Sempre achei estranho o facto de eu conseguir sentir o toque dele. Mais ninguém consegue. Ele até consegue atravessar as pessoas se ele quiser. Então porque eu? Porque é que eu consigo ouvi-lo, vê-lo, senti-lo... E mais ninguém consegue?
Saímos de casa de mãos dadas, o que era algo normal entre nós. Claro que simplesmente parecia que eu estava com o braço esticado de uma maneira estranha mas a maioria das pessoas fingia que nem tinha reparado. Claro que eu não disse nada o caminho todo mas Liam não para a de falar, como é habitual. Falou sobre Ashton e sobre como não gostava dele e que eu devia parar de me dar com ele, falou sobre como o meu pai tem andado distante ultimamente o que eu concordo plenamente, falou sobre como tem saudades minhas quando eu estou nas aulas e sobre as coisas que eu digo enquanto durmo. Tive de controlar o riso nesta última porque era mesmo engraçado.
"Chegamos." Disse ele.
Eu olhei para ele com um ar confuso. Estávamos na casa abandonada que ficava a apenas alguns metros da minha escola. Já houveram diversas protestações dos pais para mandarem a casa abaixo visto que assusta algumas das crianças mais sensíveis.
"O que estamos aqui a fazer?" Perguntei, franzindo o sobrolho.
"Apenas vem."
Liam puxou-me para dentro da casa sem me deixar dizer mais nada pois ele sabia que eu não ia querer entrar. A casa por dentro era ainda piordo que por fora. O candelabro estava partido no meio do hall de entrada, o teto parecia que ia cair a qualquer segundo, havia quadros de pessoas completamente assustadoras nas paredes, havia vários buracos no chão de madeira, a pintura estava claramente a desgastar-se, as escadas que levavam ao andar de cima estavam sem alguns degraus e não havia portas.
"Liam, explica-me o que estamos aqui a fazer. Por favor."
"Bem, quando tu estás na escola e eu não posso estar contigo... Digamos apenas que eu queria algum sítio para estar próximo de ti e este foi o primeiro que eu encontrei." Disse ele, sorrindo como se ele tivesse acabado de descobrir a cidade perdida de Atlântida.
"Isso é tudo muito bonito, mas eu quero ir para casa."
Liam revirou os olhos e ignorou-me por completo, puxando-me com ele para o andar de cima. A cada passo que eu dava, o chão rangia o que me perturbava imensamente mas não disse nada. Liam parecia feliz por ter encontrado um local de qual ele realmente gosta.
Liam mostrou-me cada canto da casa, como se aquela fosse a própria casa dele. Ele parecia tão feliz que não o quis interromper apesar de aquela casa me estar a arrepiar.
Mas o aspeto da casa nem foi o pior de tudo. No último quarto que Liam me mostrou, haviam mais retratos daqueles que eu vi lá em baixo. Mas desta vez ele queria eu olhasse para os retratos.
Os primeiros eram de mulheres, de idades variadas entre os vinte e os cinquenta anos. Depois, eram crianças que não deviam ter mais de cinco ou seis anos. Quando eu cheguei aos últimos dois retratos, o meu queixo caiu. Por momentos, parecia que eu não conseguia respirar ou que todo o ar daquele quarto tivesse sido sugado. Tenho a certeza que a minha cara devia estar completamente branca.
O penúltimo retrato era eu. Eu estava a sorrir, como se não tivesse um único problema no mundo. Tinha o cabelo numa trança e o dobro da maquilhagem que eu costumo usar. Mesmo assim, era eu sem dúvida.
O último retrato era Liam, isso não há dúvida. Ele não tinha barba e o cabelo dele estava mais curto mas era obviamente ele.
Quando me virei para trás para perguntar a Liam o que raio era aquilo, ele tinha desaparecido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Are you there? {L.P Fanfiction}
Hayran KurguE se tudo o que sabemos, tudo em que acreditamos, não for real? E se a nossa vida for apenas a nossa imaginação? É isso que acontece com Violet Carpenter. Violet sempre foi diferente das outras crianças. Ela falava sozinha, via coisas que mais ningu...