Renascer para Amar (DEGUSTAÇÃO)

Capítulo 01

CAPÍTULO 1

Enrico

Era para ser um dia de festa e alegria, porque estava completando 29 anos de vida. Lembrava dessa data com saudades do tempo em que a dor não habitava meu coração.

Meus pais nos criaram em um lar evangélico. E em cada aniversário íamos todos ao culto e escolhíamos o louvor que mais tocava em nossa alma. E junto de toda a congregação, cantávamos e agradecíamos a Deus por mais um ano de vida.

Hoje, só me resta no íntimo, tentar achar as palavras certas para falar com Deus, pois havia me afastado do que mais preservava nos ensinamentos que meus pais me deram: a minha fé. E já estava na hora de corrigir isso.

Por isso, levantei da cama, naquele dia frio e chuvoso, e ali mesmo dobrei meus joelhos e falei com Deus. Abri meu coração e supliquei por uma oportunidade, por uma chance de recomeçar.

Após a minha oração, segui para o banheiro e tomei um banho quente. Logo depois, me arrumei rápido e segui para a cozinha afim de ajudar a preparar o café, já que estávamos sem governanta.

A casa inteira estava em silêncio. Empurrei a porta da cozinha e os gritos de feliz aniversário se espalharam pelo ambiente.

Meus irmãos, primos e Gisele tinham preparado tudo. Havia várias comidas e bebidas na mesa. Em seguida, recebi abraços calorosos e muitas felicitações. Pelo visto, o dia havia começado bem. Então, acreditava que não estava tão enferrujado assim para falar com Deus.

Tomamos um delicioso café da manhã enviado por Pietro e depois cada um seguiu para seus afazeres.

Levi, Gisele e Felipe estavam terminando os últimos preparativos da festa de hoje à noite enquanto Vincenzo e Giovanni foram para a fazenda da família buscar os vinhos que fabricavam.

Gio estava feliz, porque sua paixão da adolescência chegaria hoje ou amanhã. Meu primo nunca foi de se apegar a mulher alguma, mas essa menina devia ser especial porque mexia com o seu coração. Porém, ela não chegaria sozinha. Tia Helena havia mandado uma mulher para nos ajudar com os afazeres da casa, o que facilitaria bastante as nossas vidas. Assim eu teria mais tempo para trabalhar no livro de Daniel e pimentinha, Carla na revisão dele e Lipe no café e restaurante.

Meu irmão mais velho e minha amiga de infância,estariam retornando ao Brasil em breve. Sentiria falta de Levi e Gisele, mas suas vidas não estavam aqui na Itália. Enquanto isso, eu nem sabia se a minha estava aqui, mas resolvi descansar e esperar por meu milagre.

Coloquei madeira para aumentar o fogo da lareira e me encostei na janela, perdido em meus inúmeros pensamentos. Mas logo fui despertado pelo som suave da voz de minha irmã:

- Rico.

Afastei-me da janela e meus olhos encontraram os de Carla. Ela estava triste.

- Ei, pequena.

Carla trazia um embrulho nas mãos, e me entregou.

- Abra.

Rasguei o papel e me surpreendi.

- Já está pronto?

- Sim. E como você pediu. Será edição única.

- Obrigado.

Carla abaixou a cabeça e arrastava seu pé direito de um lado para outro. Eu conhecia perfeitamente esse gesto. Ela queria opinar.

- Fale, pequena. O que te aflige tanto?

Minha irmã se dirigiu para a poltrona próxima à lareira e se sentou. Eu a acompanhei.

- Rico, esse livro é a sua história. Sua vida. Está tão bem escrito. Conta cada detalhe de tudo que você passou. Porque guardar só pra você?