Um Natal Imune De Solidão

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O espírito natalino tomava conta de cada canto da cidade. As luzes brilhavam intensamente, e as ruas estavam repletas de enfeites e músicas que traziam um calor especial, apesar do frio do inverno. Dentro de casa, os preparativos seguiam a todo vapor. Pela primeira vez, o Natal seria comemorado com a casa cheia.

Hope, Hayley, Josh, tia Caroline e sua mãe, Penelope, Elliot e Maria estavam presentes, ajudando com entusiasmo. Josh passava o Natal conosco todos os anos desde que sua família cortou relações com ele após ele se assumir. Vovó praticamente o adotou desde então.

Na cozinha, vovó e Maria preparavam alguns pratos. Desde o momento em que se conheceram, haviam se tornado grandes amigas. Enquanto isso, Lizzie, Hope e Josh organizavam as mesas da cafeteria, ajeitando toalhas e talheres. Elliot era encarregado de ajudar a tia Caroline a pendurar os enfeites. Ela e Klaus haviam combinado de passar o natal com suas respectivas famílias. E ele compreendeu, não seria confortável para a Hope se ele estivesse presente.

Penelope, por sua vez, ficava encarregada de cuidar de mim. Seu olhar atento certificava-se de que eu tomava os remédios nos horários certos. Minha recuperação seguia a todo vapor, com dias bons e outros nem tanto, mas o pior já havia passado. A gratidão por essa nova chance de vida transbordava no meu coração.

Estávamos todos reunidos ao redor da grande mesa farta, rindo e brincando como uma verdadeira família. Eu me sentia confortável, observando a interação de todos com um sorriso no rosto. Pela primeira vez em muito tempo, meu coração estava em paz. Penelope conversava animadamente com minha avó, como se fossem grandes amigas. Josh e Hope faziam uma performance exagerada no karaokê, arrancando gargalhadas de todos. Maria batia palmas, incentivando-os, enquanto Elliot e Hayley encorajavam a dupla a cantar ainda mais alto. Emma apenas observava com um sorriso contido. Ela parecia bem à vontade com as pessoas.

Josh e Elliot haviam transformado o karaokê em uma competição, com Hope e Lizzie vibrando a cada nota. Eu estava perplexa como Elliot sem aquele terno intimidador é uma pessoa muito divertida. Ele participava de todas as loucuras que Josh e Hope inventavam para passar o tempo.

Tudo parecia estar exatamente no lugar certo.

Foi então que o som do sino da porta ecoou pela sala.

Todos se viraram ao mesmo tempo, e a conversa cessou por completo quando um homem alto e imponente entrou. Vestia um grande sobretudo preto, denunciando o frio intenso lá fora. Ele segurava uma mala e, por um instante, a surpresa em seu rosto era tão evidente quanto a que todos sentíamos.

Ninguém esperava aquela visita.

Penelope ficou imóvel ao vê-lo.

- Eu espero não estar incomodando - disse ele, com a voz firme, mas carregada de algo que parecia ser hesitação.

- Claro que não! - minha avó respondeu primeiro, tentando quebrar o silêncio.

Ele se virou para ela e estendeu a mão com respeito.

- Muito prazer, sou Gregory Park, o pai da Penelope.

Minha avó piscou, surpresa, antes de apertar sua mão.

- Elizabeth. Sou a avó da Josie e da Lizzie. É um prazer conhecê-lo formalmente.

- E peço desculpas por vir só agora - Gregory disse, desviando o olhar para Penelope, que permanecia estática.

Ela respirou fundo e quebrou o silêncio:

- Pai... o que você está fazendo aqui? Você não deveria estar na Califórnia?

Gregory sorriu de lado, como se esperasse essa reação.

- Sim, era onde eu deveria estar. Mas, se você não se importar, eu gostaria de passar o Natal com você. Com todos vocês, na verdade - A tensão no ar se dissolveu aos poucos, e os olhares antes desconfiados se tornaram curiosos. - Eu percebi que passei tempo demais longe do que realmente importa - continuou Gregory. - E que o mais importante na vida não está nos negócios, nem nas viagens..., mas ao lado de quem amamos.

Ele deu um passo à frente, parecendo hesitante.

- Por isso, desisti da viagem. Peguei o primeiro voo e vim direto para cá. Espero que não esteja sendo inconveniente.

Minha avó sorriu gentilmente.

- De forma alguma. Sinta-se em casa, Gregory. Afinal, você faz parte da família.

Foi então que notei a mudança no semblante da Penelope. Sua expressão tensa se suavizou, dando lugar a um brilho nos olhos que raramente se via. Ela parecia finalmente ter encontrado algo que sempre lhe faltara.

Gregory rapidamente se entrosou com o restante das pessoas. Engatou uma conversa animada com Elliot e Josh, e logo estava se sentindo realmente à vontade.

Penelope se aproximou de mim e se sentou ao meu lado, segurando minha mão. Eu podia sentir sua felicidade transbordando.

- Você está tão feliz assim? - perguntei, acariciando sua pele fria.

Ela sorriu, mas seus olhos estavam levemente marejados.

- Eu acho que ele era a peça que faltava para tudo se encaixar, sabe? - disse, sua voz repleta de emoção. - Eu nunca tive um Natal assim, com tantas pessoas queridas ao meu redor - Suspirou, apertando minha mão com mais força. - Sempre foi só eu, Elliot e Maria. Nunca tivemos um Natal de verdade. Meus pais nunca estiveram juntos nessas datas, e eu cresci acostumada a isso.

Ela riu sem humor, balançando a cabeça.

- Eu passei anos não gostando do Natal, porque era solitário demais. Mas este ano... este ano é diferente.

- Diferente bom? - perguntei, sorrindo de leve.

Ela me olhou nos olhos, e seu sorriso se alargou.

- Sim, um diferente maravilhoso. Porque eu tenho você. E a sua família - Fez uma pausa, respirando fundo. - Eu finalmente me sinto parte de algo importante.

Havia tanta verdade em suas palavras que meu coração se aqueceu.

- E saber que meu pai escolheu estar aqui comigo, ao invés de qualquer outra coisa... Isso significa muito para mim. Mesmo que esteja faltando o Simon.

Ela sorriu, emocionada, e então sussurrou:

- Acho que posso dizer que este é um dos melhores anos da minha vida... Porque foi o ano em que eu conheci você.

Meu peito se apertou diante da profundidade do que ela sentia. Com um sorriso, levei minha mão ao seu rosto, acariciando-o com carinho.

- Eu também acho - murmurei.

Ela fechou os olhos por um instante, aproveitando o toque, antes de entrelaçar nossos dedos novamente.

E naquele momento, sob a luz quente das velas e o som das risadas que ecoavam ao nosso redor, tive certeza de que aquele Natal seria inesquecível.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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