Capitulo 13

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Justin me ligou pelo menos uma vez por dia pelo resto da semana. Eu sempre estava com o celular na mão quando ele me ligava, mas sempre ignorei as chamadas. Eu não queria conversar com ele, não queria ter que ouvir sua voz de novo. Eu bufava enquanto colocava o celular de volta na bolsa e esperava até parar de tocar.
O trabalho, que antes era algo alegre, prazeroso e incrivelmente gratificante, agora tinha se tornado um fardo. Selena gritava comigo pelo telefone todos os dias, umas quatro vezes por dia. Nada saía do jeito que ela queria - ou ela assim pensava - e a culpa era sempre minha. Tudo bem que a culpa realmente era minha, mas ainda assim, eu não via razão para gritar. Nós ainda tínhamos bastante tempo de arrumar todas as coisas que ficaram com problema.
Na tarde de sexta feira, enquanto nós conversávamos ao telefone, eu senti que já havia chegado ao limite. Estava cansada dos gritos, dos insultos; estava cansada de tudo.
- E o Justin já escreveu os votos dele? Ele já comprou o terno, né? Por favor, me diga que pelo menos para cuidar dele você está sendo útil - reclamou Selena pelo telefone.
Eu fechei os olhos, mordi os lábios com força e me segurei pra não xingá-la. Minha vontade naquela hora era gritar com ela também e chama-la de neurótica e doida. Aquele comportamento desenfreado dela estava passando dos limites. Ela estava uma pilha dos nervos e estava descontando tudo em mim! Gritar comigo pelo telefone era uma coisa até aceitável, mas me chamar de inútil... A porra tinha ficado séria.
- Justin já comprou o terno sim, Selena. E não, ele ainda não escreveu os votos. Você já escreveu seus votos, querida? - perguntei, a voz ficando mais áspera.
- Não, ainda não escrevi.
- Então não exija o mesmo dele - rebati - E se você acha que eu sou tão inútil assim, por que não desiste de mim? Por que não pede outro cerimonial? Eu largo meu cargo sem problemas.
Selena ficou em silêncio por segundos incontáveis. Metade de mim não conseguia acreditar que aquelas palavras realmente tinham saído da minha boca, mas a outra metade simplesmente suspirava aliviada por ter finalmente dito o que queria. Esperei enquanto Selena continuava muda na outra linha por um longo período de tempo.
- Desculpe, Emma. Eu só estou nervosa - Selena disse.
Eu bufei no telefone e relaxei os ombros.
- Está tudo bem. Eu entendo que você esteja nervosa, mas você precisa se acalmar, caralho. Nós temos dois meses até o casamento e tudo está indo muito bem! Não pire, Selena.
- Não vou pirar. Quer dizer, vou tentar não pirar - ela prometeu.
- Ótimo. Então conversamos outro dia.
- Tudo bem. Ah, Emma, só mais uma coisa. Tenho uma pergunta.
- O que?
- Por que o Justin voltou pra LA?
A pergunta me pegou completamente desprevenida e com a guarda baixa. Eu simplesmente não soube como responder. Então Justin não estava mais em Nova York, ele tinha voltado pra Los Angeles. Mas por que? Será que apareceram compromissos pra ele na cidade da fama? Será que ele teve que lidar com só Deus sabe o que?
- Ele disse que tinha um compromisso - menti.
- Ah, sim. E ele não te disse o que era?
- Não, não disse. Mas ele logo vai estar de volta - respondi, mentindo mais uma vez.
- Tudo bem, então. Lembre-se que eu gostaria de provar meu vestido com você presente, mas não com ele. E eu queria que você já fosse chamando os padrinhos e os pais dele para provar as roupas. Mas não precisa ser tão cedo. Acho que um mês antes do casamento dá, não dá?
- Claro que dá - respondi.
- Ok, então. Obrigada, Emma. E me desculpe de novo.
- Está tudo bem, Selena. Tchau - e eu desliguei o telefone.
Selena me pedindo desculpas, Justin saindo de Nova York e eu tendo um encontro com Ian. Eu não sabia o que mais fugia do padrão de todas aquelas situações. Mas pelo menos quase todas as opções eram boas, exceto Justin ter saído de Nova York. Eu não entendia por que ele havia feito aquilo, mas também não queria ficar me preocupando. Não era como se eu realmente fosse a babá dele. E nosso acordo não existia mais.
Eu me sentei no sofá da minha sala e fechei os olhos, tentando esquecer por um curto espaço de tempo que tinha que me encontrar com Ian para jantar naquela mesma noite. Honestamente, eu não queria. Eu não estava a fim de sair de casa e ainda mais ter que me deparar com ele, que dava em cima de mim tão descaradamente agora. Depois de ter terminado com Justin, eu só queria paz. Não queria mais nenhum homem na minha vida.
