Rugueux

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    O guarda jogou Froid de modo bruto contra as paredes frias e mal escupidas das catacumbas. Foi fechar o portão, porém a fitou por um tempo. Froid já estava acostumada a encarar os outros e não se sentia embaraçada com isso. O homem era barbado, os fios brancos mostravam que tinha 45 anos ou algo por volta disso.
     Olhou para um lado, depois para o outro. Grunhiu.

     — Hoje não tem petiscos particulares Titane.

     — O homem arrastou a grade com toda a força e saiu em passos pesados. Froid olhou em direção da voz e avistou um corpo sentado. Estava escuro, mas podia ver que seus cabelos eram azuis, e tinha feições femininas.
- Eu sou Marine. Não se assuste comigo, vossa princesa. Eu sou das antigas.
Levantou-se, e fez uma reverência para a garota.
- É muito gentil de sua part--
- Por favor vossa alteza, não profira estes dizeres. É uma honra estar em sua presença mesmo que seja num lugar fétido como tal este.
Froid arregalou os olhos - Ehm... tudo bem... - disse um pouco sem graça.
Enxergou, com dificuldade, Marine puxando um sorriso nos lábios.
- É muita sorte que tenha vindo para uma cela com uma mulher. Os guardas daqui não perdoam. - cuspiu para o lado - eu já me acostumei mesmo sendo raramente comigo. As vezes eles conseguem, o que é horrível.
- Conseguem o que?

Marine a fitou.
- Você tem quantos anos?
- Eu vou fazer 12 daqui a 2 meses... - disse quase sussurrando.
- Achei que fosse mais velha, bah. - retorceu os lábios.
- Mas do que você estava falando?
A mulher a observou bem.
- Vamos dizer... é uma violação... ...
- Uh!!? - Froid levou as mãos ao rosto, com uma expressão surpresa.
- Perdão, princesa. "Ou é muito esperta ou muito lerda."
- Finja que eu não sou a princesa, ok? Não me sinto confortável com isso.

A mulher assentiu, e sentou-se de pernas cruzadas. Apoiou a mão direita num dos joelhos.

- O seu braço está com um corte...
- Na verdade, é uma cicatriz. Eu consegui ela quando ainda era guarda.
- Mas... por quê você foi presa?
- Neige... se assim posso chama-la; eu disse que era das antigas. Eu servia o governo de Proivée. Os guardas eram totalmente respeitosos para com a família real ou qualquer pessoa do reino. Mas digamos que eu era a mais "rebelde".

Froid a encarava, interessada.

- Quando Ivoire assumiu o trono, eu já sabia o inferno que estava por vir. Eu conhecia muto bem sua mãe pois vivia a espiona-la por segurança. E então fiz um pacto com ela.
Tossiu.
- Eu seria a serva leal da rainha, a defendendo com unhas e dentes e impedindo qualquer ameaça de meter-se em seu caminho. A rainha assentiu. Apesar de ter tantos problemas, eu sabia exatamente como lidar com ela, e conquistar sua total confiança. Isso foi um problema.
- Por que? Se ela confiava em ti...
- A confiança daquela rainha louca e tirana era um dos bens mais invejados por qualquer um do reino. Ivoire tinha uma tamanha intimidade e afinidade comigo que revelava seus mais obscuros planos e segredos sem receio. Eu não sai espalhando nenhum deles por aí. Mas havia alguém prestando muita atenção nisso...
- Quem?

Marine a fuzilou com o olhar.

- Montagne, o guarda real atual. Vulgo Calcaire. Ou muito mais intimidamente, Le Barbe.
Froid arregalou os olhos. - L-Le Barbe?
- Sim. Montagne é neto de Pierre, um homem que um dia laçou o coração da rainha Cheval, mãe de Proivée. Porém, Cheval acabou por se cansar das intrigas desnecessárias do namorado, e terminou com ele. Isso deixou um grande rombo no rapaz e arranhões em Torefon e Sidqal, o reino a qual este príncipe pertencia.
- Quer dizer que minha bisavó quase unificou dois reinos poderosos?!
- Sim. Mas isso causaria vários problemas. O povo de Sidqal é muito arisco e diferente do de Toferon.

Marine tirou uma folha de hortelã fresca do bolso e colocou-a na boca, mascando a mesma.

- Pierre quase causou uma guerra devido ao término de seu relacionamento com Cheval, o que deixou os dois reinados numa rivalidade tensa. Sidalinos eram proibidos de ir a Toferon e vice-versa, o que deixou os dois povos bem revoltados, pois possuiam parentes nos outros reinos. Pierre passou a ser odiado, porém mantinha uma máscara serena de respeito e compreendimento para com todos.
- Isso me parece familiar...
- Até que ele assumiu o reino, e a máscara caiu. Amargurado, Pierre comandou Sidqal com mãos de ferro, num absolutismo não tão insano quanto o de sua mãe, porém muito mais sangrento. Pelo o que minha parceira Écarlate me contou - em cartas - do que ela tinha lido sobre, Pierre desde sempre preparava seu reino com armamentos e exércitos.
- Então isso significa que...
- Se Le Barbe conseguir derrubar o governo de Ivoire e voltar para Sidqal, Toferon irá sucumbir.

Froid tremeu.

- Há uma traidora no palácio... a conselheira... Le--
- Eu já sei quem é! - Froid falou com furor.
Marine a encarou. Fez cara de pouco caso.
- Mas sobre o que eu ia falar... Le Barbe criou toda uma estratégia para me atingir com uma fraude, no qual eu acabei por cair estupidamente como um gato a espiar um lago de peixes. A rainha se enfureceu e me mandou para cá. Ela ainda foi piedosa. - tossiu.
- Mas o que ele fez?
- É algo muito complexo e detalhado, eu não devo dizer agora princesa. - cuspiu a folha de hortelã - mas o que posso falar é que Le Barbe é inteligente e poderoso. Não é qualquer sidalino que consegue vir para Toferon calmamente e ainda mais se infiltrar no palácio, AINDA MAIS sendo alguém da família real de Sidqal.
Froid ficou cabisbaixa.
- Mais essa agora...
- Você deve cuidar muito, princesa. Observe as pessoas atentamente, não confie em ninguém. Até eu mesma posso estar mentindo, se assim devo dizer. - assoviou.
- Obrigada Marine...
Froid levantou-se. A outra prisioneira deu um sorriso.
Ouviram passos. Era outro guarda que vinha girando uma chave no dedo enquanto assoviava. Trazia consigo um prisioneiro. Abriu a cela e o colocou dentro. Fechou e foi embora assoviando.
Froid e Marine olharam em direção do detento. Era grande e musculoso, da pele áspera. O mesmo soltou uma fraca risada.

Reine FolleOnde histórias criam vida. Descubra agora