três

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Aperto as mãos delicadamente contra as mãos de Michael, esforçando-me para manter as mesmas quentes. Caminhávamos vagarosamente deixando os nossos corpos frágeis serem levados à medida da aragem gélida, de cortar a respiração. Por mais que tivéssemos estudado todos os pormenores dos nossos planos aprimorados, havia sempre algo em falta, e neste caso um transporte seguro. Tudo insignificante em comparada à ânsia de liberdade. Ou de sentir a colónia de Michael. Ou a sua voz rouca, e adulta. Ou presenciar o mundo para além as quatro paredes. Descobrir o desconhecido e agarrar todas as oportunidades.

– Precisamos de resolver este pequeno enigma. – Michael profere, parando os seus curtos passos num ápice, colocando-se à frente do meu campo de visão. – Pelas minhas pesquisas, para conseguirmos sair da propriedade faltam cerca de dez quilómetros.

Elevo a cabeça, desviando os cabelos que persistiam em cobrir o meu rosto pálido. Encaro a sua expressão, que com o contacto inesperado esboça um sorriso nos seus lábios rosados enquanto as suas mãos raspavam uma na outra. Desde à péssima iluminação do espaço até aos cabelos despenteados loiros os seus gestos eram o suficiente para a minha mente inovadora bloqueasse por meros segundos.

– Estás a insinuar que não há probabilidade de chegarmos ao destino? – inquiro, desenhado pequenas linhas curvas no alcatrão revestido de os primeiros vestígios de neve.

– Não queria assumir os piores dos cenários mas...

– Nem penses que me rendo tão facilmente aos obstáculos! – exclamo, esplêndida com a fresca ideia a pairar nos meus pensamentos. – Eu tenho uma solução.

– Tens a minha total atenção.

Sem corresponder à sua frase acolhedora, movo as minhas pernas rapidamente em direção à entrada dos funcionários do estabelecimento privado, causando obrigatoriamente a mesma ação por o meu companheiro. Este que, ao alcançar os meus passos não hesita em agarrar na minha mão tendo a total certeza de que não me iria perder de vista. Expostos à nossa frente, estavam cinco bicicletas de tons semelhantes e enferrujados aparentados estarem completamente esquecidos aos proprietários.

– Sabia que não ias desiludir. – o rapaz de cabelos selvagens avança, verificando as rodas traseiras do meio de transporte improvisado.

Um sorriso é formado nos meus lábios entreabertos, receosa em proferir as palavras certas. Limito-me a analisar os seus passos seguidos de manobras de retirar as bicicletas dos apoios tentando imitar os seus movimentos. Deixo os meus joelhos desprotegidos devido às falha nas calças embaterem no chão húmido concentrando-me em desvendar o mistério entre o cadeado solto e as proteções pouco seguras.

– Estás bem? – Michael ergue uma das suas sobrancelhas após soltar um dos transportes, levando as suas mãos gélidas aos meus joelhos. – As feridas estão num péssimo estado.

– Parece que a liberdade custou-me um golpe no joelho e um par de calças a menos.

– És impressionante! Nunca dás a parte fraca. – o loiro aponta, levantando-se do alcatrão, estendendo a sua mão em modo de ajuda para elevar o meu corpo esbelto. – Fica com esta bicicleta, tem um adesivo rosa logo, é a indicada para ti, Mika.

Exponho a língua de fora, aceitando a sua desajeitada ajuda. Nem nesta situação me livrava do maldito rosa. Nos tempos em que todas as minhas peças de roupas continham a cor pirosa nem que fosse somente em uma linha do tecido. Porém, mesmo que fingisse que essa fase nunca tinha existido, Michael insistira em forçar-me a relembrar.

– Espera até me relembrar de algum desleixe infantil teu, que temos tema de conversa durante todo o percurso. – riposto, limpando o assento escuro da bicicleta ocupando o lugar da mesma de seguida.

Bike · mgcOnde histórias criam vida. Descubra agora