Dur

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   Saltou da cama rapidamente. As cobertas leves esvoaçaram ao pulo ligeiro da garota. Enquanto ainda flutuavam, rapidamente foram puxadas para as mãos da loira. Ela as dobrou com pressa e arrumou sua cama. Despiu-se e pegou um vestido no armário, dirigindo-se ao banheiro. Meteu-se na banheira com água fria, que arrepiou sua pele, mas já não se importava com aquilo pois tinha se acostumado. Lavou seu corpo passando uma pedra cremosa na pele, como era o nome daquilo? Sebete? Achava que sim, mas agora não tinha tempo para pensar nisso. Secou-se e pôs o vestido num instante. Ia novamente para o quarto terminar de se arrumar, quando congelou no meio dele, sem expressão. Seus olhos cor de cobalto fixaram numa mulher na porta. Não sabia quem era pois estava sem os óculos na cara, mas já imaginava.

   — Neige, a sua mãe saiu mais cedo hoje.
   Froid suspirou de alívio ao ver que a voz pertencia a Le Vert, sua prima que considerava tia. Ela ainda tinha uns 30 anos, mas mesmo assim possuía uma aparência cansada devido a suas tarefas pesadas no palácio, fazendo com que ela aparentasse ser mais velha. Trajava um vestido liso e escuro.
   — Quer me ajudar a fazer o almoço depois? A garota deu um pulinho de alegria, no qual a tia já identificara a resposta por meio daquele gesto. Froid era alguém de poucas palavras geralmente. Falava como uma matraca quando menor, mas acabou por provar um gosto amargo disso. Isso sempre vinha a tona, pelo menos uma vez na semana, odiava lembrar daquele momento. Chacoalhou a cabeça tentando-se esquecer, e sorriu para Le Vert.
   — Eu só vou terminar de me arrumar. Podemos fazer mais cedo até! — disse com o semblante radiante. Le Vert puxou os lábios como fazia.
  — Ah! — enfiou as mãos nos bolsos, procurando freneticamente algo dentro deles.
   — O que foi tia?
   — Eu deixei uma coisa no meu bolso para te dar, mas não está aqui... - repousou a cabeça sobre sua mão esquerda.
    — Não tem problema tia. Vá separando os ingredientes. —sorriu. A morena sorriu de volta, e puxou a porta.
    Froid soltou o ar. Todos os dias, o quarto deveria estar completamente arrumado. Mas vez ou outra aparecia algum defeito num móvel, ou um risco no tapete, ou até mesmo um fio de cabelo na cama, e a garota pagava por isso. De sua própria mãe. Froid começou a verificar o quarto inteiro. Abriu seu armário, mexeu numa das gavetas e sentiu algo no fundo desta. Algum tipo de alça. Tentou puxa-la, mas as roupas presentes no espaço a atrapalhavam, e ela não tinha força o suficiente para puxar com facilidade. De qualquer modo, deveria ser algo da estrutura do armário, deixou para lá.

   Continuou a arrumar seu quarto. Ela ajoelhou para ver algo de baixo da cama, botando as mãos em baixo. Sentiu algo peludo, e puxou. Ficou horrorizada ao ver que era a pele de Melun, seu gatinho que havia desaparecido a dias. Estava sem reação, mas ainda assim sentiu seus olhos incharem. Melun era o bichinho que Froid ganhou aos 7 anos. Ele era de uma raça resistente e que durava no mínimo 14 anos. Porém, o animal acabou por viver nem metade disso. A garota fechou o punho no tapete. Sabia exatamente quem tinha feito isso. Agora sim tinha certeza de quem estava na porta. Olhou em direção a mesma. Ainda estava sem os óculos, mas sabia quem era. E conseguia ver os lábios se puxando num sorriso sádico.
   — Bom dia, Neige.
   — Não me chame ass--
   — Você é minha filha, eu posso chamar você do que quiser. —disse com a voz rouca.
   Froid apenas se levantou. Com essa frase, já havia desacatado demais a rainha, de acordo com as leis. A Constituição de Rose Alame, uma das razões daquela vida sufocante. Olhou diretamente para a mulher, como mandava a constituição. Mantinha a expressão séria, como mandavam as leis. E deixou com que um puxão de cabelo forte a fizesse cair de cara no chão de madeira, como mandava a mãe. A garota sentiu uma dor intensa no nariz, mas tinha de ignorar, como sempre. Já tinha se acostumado.

   Levantou e olhou na direção de Ivoire. A mesma passou o dedo sobre uma das narinas da filha, que estavam sangrando. Olhou para o chão que se manchou com algumas gotas. Puxou os lábios numa expressão de fúria. Derrubou a filha num tapa intenso, que marcou sua pele parda. Mas ela devia se levantar novamente, e olhar para a rainha, diretamente.
    — O que é isso no chão?
    — Uma mancha de sangue.
    — Olhe para o chão, não há de você saber sem olhar.
    Olhou. A mulher aproveitou que a garota estava com a cabeça baixa, e desceu outro tapa que a derrubou. Doía, mas Froid já tinha se acostumado com aquilo. Com tudo. Ela apenas levantou novamente, como sempre. Segurava as lágrimas. Já esperava outra agressão quando a rainha se virou para ver Le Vert olhando-a diretamente da porta.
    — Você me enoja. — a rainha cuspiu em Froid e saiu do quarto. Le Vert se ajoelhou perto da garota. Agora, sem a presença daquela mesma, deixava as lágrimas rolarem sobre seu rosto vermelho.
   — Isso vai mudar algum dia, Neige. Você vai fazer esse reino mudar, não vai?
    — ... Eu não s-sei... - disse soluçando, com voz chorosa. A mulher passou a mão pelos cabelos claros de Froid, e sussurrou palavras.
   — Não se preocupe, eu achei a chave.
   Froid levantou a cabeça olhando em direção de Le Vert, com expressão de surpresa.

Reine FolleOnde histórias criam vida. Descubra agora