2 - Sanguinolência

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s.f. Característica, estado ou particularidade do que é sanguinolento; em que há excesso de sangue.
Figurado. Que demonstra crueldade; ferocidade.
(Etm. de sanguinolento: sanguinol + ência)

06 de Janeiro de 2016, Tóquio – Japão.

Aquele sangue escorria em meio a terra seca e pisada do lugar. Chamam o local podre de "Cova". A Cova é o lugar onde recolhem corpos de Zoens, reunindo os infectados derrotados em missões dentro de caminhões especiais, assim trazem "eles" nesses locais afastados das cidades e carbonizam todos com máquinas de produzir fogo. O mandato de carbonização fora criado para limpar as cidades menos atingidas, na esperança de um dia serem livres dos malditos mortos. Mas aquela madrugada continuava tensa para Nicolas. — Maldita Haru que exagera em tudo que faz, — pensou o rapaz soado e cansado. Eram corpos que não terminavam. Depois daquela explosão devastadora e do braço-x terminar o que Haru começou, ali estava ele: derrubando corpos mutilados dentro desse buraco tenebroso. Vestido com roupas especiais de carbonização, que consistia em um macacão que ia do pescoço aos tornozelos e uma máscara que tapava o rosto, tudo deixando a situação mais pegajosa e cansativa. Entretanto evitava o contato com o sangue infectado que mais parecia uma cascata desgovernada. Pés, mãos, membros, órgãos, cabeças, torsos, corpos inteiros. Tudo jogado buraco a dentro e incinerado pelo fogo. No início quando Nicolas começou nas Covas cansava de vomitar, mas agora parecia acostumado com a sanguinolência sem fim. Tudo pela paz Mundial.

— Acho que esses são os últimos. — Gritou Petrus que jogava dentro do buraco uma mulher gorda sem um braço e com as tripas ao chão, junto a ela, pedaços de algum homem.

— Vamos embora que está amanhecendo, temos que chegar antes do sol aparecer no céu. — Torres falara entrando dentro do grande carro conversível do Exército Especial. Haru ligou a mangueira de fogo e queimou os corpos que restaram.

Pisando em poças de sangue eles foram deixando o lugar morto e infernal. Não se sabe se o Planeta aguentará por mais tempo. Florestas estão morrendo, animais sendo extintos, humanos desaparecendo. Rios e mares sendo poluídos e secando pelo calor e frio excessivo em conflito. Tudo que conhecíamos vinha sendo apagado e pintado novamente com um vermelho que ainda metia muito medo no garoto que há pouco tempo era apenas um estudante universitário.

Cada amanhecer é diferente desde que as Naves deixaram a Terra, todo dia surgia algo novo, uma coisa ruim que vinha acabando com Nicolas. Não sabia o que era e nem o que pensar, a única coisa que vinha em sua mente... Ver de novo o rosto deles: Clarice, Bruno, Michele, Caroline e claro, Léo.

~~

— Acorda mocinha, já são nove da manhã. — Ele não aguentava mais escutar essa voz que o acordava. — Petrus é um filho da mãe, — pensou. Nicolas virou pra o lado que não sentia a presença do grandão a sua frente e colocou o travesseiro na cabeça, assim abafando o som irritante do seu companheiro.

— Nicolas sempre dá trabalho para levantar, ainda não sei como conseguimos terminar missões com o queridinho do esquadrão. — Aquela outra voz inquietou o rapaz, que de um salto vociferou

— Haru? O que faz dentro do dormitório masculino? — Ele estava de cueca e sem lençol para cobrir-se. Recuou em um susto e cobriu as partes com o travesseiro, enquanto o resto do dormitório gargalhou de sua atitude.

— Nicolas você está vermelhinho.

— Calem a boca. — Gritou para o Esquadrão que se preparavam para sair para o pátio.

— Eu entrei aqui para avisar, quer dizer, lembrar você.

— Lembrar o que? Não dava para nos encontrarmos lá fora? Onde está o Torres?

Livro II - Tempestade EscarlateOnde histórias criam vida. Descubra agora