CAPÍTULO ÚNICO

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Conrado Mavila acabara de sair do banheiro com uma toalha na mão. E lá estava ela, sentada na sua cama, encharcada e tremendo profundamente de frio. Ela era muito linda. Ele a encontrara enquanto andava pelas ruas de Salvador, correndo da chuva torrencial costumeira do mês de Julho. Ele saíra do trabalho mais tarde que o normal e perdeu o ônibus que o levaria para casa. Então começou a chover, e ele fora obrigado a sair correndo dali e procurar um abrigo. Caso contrário, pegaria uma gripe.

Quando ele a viu pela primeira vez, ela estava encolhida, debaixo de uma árvore podada, que não fazia direito o trabalho de aparar a chuva. Sua roupa estava completamente encharcada, e ela parecia tão assustada como um cachorrinho abandonado. Ela era tão linda que lhe tirou o fôlego. Quando deu por si, já havia se aproximado. Pois ficar embaixo de uma árvore no meio de um temporal era extremamente perigoso.

Ela se encolheu enquanto ele se aproximava, como se ele atacá-la ou bater nela. Conrado sentiu o coração gelar. Ele jamais faria mal a uma mulher, muito mais a uma mulher assustada. Ele não poderia dizer que ela era indefesa, pois não a conhecia, mas sabia que ela estava muito assustada pelo seu olhar. O rapaz sentia uma grande vontade abraçá-la e confortá-la, dizendo que estava tudo bem.

Mas que diabos? Balançou a cabeça afastando os pensamentos estranhos.

— Está tudo bem, eu não vou machucar você. — Tranquilizou-a. — Eu só quero ajudar, você está bem? — Perguntou, preocupado.

Estranhamente, ela franziu o cenho e balançou a cabeça como se não entendesse o que ele dissera. Então, sua ficha caiu. Ela não era brasileira. Mas uma gringa. Uma gringa perdida na grande cidade de Salvador, no meio da chuva torrencial e que não falava português. Agora ele poderia entender o motivo dela estar tão assustadiça. Por sorte, ele sabia falar um pouco de inglês.

— Hi, I wanna help you, please come with me.

( Oi, eu quero ajudar você, por favor venha comigo.)

Ela franziu o cenho e rebateu.

— I don't know you.

(Eu não conheço você.)

— My name is Conrado Mavila and yours?

(Meu nome é Conrado Mavila e o seu?)

Ela franziu o cenho, pensando se diria seu nome a ele. Mas ele parecia ser confiável, não havia malicia nos seus olhos, apenas gentileza.

— My name is Alicia Blackstone.

— Nice to meet you Alicia. Your name is very beautiful.

(Prazer em conhecer você, Alicia. Seu nome é muito bonito.)

Ela corou com elogio e respondeu que era um prazer conhecê-lo também.

— Well, now we've met. — Ele disse, sorrindo de forma encantadora.

(Bem, agora nós já nos conhecemos.)

Ela assentiu com a cabeça, sorrindo também. Encantada com aquele flerte sutil. E ele perguntou se agora ela deixaria ele ajudá-la. Alicia pensou no assunto por um momento, talvez não fosse uma boa ideia. Mas então, seu corpo estremeceu de frio. E a chuva ficou mais gelada e dolorosa. Ela estava sozinha, perdida, com frio e com fome.

Alicia assentiu mais uma vez, e dessa vez Conrado sorriu tão largamente que o coração de Alicia acelerou uma dúzia de batidas acima do normal. Ele estendeu sua mão gelada e molhada, e ela envolveu seus dedos ao redor dos dele. Então ambos saíram correndo na chuva, em busca do ônibus.

E agora estavam aqui, em seu apartamento. Ele não conseguiu resistir e a levou para dentro, para se secar. E agora ela estava sentada em cima da cama, com a roupa encharcada, molhando os lençóis. Mas ele não se importava com os lençóis molhados, logo secariam.

Viúva NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora