Capítulo 2: In the (L.A.) Kitchen

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Por cerca de dois meses, Renata e Lina exploraram Los Angeles como confidentes. Eram carne e unha. Se Renata sugeria passeios ao ar livre, praias e roteiros culturais, Lina incentivava a adrenalina, como visitar os parques temáticos e se matricular em aulas de surfe e esportes radicais. Elas se complementavam. Elas se amavam. Então como pode um sentimento tão forte e genuíno ir perdendo força com o tempo?


Certa vez, Lina cozinhava distraída na cozinha quando Renata chegou em casa. Ela sempre era recepcionada por uma das deliciosas receitas de família da amada.

 — Hmmm, que cheirinho gostoso! Meu amor é muito mestre cuca mesmo. — Renata elogia.

Lina sorri, retribui o beijo e sugere — Quer me ajudar cortando os temperos, linda?

 — Seu pedido é uma ordem. — Renata faz uma continência com a mão.

Após Renata guardar suas coisas, lavar as mãos e iniciar a tarefa de ajudante, Lina se aproxima sorrateiramente e a abraça por trás.

— Senti saudades de tu hoje... dia corrido?

Renata vira o pescoço para beijá-la, mas segue cortando os temperos. — Nossa, eu emendei uma reunião atrás da outra. Tô exausta.

— Eu te faço uma massagem com direito a estalar as costas depois, então.

Renata se vira, com cada fibra do seu corpo desejando o cumprimento daquela oferta — Aiii, por favor! Eu te amo, você é a melhor namorada do mundo.

Lina se afasta quando percebe Renata se descuidando com a enorme faca que está em suas mãos.

 — Eu também te amo, mas por favor, tenha cuidado! Eu não quero outra visita ao pronto socorro por causa de acidentes na cozinha.

Renata sorri e leva a mão à testa — Deus me livre! — Ela segura a faca e brinca, imitando a voz do Ghostface — Me responde então, "What's your favorite scary movie?" [qual o seu filme de terror favorito?]

 — Tá bom, fã de "Pânico", chega dessa faca. Já está bom de temperos.

Renata se direciona para a pia, onde as louças já estavam acumulando — Tudo bem, tudo bem... vou ficar quietinha aqui na louça então...

Após Lina refogar os ingredientes e a louça preliminar estar concluída, Renata decide continuar com o seu ataque de bobice. Ela torce o sabão da esponja na mão, e joga em Lina, que dá um pulo e um gritinho de surpresa.

 — Você não estava exausta? Que ataque é esse?? — Lina tenta se proteger com o pano de prato. Ela então consegue contornar a atiradora de sabão, e pegar o detergente. — Espero que você esteja preparada para a guerra que você se meteu, mocinha. — Lina aperta a garrafa de detergente na direção de Renata, se divertindo com a sua vingança.

A instigadora da bagunça se joga no chão, tapando o rosto, e declara a sua rendição. — Eu me rendo! Eu me rendo! Mas antes a gente precisa registrar esse momento.

Renata pega o seu celular e tira uma selfie das duas completamente molhadas de sabão, água e detergente. As gargalhadas preenchem o ambiente, enquanto cantam "Borbulhas de amor" e ficam rolando de rir no chão.

Até a panela começar a chiar, e Lina correr para abaixar o fogo. — Coloca essa música na nossa playlist.

Renata, então, decreta — Para quem falava que era cafona ter playlist de casal, você está colocando mais músicas do que eu, hein!

 — Ai, tá bom... você adora jogar as coisas na minha cara, né? Aproveita que eu tô carinhosa hoje, e coloca uma dessas fotos de agora como capa, aí. — Lina diz, sorrindo, e Renata se enche de ânimo com a ideia, prontamente obedecendo.


Criar uma playlist é um gesto tão simples, agora tem até a função de dar match em que o próprio app personaliza os gostos em comum dos perfis. Tudo flui!

Mas, e quanto a apagar a playlist? Ninguém comenta sobre como lidar com esse vestígio, uma vez que o distanciamento acontece. Deletar os planos construídos coletivamente não apaga as memórias, mas indica uma tentativa. Deletar pode ser um comando que não tem mais volta. E de quem deve ser o primeiro passo? Existe uma passagem de tempo ideal para ser o momento certo? Por quanto tempo é necessário abrir o seu app de música e dar de cara com ela, a playlist montada dia a dia com os segredos que só vocês sabem por trás de cada escolha, e que agora é uma facada no peito, exatamente pelos mesmos motivos? Porque pode parecer só uma lista de músicas colaborativas, mas os sentimentos compartilhados ali já não são mais os mesmos.

No presente, todas essas indagações pairam na cabeça de Renata, deitada no sofá, cercada por almofadas que parecem falar e perguntar onde está Lina. Mas isso é história para o próximo capítulo!

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In the Kitchen: Reneé Rapp em 'Histórias de uma Playlist'Onde histórias criam vida. Descubra agora