Prólogo

923 60 30
                                    

Noite de Karaokê. Aquele definitivamente nunca seria um programa que eu escolheria por conta própria, mas eu estava num caso, e quanto antes eu achasse Shawna e Clay, melhor seria. Mas eu admitia que parecia ser engraçado. Ao menos o homem que estava em cima do palco parecia estar se divertindo

Desviei o olhar e não pude deixar de sorrir ao ver que um rosto familiar caminhava em minha direção. Meu sorriso desapareceu, assim que notei toda a aparência dela. Caitlin estava... diferente. Suas roupas habituais de trabalho haviam sido trocadas por um vestido preto brilhante, que abraçava suas curvas com perfeição e parava no meio de suas coxas. Eu nunca tinha reparado nas pernas dela antes. E eu me sentia um péssimo amigo por estar fazendo isso naquele momento.

"Que foi?" Caitlin perguntou com um sorriso inseguro.

"Nada... Quer dizer... você está muito bem." Muito bem estava longe de definir a aparência dela naquela noite, mas parecia ser a maneira mais segura de se agir.

"Eu nem sempre me visto como uma diretora de escola." Ela falou, sentando-se na cadeira ao meu lado.

Cait começou a falar sobre o caso, mas a minha mente estava distante, presa num passado recente, quando mais uma vez eu tinha ido atrás de Iris. A minha vida era como um daqueles clichês adolescentes, onde o garoto nerd, eu, se apaixona pela melhor amiga, e ela se apaixona pelo cara mais popular do colégio. Só que eu não era mais adolescente, o que tornava aquela situação ainda mais ridícula.

Quando será que eu ia aia aprender a não sair correndo, e largar tudo para trás, todas as vezes que Iris precisasse? Quando eu ia aprender a realmente seguir em frente? Ou pelo menos, quando eu ia ter uma vida? Porque eu não tinha uma. E nem Caitlin.

O que havia de errado com a gente? Duas pessoas brilhantes, que insistiam em viver no passado e suspirar por amores impossíveis.

A mulher em cima do palco desafinou e Caitlin deu uma risada. Pelo o que eu tinha contado, ela já estava em seu quinto ou sexto drink. Naquele momento eu a invejava. Aquele era um bom dia para ficar bêbado e esquecer os problemas.

"Cait" Ela desviou o olhar do palco e me encarou. "Vou pegar uma água, você quer?"

"Não, mas eu aceito um Cuba Libre." Ela respondeu risonha. Eu tentava ficar sério, mas era impossível não sorrir ao vê-la tão espontânea assim.

"Eu não acho uma boa ideia você misturar Whisky e Vodka." Falei pausadamente, passando a mão pela nuca, desconfortável.

"Barry, você foi atingido por um raio e sobreviveu. Você não acha que eu não consigo aguentar alguns cereais fermentados?" Ela estreitou os olhos ameaçadoramente. "Você sabia que a diferença entre o whisky e a vodca é a temperatura em quer eles são destilados?"

"Eu vou pegar a bebida, não saia daí." Ordenei, tentando não rir e fui em direção ao balcão. "Duas águas, por favor?" Pedi ao barman, que nem se deu ao trabalho de olhar em minha direção. "Hey!" Chamei mais uma vez, sem nenhum efeito.

"Sr. Barry Allen" A voz de Caitlin me chamou no microfone. Quando olhei em sua direção, ela estava no palco. "Suba aqui." Ela chamou. É, acho que o álcool tinha acabado com todas as inibições dela. Eu meneei a cabeça e fiz um gesto para que ela 'cortasse essa', mas ela começou a gritar meu nome. E todas as pessoas do bar fizeram o mesmo, me deixando sem nenhuma opção.

Os aplausos irromperam enquanto eu andava em direção ao palco, vê-la tão animada, me fez lembrar de uma criança na manhã de natal. Será que essa era a verdadeira Cait? Aquela que existia antes da explosão do acelerador de partículas? Sorri ao vê-la tão infantil.

"Eu não canto bem, e você não bebe bem." Eu não podia perder a chance de provocá-la.

"Nós vamos arrasar com esse lugar." Ela respondeu com a voz arrastada.

As primeiras notas de Summer Nights começaram a tocar e Cait começou a cantar à sua maneira belamente desafinada. Quando eu comecei a cantar, notei que ela me olhou confusa, com uma ruguinha aparecendo em sua testa. A tortura durou por mais alguns minutos, até que a música terminou e todos, milagrosamente, nos aplaudiram.

