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Pedro Lázaro Brito Costa 25 anos(Trovão)

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Pedro Lázaro Brito Costa
25 anos
(Trovão)

Tava largado na cadeira de ferro da minha salinha, puxando o beck devagar e soltando a fumaça pro alto. O amargo descia rasgando a garganta, mas o efeito valia. Na mesa velha na minha frente, só uns restos de embalagem e uns papéis riscados que nem serviam mais. O ambiente tava no pique de sempre, barulhento e abafado.

Olhei pela porta entreaberta e vi os moleques embalando na mesa maior. A madeira tava meio torta, segurada na gambiarra com um tijolo. Em volta, as cadeiras de plástico pareciam que iam desmontar, mas ninguém tava nem aí. Cada um na sua função, os dedos deles passando o plástico, dando nó e jogando os pacotes num canto.

Os mais novos eram os que mais chamavam atenção. Uns dois ali mal tinham idade pra tá ali na faixa dos 14, 15 anos. Era pra tão saindo do colégio agora, voltando pra casa com mochila nas costas, mas tavam aqui, na correria. Pra eles, a única matemática que importava era saber quantos pacotes embalavam por hora.

Dei mais um trago, soltando a fumaça devagar.

Esses pivetes deviam ta correndo atrás de um futuro não fazendo coisa errada aqui.

Mas quem sou eu pra falar? Todo mundo aqui sabia que ou fazia o corre ou ficava pra trás.

O plástico rangia alto, quebrando o silêncio do lugar. Os moleques embalavam no automático, com aquele ar de quem já tava acostumado.

— Aí, chefe, olha essa aqui! - um deles levantou um pacote meio torto, rindo. - Foi o Cezinha que amarrou isso aqui, certeza!

Todo mundo caiu na risada, menos o tal do Cezinha, que resmungou:

— Vai se ferrar, eu que sustento essa mesa aí pra não cair, cês deviam era me agradecer!

Ri baixo, me encostando no batente da porta, o beck ainda na mão. O cheiro de maconha misturado com o suor e o calor deixava o ar pesado, mas era isso que dava vida ao lugar. A boca era velha, improvisada, mas funcionava.

As paredes marcadas de infiltração, o chão todo zoado com farelo de maconha e plástico espalhado. Era precário, sim, mas era dali que saía o sustento de muita gente.

Olhei pros moleques de novo, especialmente pros novinhos, e soltei:

Pedro: Cês sabem que é aula de português agora, né? Devia tá aprendendo a escrever, não embalar.

Um deles respondeu na lata, nem parando de trabalhar

— Já aprendi o suficiente, chefe. Sei até escrever meu nome, o basico!

Todo mundo riu mais uma vez. Eu também. Era isso na boca, o peso do dia a dia se aliviava na resenha, mesmo que só por uns minutos.

(...)

A XRE fez o barulho característico, cortando o silêncio abafado do morro. O vento batendo no rosto dava uma sensação boa, me tirando um pouco daquela rotina doida.

Passei por umas casas, umas mais caídas, outras ainda com a pintura da fachada parecendo nova. As casas eram apertadas, coladas umas nas outras, com telhados tortos e janelas de madeira. A luz da tarde refletia nas telhas de zinco, fazendo o ambiente ficar quente pra caramba. A galera das casas tava no corre, já mandando o lanche ou só curtindo a vida do jeito deles.

Fui chegando mais perto de casa, passando pelas vielas que se amontoavam, cada curva mais apertada que a outra, até que a visão da casa da  minha mae apareceu na frente. A construção era simples, tipo o de sempre, mas tinha a sua identidade. A parede amarela tava precisando de uma mão de tinta, mas quem se importa, né?

Estacionei a moto na frente, e o barulho da chave batendo na ignição ecoou pelo lugar, fazendo algumas crianças na calçada olharem. Desci devagar, já esperando a bronca de minha mãe, porque esse era o clima de quando eu voltava pra casa mais tarde.

Fui subindo os dois degraus da entrada e, ao abrir a porta, a dona Aparecida tava ali, na sala, sentada no sofa azul, como sempre, com aquele sorriso no rosto, mas já sabendo que ela ia dar um papo reto. Ela tava sozinha em casa, e o Ricardo? o meu padrasto, tava trampando lá na firma.

Aparecida: Chegou na hora, filho - disse ela, sem dar muita ideia. Não parecia brava, mas com aquele jeitão dela, eu sabia que algum papo ia rolar.

Eu olhei rápido pra sala, já sem ver a Rebeca por ali. Perguntei na lata

Lazaro: E a Rebeca, mãe? Onde ela tá?

Ela deu uma olhada tranquila e respondeu

Aparecida: Ah, tá lá na casa da amiga dela, passou o dia lá.

Isso me pegou de surpresa, porque, normalmente, a Rebeca tava sempre em casa quando eu chegava. Mas, enfim, era só mais um dia comum nesse lugar.


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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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