Sementes de Vingança

Capítulo 01 | O Encontro

O despertador tocou como uma sentença de morte, rasgando a penumbra da manhã. Olhei para o lado e vi duas figuras femininas espalhadas na cama, ainda adormecidas, seus corpos nus entrelaçados nas cobertas de seda. O cheiro de álcool e sexo ainda pairava no ar. O luxo e a decadência se misturavam em um quadro tão familiar, mas tão vazios quanto a própria rotina da minha vida.

Eu sempre soube o quanto eu era bom no que fazia. Minha empresa, meu império, tudo era obra minha. A tecnologia, a inovação, a manipulação dos bastidores — era tudo meu. Mas no fundo, eu sabia que havia algo faltando. Uma sensação de vazio que nenhum número de zeros na conta bancária ou noites como aquela poderia preencher. Eu já havia passado por isso inúmeras vezes, acordando ao lado de mulheres que eram apenas uma distração momentânea, nada além de carne e prazer. O suficiente para me manter ocupado e longe dos meus próprios pensamentos.

Levantando-me com a mesma frieza de sempre, vesti o robe de seda negra e passei os olhos pela cama, olhando para aquelas duas mulheres adormecidas, cujos nomes já tinham se perdido no emaranhado de rostos e corpos. Não me importava. Elas eram apenas mais uma noite, um passatempo até que o relógio me chamasse para a próxima missão.

Sai do quarto e caminhei até o banheiro. O espelho refletia um homem de 34 anos, com a cara de quem nunca precisava se preocupar. Um homem com poder, com dinheiro, com um império. Mas não via felicidade ali, apenas a máscara de um monstro disfarçado. Eu me olhava, mas não me reconhecia. Quem era esse cara, afinal? Era apenas o que os outros viam: o CEO, o líder, o mestre dos negócios, o mafioso sem escrúpulos. Mas quem era o homem por trás disso tudo? Eu nunca permiti que ninguém me visse por inteiro. Nem eu mesmo.

A água fria do chuveiro foi o suficiente para me tirar do transe. Se a vida fosse um jogo, eu estava ganhando — mas algo dentro de mim dizia que a vitória não traria paz.

A noite caiu e, com ela, mais uma festa de gala. Eu costumava me distanciar dessas coisas, mas a pressão social, o desejo de mostrar poder, fazia com que eu estivesse sempre presente. Uma festa de caridade. Aquelas coisas vazias onde as pessoas se encontravam para fingir que estavam fazendo o bem, quando na verdade tudo não passava de um espetáculo.

O hotel em que o evento estava sendo realizado era um daqueles palácios luxuosos em Berlim, onde as paredes respiram história e o dinheiro flui como se fosse água. Todos os convidados estavam devidamente vestidos, como se fossem figurantes em um filme de luxo. Homens com ternos caros, mulheres deslumbrantes em vestidos de grife. Eu me sentia fora de lugar. Mas eu sabia que eu estava ali para comandar, para garantir que meu nome fosse falado, para que minha presença fosse sentida.

Foi quando eu a vi.

No meio de toda a multidão, com suas roupas impecáveis, ela se destacava sem esforço algum. Mariana Almeida. Eu sabia quem ela era, claro. Seu nome circulava nos círculos certos. Filha de uma família influente, dona de uma beleza indescritível, com um charme que poderia derreter qualquer um. Mas havia algo mais em seus olhos. Algo que me intrigava, que me puxava para ela, como um imã. Algo sombrio, algo que eu não conseguia explicar.

Ela estava com um copo de champanhe, seus olhos fixos em algo distante, como se o lugar fosse apenas uma passarela vazia para ela, uma peça num tabuleiro onde ela não se sentia confortável. Quando nossos olhares se cruzaram pela primeira vez, foi como um choque elétrico. Não era o tipo de atração casual que eu estava acostumado. Era mais profundo. Eu podia sentir o peso de sua presença, como se ela soubesse exatamente quem eu era e o que eu representava, assim como eu sabia quem ela era.

Me aproximei. O sorriso que ela me deu foi sutil, quase imperceptível, mas, de alguma forma, me desarmou. Eu estava acostumado a controlar qualquer situação, mas ali, naquele momento, algo me dizia que eu estava lidando com uma mulher que poderia facilmente virar o jogo.