No início, a distância era apenas um detalhe.
Dois anos atrás, Melina e Memphis acreditavam que nada poderia abalar o que tinham. As horas intermináveis de chamadas de vídeo eram repletas de risadas, conversas sobre o dia a dia e sonhos para o futuro. Eles encontravam maneiras de fazer funcionar, mesmo com a diferença de fusos horários e rotinas agitadas.
Ele estava no Brasil, vivendo o auge da carreira no Corinthians, enquanto ela se dedicava como psicóloga do Real Madrid. Eram mundos opostos, mas eles sempre encontravam um jeito de se encaixar. Os encontros raros, mas intensos, eram suficientes para reabastecer o amor que compartilhavam. Bastava um final de semana juntos para lembrar que valia a pena.
Mas, com o tempo, as coisas começaram a mudar.
As mensagens que antes eram constantes começaram a espaçar. "Bom dia" e "boa noite" se tornaram textos rápidos, quase automáticos. As chamadas de vídeo, que eram cheias de vida, foram ficando mais curtas, mais práticas.
── Preciso desligar, tenho treino cedo amanhã. ── Ele dizia, a voz cansada do outro lado da tela.
── Claro, tudo bem. Boa noite, Memphis. ── Melina respondia, escondendo a decepção.
Ela também estava ocupada. Os atendimentos no Real Madrid consumiam seus dias, e as reuniões com jogadores a exauriam mentalmente. Quando finalmente tinha um momento livre, ele já estava dormindo ou ocupado com os compromissos do time.
Mesmo os raros encontros começaram a mudar de tom. Antes, a saudade tornava tudo mágico, mas, nos últimos meses, a mágica parecia estar desaparecendo. Na última visita de Memphis a Madri, eles jantaram em silêncio, a conversa girando apenas em torno de compromissos e rotinas.
── Está tudo bem? ── Ele perguntou, enquanto girava o garfo no prato de massa que mal tocara.
── Só cansada. E você? ── Ela devolveu, tentando não parecer distante.
── Igual. ── Ele respondeu, dando de ombros.
O fogo que os unia parecia estar se apagando lentamente, e nenhum dos dois sabia como reacendê-lo.
Até que veio a última visita de Melina ao Brasil. Ela encontrou Memphis em seu apartamento, e o clima estava estranho desde o início. Ele a abraçou, mas o calor familiar não estava lá. Eles conversaram sobre o tempo, sobre futebol, sobre coisas sem importância, evitando o verdadeiro problema até que ele não pôde mais.
── Não sei por onde começar. ── Ele finalmente disse, de pé perto da janela.
Melina o observava, apoiada na mesa, sentindo o peso daquelas palavras.
── Talvez pelo começo? ── Ela sugeriu, mas o sorriso que tentou dar não alcançou os olhos.
── Eu só… ── Ele começou, depois parou. ── Parece que a gente está vivendo vidas completamente diferentes. Quando foi a última vez que realmente conversamos, Melina? Não sobre trabalho, ou rotina, mas sobre nós?
Ela desviou o olhar, sentindo o nó na garganta.
── Faz tempo. ── Admitiu.
Memphis respirou fundo, apertando os olhos como se estivesse tentando organizar os pensamentos.
── Não é sua culpa. Nem minha. Só… mudou.
Ela não respondeu. Sabia que ele estava certo, mas ouvir isso em voz alta doía mais do que imaginava.
── A gente parou de tentar, Mel. ── Ele continuou, e a voz dele quebrou no final. ── Eu te amo, mas não sei se isso é suficiente agora.
Ela sentiu o chão desaparecer sob seus pés. Não havia brigas, traições ou mágoas. Só o silêncio que havia se infiltrado entre eles ao longo do tempo.
── Você acha que devemos terminar? ── Perguntou, a voz saindo mais fraca do que gostaria.
Ele hesitou, a dor evidente no olhar.
── Eu acho que precisamos. Não quero que isso vire algo cheio de mágoa ou ressentimento. Não quero que a gente acabe se machucando mais.
Melina engoliu em seco, sentindo as lágrimas se acumularem nos olhos.
── Eu também não. Mas isso não torna mais fácil.
── Nada disso é fácil. ── Ele respondeu, dando um passo à frente, mas parando antes de alcançá-la. ── Só quero que você saiba que eu te amo. Sempre vou.
Ela não conseguiu segurar as lágrimas.
── Eu também te amo. E talvez isso seja a parte mais difícil.
Memphis pegou as chaves do carro e hesitou na porta. Ele a olhou uma última vez, como se quisesse gravar aquela imagem na memória, antes de sair sem dizer mais nada.
Melina ficou sozinha na sala, ouvindo o eco da porta se fechar e a chuva começar a cair do lado de fora.
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𝘫𝘰𝘨𝘢𝘥𝘢𝘴 𝘥𝘰 𝘢𝘤𝘢𝘴𝘰, 𝐌𝐄𝐌𝐏𝐇𝐈𝐒 𝐃𝐄𝐏𝐀𝐘 | 02
FanfikceLivro 02 de Jogadas do Acaso, com Memphis Depay. É necessário ler o primeiro para entender esse! Dois anos após um término doloroso, Melina e Memphis construíram vidas separadas, mas uma reviravolta inesperada os coloca novamente no mesmo campo. Lu...