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CAETANO

Volto pro meu apartamento com lágrimas ainda escorrendo pelo meu rosto. Eu entendo que o Chico só quer se proteger e me proteger, mas por que tem que doer tanto? Por que tem que ser tão difícil?

Ao abrir a porta, encontro minha irmã sentada no sofá, dedilhando meu violão. Ela se vira pra mim com um sorriso, que rapidamente se desmancha quando percebe minha expressão devastada.

"O que aconteceu, Caê? Achava que você ia passar o dia com o Chico, aconteceu algo?"

"Tá tudo bem, Bethânia. Só é uma alergia" digo a ela com um sorriso falso impresso no rosto

"Acha que vai me fazer de trouxa, Caetano? Se o Chico fez algo errado eu corto o pau dele fora" ela diz com uma expressão raivosa que não me faz duvidar que ela realmente faria isso, mas sua fala é ridícula o suficiente para me fazer rir um pouco

"Eu juro, ele não fez nada pra me machucar, eu só preciso dormir um pouco, tá bom?"

"Se você diz... olha, eu preciso me encontrar com a Gal agora, você promete que vai ficar bem?" Eu aceno a cabeça em afirmação "então tá, mas qualquer coisa você me liga, maninho"

Ela me dá um abraço e sai não muito tempo depois. Fico sentado no sofá, encarando o nada com um sentimento vazio no peito, até que ouço várias batidas exasperadas na porta.

"Bethânia, se você esqueceu a chave da moto aqui de novo eu juro que eu jogo fora-" falo enquanto abro a porta, mas minha reclamação é interrompida quando percebo quem está na porta.

Chico.

"Caetano... oi" ele diz com um sorriso tímido, sua voz embargada e olhos avermelhados me indicam que também andou chorando.

"O que você quer, Chico?" Tento manter uma cara firme. Não vou deixar que ele me conquiste com aqueles olhos azuis depois de me deixar sozinho na praia

"A gente pode conversar? Eu... eu queria pedir desculpas por hoje mais cedo"

Abro mais a porta para que ele possa entrar. Sentamos no sofá, mas eu encaro o chão, e não seu rosto.

"Caê, olha pra mim, por favor..." sua voz tem um tom um pouco desesperado

"Não me chama assim. Você perdeu esse direito quando me abandonou na praia" adiciono um pouco de drama à minha fala, mas ele merece

"Caê- Caetano, eu sei que eu errei, por favor! Eu não quis, eu juro..." ele prende a respiração "eu... eu tô com medo, Caetano... eu não quero que eles te machuquem, não quero que ninguém te machuque" seus olhinhos brilham com lágrimas que ameaçam escapar, eu consigo ver que ele está tremendo, então seguro suas mãos

"Chico, Chico, respira, calma..." faço ele respirar fundo por um tempo "eu também tô com medo, Chico. Tenho muito medo. Mas o medo não vai embora se a gente reprimir o que sente, ele fica aprisionado dentro da gente, e eu... eu gosto muito de você, carioca, muito mesmo"

"E-eu também gosto muito de você, baiano, eu... eu acho que eu prefiro sentir medo junto de você do que sentir medo sozinho..." ele diz com uma voz ainda embargada. Seco suas lágrimas com o meu polegar

"A gente pode tentar, meu bem... ninguém precisa saber. Vai ser só eu e você, juntinhos. O que você acha?"

Ele deita a cabeça no meu ombro "Caê..."

"Oi" passo minhas mãos pelo cabelo dele

"Me beija de novo?" Ele retira a cabeça do meu ombro e me encara com aqueles olhos de aquarela dele que, mais uma vez, me encantam

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⏰ Última atualização: Nov 23, 2024 ⏰

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