"Você é rápido e sabe cantar?" Cait sussurrava enquanto andávamos até a nossa mesa. "O que você não consegue fazer?" Ela perguntou, antes de dar uma golada no drink que estava ali.

"Com que você pare de beber, aparentemente."

"Eu nem sei se isso era meu." Ela fez uma careta. "Eu tenho que ir ao banheiro."

Enquanto Caitlin ia ao banheiro, tentei mais uma vez falar com o barman, mas fui ignorado. Felizmente, uma garçonete passava por mim e me atendeu. Eu tinha acabado de pagar a nossa conta, quando Caitlin caminhava em minha direção com uma expressão estranha.

"Barry, eu não me sinto bem." Ela falou, com os olhos arregalados.

"Ok, vamos lá." Peguei-a no colo e, usando a supervelocidade, levei-a até o seu apartamento. Eu já tinha ido até lá, mas nunca tinha entrado. O lugar era bem... Caitlin. Feminino, suave, alegre.

"Nós ainda estamos correndo?" Ela perguntou, assim que a coloquei no chão.

"Não, nós estamos aqui." Fiz um gesto para que ela olhasse ao redor. Vi em seus olhos quando ela finalmente reconheceu onde estava.

"Vodca e supervelocidade, não são uma boa combinação" Ela reclamou. Segui Caitlin até o quarto, onde ela foi logo retirando os sapatos.

"Você não fica enjoado quando corre?" Ela perguntou, enquanto tentava abrir o zíper do vestido.

"Não." Engoli seco.

"E as pessoas que você salva? Elas ficam enjoadas?"

"Eu." Eu não consegui responder já que ela começava a tirar o vestido, sem nem se importar com a minha presença. Virei-me de costas e aguardei até que ela tivesse trocado de roupa.

"Uma ajudinha, por favor?" Ela pediu, e quando eu virei, meu cérebro demorou um pouco a funcionar. As mangas do vestido estavam presas e ela não conseguia retirá-lo, mas o vestido estava caído até a cintura, deixando todo seu torso a mostra. Eu tinha certeza que estava corando. Ótimo, eu tinha vinte e cinco anos e estava corando por ver uma garota de sutiã. Mas não era qualquer garota. Era a Caitlin. Minha amiga. De sutiã.

"Sim, ok." Respondi, assim que readquiri minhas funções cerebrais. Usando minha supervelocidade, retirei seu vestido e coloquei seu pijama.

"Lá vem você de novo, me salvando do vestido malvado."

"Vá pra cama!" Disse, tentando fingir irritação. Eu precisava fazer com que ela dormisse, antes que ela me metesse em mais uma confusão.

"Você deu uma espiada," Caitlin questionou com seus olhos semicerrados e seu dedo em riste. "na minha mercadoria?"

"Não seria muito heroico da minha parte se eu o fizesse." Sorri, enquanto ela se deitava na cama e eu a ajudava com o cobertor.

"Mas tudo bem se você olhou. Você merece uma espiadinha por todas as coisas boas que você faz." Ela sorriu sonolenta.

"Beba muita água."

"Obrigada pela noite. Eu cantei!" Ela arregalou os olhos e sorriu tão livremente, que senti um aperto no meu peito.

"Sempre que você precisar." Sorri, pela centésima vez naquela noite.

"Ei, Barry?" Ela me chamou assim que eu me preparava para sair. "Você fica comigo até eu pegar no sono?"

"Claro." Sentei-me na cama e apoiei minha mão sobre os cobertores, recostando na cabeceira da cama. . E ali fiquei até que ela adormecesse.

Sorri ao lembrar de tudo o que tinha acontecido. Minha noite tinha começado péssima: um meta-humano que eu não conseguia capturar e para logo em seguida quebrar a cara mais uma vez com a Iris. É verdade que ir ao bar, não serviu ao propósito original. Não descobrimos nada sobre Shawna e o namorado, mas pela primeira vez eu tinha me desligado de todos os meus problemas e simplesmente me divertido.

Nunca tinha sorrido tanto naquela noite. E nem nunca tinha visto Caitlin sorrir tão abertamente, como se ela não tivesse nenhum fantasma para assombrar sua alma. A respiração ritmada dela chamou a minha atenção. Ela dormia pacificamente e eu não conseguia desviar o meu olhar. Eu não queria me mover, eu não queria ir embora. E ali eu fiquei, até os meus próprios olhos começarem a se fechar.

Wherever You Will GoOnde histórias criam vida. Descubra agora