- O que está fazendo aqui?
- E-eu? Eu estava... Eu comprei esse livro e sentei-me para ler e de repente... O que está acontecendo? De repente os prédios ficaram em ruínas e as pessoas que estavam passando sumiram... Os carros...
- Venha. Não pode ficar aqui. A Gang do Armageddon domina a área. Consegui achar um lugar seguro em uma estação antiga do metrô, pode ficar comigo lá até seguir seu caminho... Ou cumprir seu destino.
- Quem é você? Como sabe que pode confiar em mim?
- Meu nome é Lilian. Eu sonhei com você. Na verdade, esta noite, eu sonhei que um rapaz como você, com um livro igual a esse que segura, iria aparecer e por algum motivo iria me ajudar... Vamos. Não podemos ficar mais neste lugar.
Eu sigo a morena, confuso. São Paulo agora é só ruínas. As avenidas estão com carros queimados e esburacadas e os prédios todos destruídos. Não vejo ninguém exceto aquela mulher estonteante.
Descemos as escadarias sujas. A estação Brigadeiro do metrô está depredada. Lilian me puxa para uma porta de alumínio e entramos em um corredor de concreto estreito. Logo estamos onde ela vive. Ela me encara.
- De onde você é? Como veio parar aqui, amigo? E o seu nome? E o livro...
- Calma, Lilian, uma pergunta de cada vez. Meu nome é Eric e sou do interior. Eu vou repetir, comprei esse livro, e quando o abri eu vim parar aqui... E eu sei que não estou sonhando, porque isto é real demais...
- Infelizmente não está mesmo; e depois das coisas que vi não duvido de mais nada, Eric. A guerra foi cruel com o mundo, o que todos temíamos aconteceu... Sobraram poucos de nós, sem lei, sem governo... Agora nós só dependemos de nós mesmos. Eu sonhei com esse livro em suas mãos, o que não me surpreende. Eu tenho o dom de sonhar com coisas que irão acontecer. Deixe-me vê-lo.
Entrego o livro de capa chamativa e ela o abre. Suspira.
- Aqui... – Ela fala com a voz embargada e lágrimas rolam de seus olhos. – Aqui diz que vou morrer hoje. Estuprada e barbaramente morta pela Gang do Armageddon. Eles vão me amarrar em um dos carros deles e sair acelerando e serei esfolada viva no asfalto...
- Como... – estou perplexo. Totalmente perplexo. – Como um livro pode descrever o que vai acontecer com você... Aliás, como eu vim parar aqui afinal? O que está havendo? Pode me explica, Lilian? – Ela é linda aos meus olhos, e seu corpo é fenomenal, maravilhoso. Seu olhar e sua voz me assassinam.