1º Capítulo

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4 de dezembro de 2014


Como sabe bem sentir a neve a cair por cima de nós, observar o vento na rua e estarmos juntos à nossa lareira a beber um chocolate quente, ver as ruas enfeitadas com luzes e a movimentação das pessoas nas lojas a fazer as compras de natal. Isto sim é espírito natalício, Londres têm espirito natalício.

É habitual passar os natais sozinha, com umas amigas por vezes. A minha família vive em Seattle apenas estou em Londres porque tive uma proposta de emprego irrecusável , da qual permaneci 7 meses, fui despedida porque não era propriamente boa na área. Resumindo modifiquei umas coisas no meu currículo e aceitei um trabalho fora do meu país porque queria sair de lá, queria experimentar algo novo e aqui estou eu em Londres à dois anos, desempregada.

Este natal não vai ser diferente, vou comprar uns presentes para os meus amigos mais próximos, os meus próprios presentes e abri-los antes da meia noite. No dia seguinte vou tomar o pequeno almoço com as raparigas e vou dar uma volta pela cidade.


- Tenho de arranjar um emprego, isto não é vida para uma pessoa de 24 anos.


Pouso o chocolate quente na borda da janela e volto a folhear o jornal parando agora na secção dos empregos. Pego no marcador vermelho que tinha deixado em cima da mesa central e começo a marcar anúncios os que acharia bons para mim.


Precisa-se de empregado/a , loja de roupa no centro de Londres. Procura-se pessoa que tenha experiência e que já tenha exercido o meio.


- Experiência para trabalhar numa loja de roupa? Por favor ... - uma cruz é marcada por cima do anúncio.


Precisa-se de empregado/a de balcão com idade superior a 23 anos.


- Para um cabaré? Não, obrigada. - a minha ação anterior repete-se neste anúncio.


Necessita-se colaborador/a para o Starbucks em Casttleford. Idade superior a 17 anos, com a experiência de conviver com o público.


- Muito longe. Isto de conseguir emprego é difícil.


Preparava-me para ver outro anúncio assim que a campainha toca. Coloco tudo no chão e encaminhei-me até à entrada a resmungar. Quem é que será para me incomodar a estas horas da noite?

Abri a porta observando uma pessoa com um casaco enorme sobre o seu corpo e um cachecol em volta do seu pescoço.


- Desculpe, eu conheço-a? - o rapaz pergunta.

- Perdão? O senhor veio tocar à minha campainha e ainda pergunta se me conhece?

- Esta é a casa da minha irmã, você é uma amiga dela?


Ele estava bêbedo?


- Esta é a minha casa, eu moro aqui à 2 anos, deve ter sido um engano. - o rapaz olha-me com uma expressão confusa e ao fim de uns segundos decide voltar a falar.

- Onde estou?


Sim, ele estava bêbedo.


- Oxford street. - afirmo - Queria estar onde?

- Oxford street? Como vim aqui parar? - ele bate com a mão na sua testa - Southwark street é onde a minha irmã mora. Vou embora. - vira costas tropeçando no degrau da escadaria acabando por cair.

- Cuidado. - eu agarro no seu braço ajudando o pobre a levantar-se - Entre que eu vou fazer-lhe um chá.


Levei-o para dentro de casa sentando-o no sofá.


- Não se deve conduzir bêbedo, nunca lhe disseram?

- Conduzir? Eu não estava a conduzir. - ele coça a cabeça - Eu vim a pé até aqui, madame.

- Madame? - solto um pequeno riso - Tencionava ir até Southwark a pé? Fica longe ainda.

- Não. - ele abana a cabeça rapidamente.

- Que ideia ... Não toque em nada, não saía daí, eu volto num instante com um chá.


Abandono a sala dirigindo-me até à cozinha para preparar um chá de ervas aromáticas com um pouco de açúcar.

O que mais me faltava agora era ter que cuidar de um desconhecido embriagado.

Assim que voltei à sala, o rapaz põe o seu olhar em mim, com a boca suja de castanho e uma caneca azul na mão.


- Eu disse para não tocar em nada.

- Bem ... Eu prefiro chocolate quente do que chá. - ele olha-me com uma cara de arrependimento.

- Deixe lá. - suspiro - Eu bebo o chá. - sento-me a seu lado no sofá aquecendo as mãos em torno do objeto.

- Hum ... - encaro-o - Sou o Harry Edward.

- Olá. - riu com a sua apresentação.

- Era suposto dizer o seu nome também mas não faz mal. Estou bêbedo, não é o primeiro desprezo que levo neste estado. - o rapaz esclarece.


Harry tinha cabelo castanho encaracolado, era alto, e os olhos eram um pouco difíceis de ver devido à fraca luz da sala.


- É melhor eu ir andando. Não moro longe. Moro ... - Harry começa a fazer sinais com as mãos para diferentes direções.

- É de confiança? - boa pergunta para fazer a alguém que não se conhece.

- Tendo em conta o estado em que estou, sei perfeitamente que sou de confiança.

- Ótimo, fica aqui hoje e amanhã irei leva-lo a sua casa ou a casa da sua irmã.

- Agradecia. - ele deita-se por completo no sofá, pondo as suas pernas por cima de mim.

- Confiança a mais, eu sabia que não devia ter perguntado nada ... - murmuro para mim.

- Tenho um pressentimento que nos vamos dar bem, madame cujo não sei o nome. Acho que nos devíamos beijar. - Harry eleva o seu tronco.

- Acho que é melhor ir dormir. Siga-me, eu vou mostrar-lhe o quarto onde vai ficar. - empurro gentilmente as suas pernas e sigo o corredor - Última porta à esquerda.


Vejo que o rapaz não me seguia, permanecia deitado no sofá. Fui mais uma vez ao seu encontro e reparei que estava a dormir. Isto é que se chama sono rápido.

Apaguei a lareira e coloquei um cobertor aos seus pés para o caso de ter frio.


- Sou a Ruby.


Peguei no meu chá, desliguei as luzes e fui para o meu quarto.

Mal posso esperar por amanhã.


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Este primeiro capítulo está pequeno mas maiores viram se gostarem e votarem :)

Olivia |h.s| - PARADAOnde histórias criam vida. Descubra agora