Fiquei meditando, quietinha. Respirando fundo e deixando que o universo ou o caralho a quatro agisse sobre mim, fazendo com o que a positividade entrasse e a negatividade saísse junto com minha respiração profunda. Cerca de vinte minutos depois, quando abri os olhos, eu realmente me sentia mais leve. Levantei do sofá e parti para o meu quarto.
Tomei um banho rápido e coloquei um vestido preto básico. Eu torcia para que Ian não quisesse ir a um lugar muito badalado, porque eu não ia colocar salto alto, ia colocar uma sapatilha mesmo. Eu não estava nem um pouco a fim de me arrumar pra sair com ele e só passei o básico de maquiagem. Eu me olhei no espelho e respirei fundo, tentando me preparar melhor para esse encontro. Mas meus ombros se curvaram sem minha permissão e eu soltei um suspiro resignado. Talvez eu devesse ligar pra ele e cancelar tudo.
Meu celular tocou bem naquele instante e eu levei um susto, saí correndo do banheiro e fui atender. Meu primeiro instinto foi que talvez pudesse ser Justin me ligando. Eu queria saber por que ele tinha saído de Nova York, então ia começar a atender suas ligações. Mas não era Justin. Era Ian. Eu atendi com uma voz monótona e sem vida.
- Oi, Ian.
- Nossa, você parece tão empolgada por estar falando comigo - ele deu risada - Está tudo bem?
- Tudo ótimo. Por que não estaria? - rebati.
- Estou apenas mantendo uma conversa cordial no telefone. Vou perguntar a mesma coisa quando a gente se vir. É o código social, você sabe.
Abri um sorriso de escárnio e assenti com a cabeça.
- Eu sei muito bem. Mas então, você me ligou por que? - perguntei.
- Porque estou na sua porta. Venha abrir.
Desliguei o telefone com um sorrisinho no rosto e caminhei até a porta do apartamento, pegando minha bolsa carteira no caminho. Ian estava de tirar o fôlego, como sempre. Meu humor começou a melhor quando ele abriu o maior dos sorrisos pra mim, como se eu fosse a única pessoa que ele quisesse ver naquele momento. Se eu estivesse bem o suficiente para corar, era o que teria acontecido. Mas não corei e apenas sorri de volta.
- Oi, Ian - eu disse numa voz calma.
- Oi, Emma - ele disse - Você está linda.
- Obrigada. Você também.
- Obrigado. Como está?
Eu franzi as sobrancelhas e o encarei torto.
- Código social, lembra? Eu disse que ia te perguntar isso de novo - ele piscou.
Revirei os olhos e então assenti com a cabeça.
- Estou bem e você?
- Bem melhor agora. Vamos? - ele me ofereceu o braço.
Passei meu próprio braço pelo seu e saí de casa. Fechei a porta atrás de mim e tranquei-a, guardando a chave na bolsa. Ian e eu caminhamos juntos em silêncio até o elevador. Assim que chegamos ao térreo, nós nos dedicamos a pegar um táxi.
- Ei, o que é aquilo? - Ian apontou um cara do outro lado da rua apontando uma câmera para nós dois.
Eu encarei o paparazzo, abismada, e depois voltei a olhar para Ian, sem saber o que lhe dizer. Para minha sorte, um táxi parou bem na nossa frente e eu me enfiei dentro dele, com Ian na minha cola. Eu fiz o táxi começar a se mover mesmo sem saber para onde estávamos indo. Ian me encarava de olhos arregalados e sem saber exatamente o que estava acontecendo.
- Aquilo era um fotógrafo? - ele perguntou.
- Era - respondi.
- Por que ele quis tirar uma foto sua?
- É uma longa história.
- Emma,...
- Eu te explico quando chegarmos na onde temos que ir, Ian - eu o interrompi.
Ian bufou, mas ditou o endereço do restaurante que íamos ao taxista. Nós não demoramos muito para chegarmos e, assim que chegamos, eu saí olhando para todos os lados, mas não vi ninguém. Ian e eu entramos no restaurante e nos sentamos em uma mesa mais afastada e privativa. Ele podia não ser tão rico quanto Justin, mas seu sobrenome também abria muitas portas por Nova York. Ian vinha de uma família bem abastada.
Assim que nós nos sentamos, um de frente para o outro, ele me olhou de uma maneira inquisidora e arqueou as sobrancelhas. Eu bufei e cruzei os braços, balançando a cabeça. Talvez aquele fotógrafo só queria uma foto minha porque eu estava planejando o casamento de Justin e Selena, e não porque aquela notícia horrorosa no site de fofoca tinha aparecido.
- Ok, agora me conta. O que aconteceu? - Ian perguntou.
- Você não ficou sabendo?
- Não, não estou sabendo de nada - ele respondeu.
- Saiu em um blog de fofoca uma notícia insinuando que Justin e eu poderíamos estar tendo algo.
Ian franziu as sobrancelhas e me encarou com os olhos semicerrados.
