1

158 12 8
                                    


Abri os olhos lentamente, sentindo o frescor do vento entrar pela pequena fresta em minha janela, havia um pequeno raio de sol que surgia dali em meio a escuridão que habitava meu quarto. Suspirei, sentindo os lençóis macios em minhas pernas, encarei o relógio, 6:30 da manhã. Precisava sair da cama, mas meu corpo parecia estar planejando o contrário. Permaneçi ali por mais alguns minutos, mas logo que o tempo passou percebi que não podia prolongar mais. Tinha mesmo que levantar.

Suspirei pisando lentamente no chão frio, fui até o banheiro e lavei o rosto, precisava me manter acordada, pelo menos até a aula acabar. Minhas noites não eram boas há muito tempo, a maioria delas passava acordada até as cinco da manhã, meus olhos não se fechavam nem mesmo seu estivesse morrendo. E por consequência disso, sempre estava cansada. Exatamente como naquela hora.

Ainda no banheiro, tomei um banho e vesti meu uniforme, corri para pegar minha mochila e meus sapatos e fui para a cozinha tomar café.

Por uma triste brincadeira do destino sádico, Matthew estava na cozinha, vestindo apenas uma calça jeans e tênis preto. Não suportava sua presença, era como ter um inseto irritante zumbindo nos seus ouvidos. Sentei-me numa cadeira e peguei um dos sanduíches que estavam no prato a minha frente e ele resmungou.

- Pode pegar sim. Fiz especialmente pra você! - sorriu sarcástico.

- Obrigada, você é um ótimo irmão!-disse retribuindo o sarcasmo. Não demorei muito a terminar meu café. Chequei se havia pegado tudo e fui saindo rapidamente.

Logo já estava na escola, andando apressada pelos corredores em busca de minha amiga. A vi saindo do banheiro e me apressei para alcança-la.

-Ei, o que aconteceu com você ontem? - perguntei notando a estranha expressão de surpresa que surgiu no rosto dela.


- Eu estava ocupada. - disse dando de ombros. Ela estava mentindo, eu sabia disso. Ela sempre desviava o olhar para suas mãos quando mentia.

- Sério? Fazendo o que? - cruzei os braços esperando mais uma mentira.

- Eu... eu estava... eu... - As bochechas dela coraram e ela mordeu o lábio inferior quando Grag passou por nós.

- Já entendi. - bufei e saí andando. Ela me seguiu.

- Espere! - gritou.

- Preciso ir! - disse saindo dali. Ela sabia o quanto eu gostava dele, e ainda sim babava por ele bem na minha frente. aquilo me deixou furiosa. Fui direto para minha sala.

...

No intervalo avistei Alissa conversando com Grag, só naquele momento entendi o que estava acontecendo. Já fazia alguns dias que ela estava estranha, sempre distante, parecia estar em outro mundo, como se estivesse apaixonada, e de fato eles estavam pelo que notei.

Quando a aula finalmente acabou, ajeitei meu material e saí da sala. No corredor esbarrei com um garoto que saiu pisando forte e resmungando.

- Desculpe. - disse saindo dali apressado. Apenas ignorei, ele não era o unico que não me enxergava.

Cruzei o pátio da escola apressada, queria chegar em casa logo e me atirar em uma panela enorme de brigadeiro. Assim que cheguei, me joguei no sofá, estava cansava. Precisava de banho e chá. Foram dez minutos muito relaxantes, depois me enrolei na toalha e sai para preparar o chá.

A cozinha estava organizada e cheirando a lavanda, notei um bilhete preso por um íman na porta da geladeira, peguei-o.

"Volto amanhã, precisei ir para Los Angeles. Desculpe. Amo você, papai."

Revirei os olhos, ele sempre fazia isso. Ao menos ficaria sozinha em casa no fim de semana, já que minha madrasta estaria em Nova York á trabalho e meu querido irmão postiço provavelmente vai para a casa de uma alguma líder de torcida. Comecei a planejar o fim de semana, série, pizza e uma boa garrafa de vinho. Talvez uma praia no domingo a noite com Alissa, isso se ela arrumar um tempinho para mim.

Depois de preparar o chá, segui indo para meu quarto, notei uma foto, das muitas que estavam por todos os lados nas paredes do corredor, uma minha, com quatro anos, abraçada com minha mãe. Sorriamos, acredito que aquele foi o último passeio em família que tive antes de perdê-la. Suspirei. Beberiquei o chá, sentindo meu corpo relaxar ainda mais com aquela deliciosa bebida.

Ouvi alguns sons vindos do quarto de meu irmão, imaginei que ele estivesse com seus amigos, matando aula. Caminhei até a porta de seu quarto e encostei meu ouvido na porta, sentindo uma necessidade imensa de abri-la, mas resisti.

Ouvi risadas abafadas e cochichos, ignorei e continuei meu caminho para meu quarto. Ouvi a porta do quarto dele se abrir e tentei correr em direção ao meu, pois ainda estava de toalha.

Ele e mais dois amigos saíram do quarto, gargalhando e soltando palavrãos que eu desconhecia. Ele me enxergou e não evitou em me fazer passar vergonha.

- Não deveria estar na rua? - perguntou ele fazendo todos me olharem. Parei de andar e voltei minha atenção para eles.

- Não deveria estar na faculdade? - Ele deu de ombros.

- Onde está seu pai e minha mãe? - perguntou cutucando um de seus amigos.

- Não aqui como pode perceber. - sorri sarcástica e entrei em meu quarto.

Esse garoto me dava nos nervos. Vesti algo confortável e sentei na cama, terminei meu chá e peguei um livro, após cinco minutos ali, minha porta se escancarou e ele entrou em meu quarto.

- Quer pizza? Vamos dar uma festinha hoje. - disse com um sorriso malicioso.

- Sua mãe sabe Matthew? - perguntei cerrando os olhos.

- Não interessa. Quer ou não? - dei de ombros.

- Pode ser.

- Vai ter que entrar na brincadeira então. - ele sorriu.

- Que brincadeira ? - indaguei.

- Verdade ou consequência.

Era só o que me faltava!

Um Caminho Sem VoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora