Capítulo 3 - Country roads, take me home

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P.O.V — Pedro Jorge

Queria voltar imediatamente para casa, mas precisava ir a um lugar

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Queria voltar imediatamente para casa, mas precisava ir a um lugar. Passei no Pico Alto pra limpar a cabeça e pensar, mas agora tudo o que eu queria era voltar para casa. Peguei o atalho que corta a estrada. Sempre foi mais rápido, e as árvores ajudavam a fugir do calor.

Na minha cabeça tocava a velha música que eu costumava cantar com meus amigos; contudo, ela me fazia lembrar da Clarissa. Era sua marca registrada cantá-la quando descíamos o Pico Alto na traseira da caminhonete do André, meu terceiro irmão mais velho.

“Country roads, take me home

To the place I belong

West Virginia, mountain mama

Take me home, country roads...”

Quando eu saí da sombra e peguei a curva, quase perdi o controle. Juro, ela apareceu do nada.

Foi tudo rápido demais: a bicicleta, a derrapagem, o grito dela.

— AIII... Meu Deus! VOCÊ É LOUCO?

Eu consegui parar a moto antes que a coisa ficasse feia, mas não impediu que eu derrapasse quase indo ao chão. Quando eu reparei na moça, não consegui falar nada. Travei.

Porque era ela.

Clarissa.

Minha cabeça deu um nó. Quando fui embora de Ares, ela era uma adolescente bochechuda, com aparelho nos dentes e um pouco acima do peso. Agora... agora ela parecia outra pessoa, com traços mais delicados, usando um vestido florido acima do joelho que realçava uma cintura fina, de aparência mais feminina. Antes, ela só usava o cabelo preso e jardineiras. Agora, era um mulherão na minha frente.

Eu só fiquei lá, parado, encarando. Acho que ela não me reconheceu, porque começou a reclamar:

— Você tem algum problema? Como você brota no meio da curva de uma ladeira? Você não pensa? Poderia ter nos matado! Ah, lá pegar cem anos no purgatório por ter tirado a minha vida!

Quis dizer algo, mas a voz não saía. Minha cabeça ainda girava com tudo. Ela se abaixou, pegou minha carteira que tinha caído no chão, e me entregou sem cerimônia.

— Aqui. Tua carteira. Abestado desses querendo perder a vida bem cedinho.

E saiu empurrando a bicicleta, me deixando ali. Fiquei olhando pra ela enquanto sumia estrada abaixo, ainda tentando entender o que tinha acontecido.

Liguei a moto de novo e passei por ela na descida, mas não consegui olhar direito. Meu peito estava apertado, e minha mente, um caos. Era Clarissa. Depois de tanto tempo, ali na minha frente. E eu? Eu não consegui falar nada.

P.O.V — Clarissa

Ainda tremendo, empurrei a bicicleta estrada abaixo

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Ainda tremendo, empurrei a bicicleta estrada abaixo. A raiva era tanta que eu nem sabia pra onde olhava.

— Só podia ser abestado... Desce ladeira feito maluco!

Mas no fundo, eu não tava pensando só no susto. Tinha algo naquele homem. Ele não disse nada, mas os olhos... os olhos dele. Eram tão familiares. Não consegui ver o rosto por conta do capacete. Mas os olhos tão vivos e com brilho infantil... Eu sei.

Continuei andando e, a cada passo, aquela sensação de déjà-vu só crescia. Até que eu parei no meio da estrada.

Era ele.

Pedro Jorge.

Meu coração gelou e, ao mesmo tempo, acelerou. Era ele. Só podia ser. Eu conhecia aqueles olhos castanhos melhor do que qualquer um. Eles não mudaram nada.

— Era ele...

Um sorriso brotou no meu rosto, mas eu tentei disfarçar. A última vez que o vi, eu era uma garota boba de 16 anos que usava aparelho e tinha vergonha até de sorrir. Agora, ele volta desse jeito e sequer dirige uma palavra para mim? Mas esperar o quê? Talvez essa amizade tenha sido significativa apenas para mim.

Voltei a subir na bicicleta, pedalando devagar, mas a cabeça não parava. Será que ele ainda me reconhecia? Será que lembrava de tudo?

Cheguei em casa ainda com as mãos tremendo, pensando que talvez fosse coisa da minha cabeça. Talvez fosse ele. Talvez não fosse.

Mas se era Pedro... Não sabia decifrar se era bom ou ruim.

Flor que se cheireOnde histórias criam vida. Descubra agora