- Eu não vi essa notícia - ele comentou.
- Justin os fez tirarem de circulação logo depois - respondi.
- Isso não me surpreende - Ian deu de ombros.
- O que não te surpreende? A notícia ter sido tirada de circulação ou...
- A notícia não me surpreende. Você e Justin realmente parecem...
- Nós realmente parecemos o que? - eu o interrompi.
Encarei Ian nos olhos de uma maneira desafiadora.
- Esqueça - ele balançou a cabeça - Você vai ficar brava. Na verdade, já está brava.
- Estou mesmo! Essa notícia pega mal na minha área de trabalho.
- Eu não estou dizendo isso de uma maneira pejorativa, Emma - ele tentou se explicar.
- Então está dizendo isso como, Ian? Me desculpe, mas não consigo te entender!
O garçom pigarreou ao meu lado naquela hora e nos avisou de sua presença. Nós escolhemos os pratos da noite e depois ficamos em silêncio. Eu não sentia vontade de começar nenhum assunto, não sentia nem vontade de continuar ali. Pra falar a verdade, eu só queria ir embora.
Ian não parou de me olhar um segundo enquanto esperávamos a comida. Eu me senti desconfortável, mas também não pedi pra ele parar. Nós não conversamos, o que tornou a espera longa. Talvez ter saído de casa naquele dia tivesse sido minha pior ideia. Talvez eu devesse ter ficado meditando pelo resto da noite. Ou da semana ou do mês, até que aquele casamento todo estivesse acabado. Bufei.
A comida chegou e nós comemos em silêncio. Não consegui comer muito, porque senti que tinha uma pedra na parede do meu estômago. Ian demorou pra terminar, mas assim que acabou, parecia muito melhor do que eu. Tomei um gole de água e encarei o restaurante com olhos cansados de quem só quer dormir pra fugir do trabalho.
- Você e Justin têm uma química, um vínculo, isso não dá pra negar. Eu não me surpreendo que um site de fofocas tenha usado isso contra ele, porque é isso que a mídia faz, Emma. Em um dia eles te ajudam a subir e no outro, eles te derrubam. Sei que não faz bem pra sua imagem sair como uma destruidora de lares nessa história, mas eles só estão querendo vender notícia. E pense pelo lado bom, a notícia já foi até tirada do ar - Ian disse tudo de uma vez.
- É, mas eu...
- Tem mais que isso, não tem? Aconteceu alguma coisa além disso? - ele perguntou.
- Briguei com Justin por causa disso, mas está tudo bem - respondi, dando de ombros.
- Está mesmo?
- Não está, mas vai ficar. Ele foi embora de Nova York e acho que está em Los Angeles, mas... nós ainda precisamos resolver alguns assuntos. Ah, Ian. Se eu te disser que já cansei desse emprego, você ia acreditar? - eu o olhei nos olhos, suplicando um pouco de compreensão.
- Claro que ia acreditar, eu me canso às vezes também.
- Eu me cansei desse caso em particular. Não quero mais trabalhar para Selena nem para Justin nem nada disso. Eu fui ambiciosa demais em querer fazer algo assim. Por favor, pegue o meu lugar - eu estendi minha mão em cima da mesa e toquei na mão de Ian.
Ele deu risada e apertou minha mão contra a sua.
- Não posso fazer isso com você, Emma. Você sabe que vai contra todos os meus princípios.
- Que se foda os seus princípios. Faça esse favor pra mim, por favor - fiz um beicinho.
- Não posso. Você consegue terminar de planejar esse casamento, eu sei que consegue - Ian me mandou uma piscadela - E, além do mais, estou aqui pra te ajudar no que você precisar.
- Preciso de férias - respondi.
Ian começou a dar risada. Ele apertou minha mão ainda mais e me encarou.
- Emma, eu sei que não deve ser fácil. Não faço a mínima ideia do que está acontecendo, mas você pode me contar tudo. Ok? Juro que não vou te julgar.
- Por que está falando assim? - perguntei, suspeitando de algo.
- Porque às vezes tenho a sensação de que você esconde algo de mim.
- Não escondo, Ian. Pelo menos não escondo nada relacionado ao trabalho - dei de ombros.
- Tudo bem, então. Se você diz... - ele deu de ombros também - Acho que você devia conversar com Justin. Seu dever é cuidar dele também e isso não vai ser fácil se você estiverem brigados.
- Vou tentar fazer isso, obrigada - sorri para ele.
- Que tal ir para a casa agora? - Ian perguntou.
- Ah, eu adoraria. Estou com muito sono.
- Eu estava me referindo à minha casa, mas pode ser na sua - ele piscou.
Dei risada e neguei com a cabeça. Nós nos levantamos e, antes que ele fosse pagar a conta, eu o puxei pelo braço e beijei sua bochecha.
- Está tarde demais para isso, querido. Acho melhor cada um seguir seu caminho. Sozinhos.

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