Do chão não passa

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Capítulo 1

Tédio.

É essa palavra que me define no momento. Se minha melhor amiga Luana não estivesse na Itália aproveitando suas férias, eu não ficaria nesse quarto olhando para o teto,sozinha.

A única pessoa que está nessa casa além de mim é a Suzy já que meu pai viajou a negócios e minha mãe está cuidando da inauguração da sua nova loja de roupas de grife.O relógio na parede diz que já são três horas da tarde,digamos que se eu fosse uma pessoa social estaria me arrumado para a festa do Leonardo que começa as quatro,mas como não sou, vou fazer a única coisa que andei fazendo desde o início dessas férias insuportáveis.

Desci as escadas rapidamente e escutei som de alguém fungando. Meu Deus...Suzy!

Entrei na cozinha igual a um furacão.

-- Su!Você está bem?!-praticamente berrei enquanto Suzy se virou assustada segurando um faca com uma mão e uma...cebola com a outra.

-- Menina,quer me matar de susto?-disse colocando a faca na pia.Soltei todo o ar que nem sabia que estava prendendo.

-- Desculpa Su,eu ouvi você fungando e pensei que tivesse se machucado...-disse sem graça.

Ela esboçou seu sorriso acolhedor.

-- Tudo bem querida,cortar cebolas é um trabalho que faz a gente chorar sabe...-disse nos fazendo rir.

Eu amo a Suzanne,para os mais chegados Suzy ou Su.Ela trabalha aqui bem antes de eu nascer e como meus pais nunca tiveram tempo pra mim essa mulher baixinha,com os cabelos presos num coque cuida de mim como se fosse sua filha,sempre esteve ao meu lado me apoiando,escutando minhas lamentações ou fazendo companhia,não sei o que seria de mim sem ela.

Dou um beijo em sua bochecha.

-- Vou dar um volta na praia,posso? -peguei uma maçã.

-- Não sei Alice, é perigoso andar sozinha por aí - disse preocupada.

-- Fique tranquila,eu fiz isso praticamente todos os dias e tô bem não tô? -sorri inocentemente fazendo sua expressão se suavizar um pouco mais.

-- Tudo bem,mas não demore e tome cuidado! -dei um abraço nela pometendo não demorar,corri para a garagem e peguei minha bicicleta.

(...)

Não demorei muito pra chegar já que moro bem perto da praia,a sensação do vento batendo no rosto é libertadora.Deixei minha bicicleta trancada no quiosque do seu John,aproveitando para comparar uma água de coco.

-- Se não é minha freguesa predileta! -diz sorrindo ao me ver,já deve ter perdido a conta de quantas vezes eu vim aqui.

-- Como vai seu John? -peguei meu coco já sabendo sua resposta.

-- Cada vez melhor minha filha!-sorri com seu sotaque americano e o paguei,as vezes ele é tão familiar.

Caminhei até a areia e me sentei para contemplar o mar,adoro fazer isso,sempre que tenho um tempo livre venho pra cá.Luana costuma dizer que vou acabar morando aqui algo que eu não me importaria na verdade.Gosto de ver as pessoas passando,pais brincando com seus filhos e até mesmo imaginar os meus fazendo o mesmo,já que nunca fizeram.Para eles o trabalho vem em primeiro lugar talvez buscando incansavelmente multiplicar esse maldito dinheiro que eles ja tem ou não querem desperdiçar seu tempo comigo...não sei.

Enquanto isso aqui estou eu:

Uma garota de dezesseis anos sem graça,infeliz e que se não fosse por Suzy e Luana estaria ainda mais solitária,levando em consideração que as pessoas da escola me odeiam por ser mais ou "rica" do que elas ou por tirar boas notas,mas como Luana diz é tudo recalque!

Não consigo evitar o sorriso ao lembrar do seu jeito espoleta e sempre sorridente de ser,sua alegria é contagiante poucas vezes a vi chorar,uma delas foi no início dessas férias quando foi viajar,seus pais que são pessoas maravilhosas queriam me levar,porém meu pai o"Grande David Collins" não deixou,claro que não, ele me odeia e o sentimento é recíproco.Não há um dia se quer que eu não pense por que minha vida é essa merda.

Porque tem que ser assim?

Meus pensamentos são interrompidos ao ver um casal se preparando para ir embora,já está ficando tarde,melhor eu ir também antes que a Su venha pessoalmente me buscar.

Me levanto sacudindo a areia do meu corpo,jogo meu coco no lixo e vou pegar minha bicicleta,porém paro ao ouvir aplausos.O céu esta em um tom alaranjado incrível enquanto o sol vai se pondo,sem dúvidas o momento perfeito para uma foto.

Fico ali hipnotizada com a vista até ouvir uma voz gritar:

-- Sai da frente!!-Antes que eu pudesse fazer algum movimento algo se bateu em mim com toda força me levando ao chão.



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