Capítulo 1

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Oito meses antes

Ressaca. Esse é meu estado nesse exato momento. As coisas parecem rodar o tempo todo, mas esse é o preço que pagamos por uma boa noite de farra. Ontem completei 21 anos de idade, é claro que meus pais não se lembraram, eles só se lembram de coisas relacionadas a cifrões, e esse não é o caso. Já faz tempo que estou acostumada a viver sem a atenção deles, eles nunca têm tempo para mim, às vezes acho que fui um erro em suas vidas, por isso não tento muito contato, não vale a pena. Então foi por isso que ao invés de festejar com a família como a maioria das pessoas faz, decidi aproveitar para festejar em uma das boates mais badaladas de São Paulo, que por acaso pertence ao meu pai.

Na verdade, é meio insuportável conseguir ficar perto dos meus pais, e isso só fica mais evidente quando estou em eventos como os de agora, já tem mais de uma hora que estamos tomando um café da manhã feito para sete pessoas, mas que com toda a certeza do mundo alimentaria mais de cinquenta pessoas que não têm o que comer. Meus pais não se cansam de falar sobre a nossa empresa, o casal amigo dos meus pais não se cansa de falar de coisas fúteis, e o outro casal não consegue parar de olhar para meu pai como se ele fosse o salvador da pátria. É simples, meu pai compra empresas falidas e investe nelas, eu particularmente acho um negócio bem desonesto, já que ele tem influência e sempre consegue fazer com que a empresa cresça dez vezes mais, e quando isso acontece ele as vende por valores absurdos. E os donos das empresas? Esses nunca mais chegam perto dela. Muitas vezes são empresas de família, e os donos sempre acham que conseguirão recuperá-las, mas é claro que isso não acontece.

—Vocês gostaram do perfil da nossa empresa? —pergunta o senhor de meia idade ao meu pai.

—Se trata de uma empresa muito interessante, mas não podemos comprá-la no momento.

— Tem algo de errado com ela, Daniel? — pergunta o homem.

Eu nunca vi meu pai recusar uma empresa, as coisas nessa casa estão bem estranhas ultimamente, meu pai tem ficado mais tempo em casa que o normal, minha mãe não tem ido com tanta frequência ao shopping, e três empregados já foram dispensados, sem contar que eu tive que quase promover a terceira guerra mundial para convencer meu pai a me dar dinheiro para fazer a minha festa.

— Não é isso, é que estamos com alguns problemas internos, então paralisamos as compras por um certo período.

Eu já sei que agora o tal senhor vai começar a enumerar as milhares de qualidades de sua empresa, e sinceramente não estou querendo nem um pouco ter que ouvir isso.

— Foi um prazer conhecê-los. — falo me levantando. — Mas eu preciso ir na casa de uma amiga fazer um trabalho da faculdade.

Eu faço faculdade de moda, não há nada nesse mundo que me dê mais prazer do que criar roupas, eu nunca tive dúvidas sobre o que fazer, desde criança eu tinha certeza de que meu futuro seria no mundo da moda. Minha mãe tentou me fazer ingressar no mundo das passarelas, mas isso nunca foi para mim, meu sonho é estar nos bastidores enquanto uma outra mulher brilha com uma criação minha.

— Filha, nós precisamos conversar. — fala meu pai assim que me levanto.

— Eu não vou demorar, pai. Podemos conversar quando eu voltar.

— Tudo bem.

Entro no meu carro e em menos de dez minutos estou estacionando em frente à casa de May, ela mora em um condomínio bem perto da minha casa, então sempre chego rápido, exceto quando há algum tipo de evento por aqui, o que vem se tornando cada vez mais raro.

— Oi amiga, pensei que tinha esquecido o caminho da minha casa. — minha amiga como sempre engraçadinha.

Conheci a Mayara quando nós tínhamos uns cinco anos, estudamos na mesma escola até nos formarmos, e como nós duas queríamos a mesma coisa, acabamos por optar pela mesma faculdade. Somos aquele tipo de amigas que não se separam para nada.

— Idiota! — brinco. — Onde estão todos?

— Estão todos na piscina.

Vamos para a piscina e lá começamos a fazer nosso trabalho, todos nós contribuímos com boas ideias, não é nada que nunca fizemos, mas cada trabalho merece uma atenção especial. Todos que estão aqui são os melhores da turma, somos extremamente perfeccionistas, e esse é o motivo que faz com que nossas notas sejam as mais altas da sala. Depois de aproximadamente três horas conseguimos concluir nosso trabalho, aos poucos as pessoas começam a ir embora, e por fim sobramos eu e Mayara.

— Meu pai quer conversar comigo, amiga. — falo demonstrando minha preocupação.

— Você deve ter estourado o cartão de crédito de novo. — ri.

— Não, ele estava com uma cara séria, dessa vez parece que estou fodida. — fala pegando minhas coisas para ir embora.

— Calma, não deve ser nada demais, você vai ver.

— Eu já vou indo, espero que você esteja certa.

— Tudo bem, qualquer coisa pode me ligar. — ela me abraça.

Saio da casa da May e dirijo pensativa para casa, não me lembro de ter feito nada de errado, as vezes isso é só paranoia da minha cabeça, provavelmente meu pai só quer me comunicar de mais uma viagem que ele e minha mãe estão pensando em fazer.

Ao chegar em casa vou direto para o escritório de meu pai, não existe outro lugar onde ele fica por tanto tempo. Meu pai, Daniel, é um homem viciado em trabalho, tudo que ele faz é ligado à empresa, ele daria sua vida por aquela empresa, disso eu não tenho dúvida alguma. Minha mãe, Antonela, é uma perua rica, sempre gastou rios de dinheiro em roupas e tratamentos caros, e não tem o menor problema em posar como a esposa troféu, eles formam um casal perfeito.

— Pode falar, pai. — ele analisa alguns papéis enquanto minha mãe está ao seu lado com cara de poucos amigos.

— É um assunto delicado, acredito que deva se sentar. — fala sério.

— Estou bem de pé. — dou de ombros.

— Você é quem decide. — suspira. — Serei bem direto. A empresa está quebrada.

— Que tipo de brincadeira é essa, pai? Isso não tem graça, não existe possibilidade da empresa estar quebrada, hoje mesmo tinha gente aqui em casa querendo fazer negócio.

— E você acha que eu não comprei a empresa por quê? — pergunta. — Eu comprei cinco empresas que tinham potencial, mas eu simplesmente não sei o que aconteceu, todas elas não deram bons resultados, e eu apostei muito alto em todas, apostei nelas dinheiro que eu nem tinha, filha. — fala derrotado.

— Estamos pobres? — pergunto.

— Infelizmente sim, mas existe uma solução.

— Qual?

— Eu tenho um amigo, a empresa dele tem a mesma finalidade que a nossa, ele propôs uma unificação das empresas, essa seria nossa única saída, ele é muito rico, perto dele somos moradores de rua, eu achei a proposta bem interessante, mas para que isso aconteça precisaremos de você.

— Precisam de mim para quê? — pergunto.

— Você terá que se casar com o filho dele.

Meu adorável cafajeste - SÉRIE CAFAJESTES DA LEI - Livro 1 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora