Carolline

Capítulo 1

Quando eu era pequena, acreditava que iria me casar com o cara dos meus sonhos: lindo, romântico, carinhoso e que, acima dessas coisas, me amasse.
Mas eu fui crescendo e acreditando que isso, talvez, não iria acontecer comigo. Não o pacote completo. E hoje, com quase 17 anos, minhas ideias sobre isso vêm mudando cada vez mais.
- CAROL!!! - minha mãe grita, me tirando dos meus devaneios, pra poder ir para a escola.
- Já vou mãe.
Com toda certeza do mundo, eu não suportava mais aquela escola. Tudo já era a mesma coisa pra mim. Os mesmos professores, os mesmos funcionários, os mesmos alunos. Acho que a única coisa que me animava, pelo menos um pouco, a ir para aquele lugar eram meus amigos. Tais são os melhores que alguém poderia ter. Sempre que a gente se encontrava, fazíamos a maior festa, mesmo dentro da escola.
E naquela manhã não foi diferente. Quando eu cheguei na escola, já estavam os três a postos pra mais um novo dia.
- Olha só! A nossa Bela Adormecida chegou! - essa é a Bianca, minha melhor amiga. Ela é o oposto de mim: extrovertida, comunicativa, festeira e tem vários amigos. As vezes eu a chamo de Jambo. Sua cor é bem parecida com a da fruta, meio morena mas nem tanto. Seus cabelos são ondulados e longos e seus olhos são de uma cor que eu ainda não defini qual é: mel, castanho claro, folhas secas. Mesmo sendo da cor-indefinida, são lindos.
- Pois é, se eu não aparecesse vocês sentiriam muito a minha falta. Então resolvi vir. - respondi e a abracei.
- Nossa, verdade. Sem você nós não vivemos. - foi a vez da Jéssica. Ela é alta, muito alta perto de mim, que sou baixinha. Loira de olhos verdes e cabelo cacheado. Pois é. Quem acredita?!
- Oi Carollis - Esse é o Yan-todo-seco. Ele é irmão da Bianca. Eles são exatamente do mesmo jeito, mas o cabelo dele era liso, bem liso. Tinha um corte que eu também não havia definido, mas era puxado pra trás, em camadas. É. Não entendo mesmo.
Ele me deu um abraço também, como o das meninas. Talvez tenha sido impressão minha, talvez não, mas acho que senti ele dando um longo suspiro quando me abraçou. Como se estivesse tentando sentir algum cheiro que estava por perto.
Assim que ele o fez, ficou mais alguns segundos junto a mim. Eu sentia que meu rosto estava com um grande ponto de interrogação. Talvez ele tenha ouvido meus pensamentos, porque no mesmo instante, ele me soltou e estava tentando esconder uma cara de assustado misturada com preocupação.
- Minha primeira aula é Geografia e a de vocês? - a Jess perguntou, quebrando o clima pesado que havia se formado. Foi o maior segundo da minha vida.
- Não sei qual a minha - respondi
- Nem eu - Yan e Bianca responderam em coro.
A Bia e o Yan eram da minha sala e eu estava esperando que um deles soubessem qual era nossa primeira aula. Eu estava torcendo para que não fosse química. Eu não tinha feito a última atividade que o professor passou.
- Bia, você fez a última atividade de química? - perguntei, enquanto nós duas andávamos pra sala.
- Oi? Atividade de química? Ca, o que foi aquilo com meu irmão?
- Aquilo o quê? - será que não era coisa mesmo da minha cabeça ou a Bianca estava ficando doida junto comigo?
- Ca, tem alguma coisa rolando entre vocês dois?
- O quê? Claro que não Bianca. De onde tirou isso?
- Carol, desculpa se isso soar uma ofensa aos cegos, mas até um deles perceberia que tinha algo a mais naquele abraço entre você e o Yan.
- Então chamem os cientistas, porque isso vai se tornar um avanço nas pesquisas deles.
- Para com esse seu sarcasmo, Ca. Já que você está dizendo que não reparou, eu reparei sim.
O sinal bateu. Pro meu alívio. Não ia aguentar mais aquele assunto. Mesmo que eu não sinta nada pelo Yan, falar de assuntos assim me incomoda.
- Tenta não dar bandeira na sala, Bia, por favor - pedi a ela.
- Você está pedindo isso pra pessoa mais discreta que você conhece, Ca. - ela tirou os cabelos do ombro enquanto dizia. Pena que eu sei que isso não é verdade.
- Vou ficar de olho em você. - fingi uma cara de exterminadora pronta para seu próximo alvo.
- E eu ficarei de olho em você. - ela se virou pra frente - E no Yan também - ela sussurrou tanto que eu praticamente nem escutei.
Pronto. Agora vou ter minha melhor amiga - que é super doida, por sinal - dando uma de Sherlock Holmes pra descobrir se tem algo entre mim o irmão dela. Da minha parte ela pode ter certeza que não teve e nem terá nada. Mas será que... será que da parte do Yan é o contrário? Será que aquele abraço teve mesmo algo a mais?