A primeira vez que Lydia descobriu que possuia poderes sobre o ar tinha apenas 6 anos de idade, mas nesse mesmo dia aprendera a odiar o seu poder. Foi o dia em que o pai pela primeira vez reparara nela, mas não pelas razões que ela sempre desejara. Foi o dia em que o pai dela começou a temê-la e a prendê-la.
Naquele dia o pai tinha a deixado ir até ao parque infantil que ficava perto da casa para onde eles se tinham mudado na semana anterior. Ela ficou tão feliz que foi a correr para lá, caindo pelo caminho, mas logo levantou-se para o pai não ralhar com ela e recomeçou a andar com mais cuidado. Tinha que ser forte e conter tudo para si caso contrário o pai podia castiga-la como já tinha feito outras vezes.
O parque era muito simples e pequeno, com apenas um escorrega, dois baloiços e uma caixa de areia. Tinha vários bancos à volta para os pais poderem descansar enquanto viam os filhos brincar, mas ela sabia que embora o pai estivesse num daqueles bancos não estaria a cuidar dela ou sequer a vê-la, muito provavelmente ficaria a olhar à volta pelo parque todo à procura de algo ou alguém como fazia sempre.
Embora eles fossem pai e filha não eram muito parecidos, ela tinha o cabelo claro e ele o cabelo castanho vulgar, ela tinha olhos azuis que toda a gente ficava muito tempo a olhar e ele olhos castanhos meio esverdeados que embora devessem parecer bonitos pareciam meio enjoativos para a Lydia, a única verdadeira parecença entre eles eram os lábios e o nariz.
Quando a Lydia perguntou ao pai porque é que ela tinha o cabelo loiro e ele não, o pai ficou zangado com ela por duas semanas inteiras, quando ela lhe perguntou porque é que estavam os dois sozinhos enquanto os outros meninos tinham uma mãe e um pai, o Rudi gritou com ela palavras incompreensíveis e saiu de casa deixando-a sozinha por um dia inteiro só voltando na manhã seguinte.
Foi a primeira de muitas noites que a Lydia teve que aprender a passar sozinha, muitas noites que ela chorou e ficou sentada à frente da porta de casa à espera do pai, embrulhada numa manta qualquer que tinha apanhado no sofá e a desejar ter uns braços calorosos à volta dela que a pudessem ajudar.
Eram nessas noites que parecia que uma mulher cantava para ela em sonhos, com uma voz tão melodiosa que a Lydia acreditava que aquela seria a voz dos anjos, e que abraçava-a com força enquanto a aconchegava nos seus braços mexendo no topo da sua cabeça acarinhando-o e protegendo-a como se fosse um tesouro.
O parque estava praticamente deserto, sem ser por uma mãe que estava num dos bancos a falar ao telemóvel ao mesmo tempo que via atentamente a filha, da mesma idade que a Lydia, a brincar na caixa de areia. Sem ser elas as duas, a Lydia e o pai eram os únicos que estavam no parque.
- Não quero que te afastes de mim.- avisou o pai dela enquanto pegava-lhe no pequeno braço com um pouco de força a mais, mas a Lydia não podia queixar-se disso porque sabia que o pai faria pior se soubesse que a estava a magoar.
- Vou brincar para a areia com aquela menina.- balbuciou ela apontando para a caixa de areia pronta a correr antes que algo estragasse o dia que parecia ser o inicio de algo bom, algo diferente.
- Eu vou ficar aqui. Fica atenta caso eu te chame.- respondeu ele com um olhar duro antes de a soltar e sentar-se no banco ao lado.
Era sempre assim, ela podia observar as outras crianças ao longe e percebia que os pais não eram assim com elas, mas sem saber a razão, o pai era sempre assim, duro, frio e distante, quase como se ela fosse alguma coisa que ele tivesse que guardar para alguém, em vez de ser a sua filha.
Mas ela iria aproveitar o dia ao máximo.
Aprendera que devia aproveitar cada momento de felicidade que tivesse, quer durasse dois segundos ou duas horas para depois quando chegasse aquelas alturas difíceis ela não perder a esperança e manter-se forte. Agarrando-se com força à lembrança desses momentos que podiam voltar a repetir-se.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Sucessora do Ar [A Editar]
FantasiaOnde os elementos não são o que conhecemos mas sim o que somos. Quando a Lydia é levada para a sua antiga casa não confia em ninguém para falar e começa a afastar-se cada vez mais, fazendo a Lia, a mãe dela, e o Harry , o tio dela, temerem perde-la...