Capítulo 1: Uma Noite no Sertão

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 O vento seco do sertão soprava forte, espalhando a poeira da terra rachada pela estrada de Arcoverde. João caminhava cansado, mochila surrada nas costas e os fones de ouvido quase sem bateria tocando o último forró que conseguira baixar. A noite era escura, mas as estrelas brilhavam como se estivessem piscando para ele. O jovem de 19 anos estava voltando do seu trabalho como ajudante em uma pequena oficina. Era só mais um dia normal. Pelo menos, era o que ele achava.

A estrada parecia mais longa que o normal, e o silêncio incomodava. Normalmente, os grilos e o coaxar das rãs faziam companhia nessa caminhada, mas naquela noite, nem mesmo o vento parecia natural. Ele sentiu um calafrio, algo que não combinava com o calor sufocante do sertão.

"Coisa da minha cabeça...", murmurou, tentando se convencer enquanto apressava os passos.

De repente, ele viu algo ao longe. Uma luz azulada dançava no ar, no meio do nada. Era fraca, mas brilhante o suficiente para cortar a escuridão. Curioso, João parou.

"Oxe, será que é alguém soltando fogos? Mas... não é época de festa."

Mesmo com o instinto gritando para seguir em frente, a curiosidade foi mais forte. João saiu da estrada e seguiu a trilha de terra até a luz. A cada passo, o ar parecia ficar mais pesado, como se algo estivesse pressionando seu peito. Quando ele finalmente chegou perto, parou, incrédulo.

A luz não vinha de uma lanterna, nem de fogo. Era algo que ele nunca tinha visto antes. Um círculo brilhante flutuava no ar, com padrões intrincados que pareciam se mover sozinhos. Ele esticou a mão, hesitante.

"Será que é algum tipo de projeção? Tipo aquelas coisas de filme de gringo?"

Antes que pudesse pensar melhor, um barulho surgiu de dentro do círculo. Um rugido grave, profundo, que fez o chão vibrar sob seus pés. João deu um passo para trás, mas não teve tempo de fugir.

O portal se abriu.

De lá saiu uma criatura grotesca, como um lagarto gigante coberto de espinhos brilhantes. Seus olhos eram de um vermelho intenso, e sua boca cheia de dentes afiados parecia sorrir de maneira macabra.

"Que desgraça é essa?!" gritou João, caindo de costas no chão.

A criatura rugiu novamente e avançou. João tentou se levantar, mas seus pés pareciam travados no chão. Ele sentiu o cheiro de enxofre e morte conforme a coisa se aproximava.

Foi quando algo inesperado aconteceu. Uma voz rouca, quase sussurrada, ecoou ao seu redor.

"Levanta, moleque. Ou vai morrer como um covarde."

João olhou para os lados, mas não viu ninguém. A voz continuou, agora mais clara.

"Você tem coragem, eu sei. Usa isso."

De repente, uma figura surgiu na sua frente. Não era um humano, nem uma criatura. Era o Caipora, uma entidade pequena, de pele escura como carvão e cabelos feitos de folhas secas. Ele carregava um arco e olhava para João com olhos brilhantes, quase dourados.

"Se quer sobreviver, aceite meu pacto. Não vai ser fácil, mas vou te dar uma chance."

"O quê? Que pacto? Que diabo tá acontecendo aqui?!" João gritou, ainda tentando entender se estava sonhando ou tendo uma crise de calor.

"Não tem tempo para explicações, menino. Escolhe agora: enfrenta o monstro ou vira comida dele."

João sentiu o coração disparar. A criatura estava quase em cima dele, o rugido ecoando em seus ouvidos.

"Eu... eu aceito!"

No instante em que disse isso, o Caipora tocou sua testa, e uma energia quente percorreu seu corpo. Era como se fogo corresse por suas veias. Sua visão ficou turva por um momento, mas quando clareou, ele estava de pé, com um facão brilhante em mãos.

"Agora vai. Mostra que tem força."

A criatura rugiu, e João avançou, ainda tremendo, mas sentindo algo novo: coragem.

Guardião do SertãoWhere stories live. Discover now