Sunday

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Pov Camila


Demorei para abrir os olhos, a claridade não me atingiu, minhas cortinas são sempre bem fechadas já que eu não consigo dormir com qualquer tipo de claridade nos olhos... E o estranho é que barulho não me incomoda.

Levantei da cama feliz por ser domingo, esse é o dia que eu mais consigo escrever por ter mais tempo livre, escovei os dentes e logo fui até a cozinha tomar café da manhã, suspirei com tristeza ao ver os armários vazios, resolvi então ir ao supermercado fazer as compras do mês, voltei até o meu quarto e troquei de roupa, sorri ao ver o desenho ainda sobre a estante, peguei minha carteira e sai.

O clima estava bom, eu sou suspeita em falar porque amo a primavera, fui caminhando até o supermercado mais próximo pensando em como raios eu ia levar as coisas pra casa.

Quando cheguei lá fiz mentalmente uma lista de coisas que estavam faltando, peguei um carrinho e sai pelas prateleiras em busca de alimentos.

Minha ida ao mercado durou cerca de 50 minutos mas comprei tudo que precisava, o mercado cobrava uma taxa para entregar em casa, porém, paguei, não teria como levar tudo caminhando.

Sai dali e fui em direção à casa da minha avó ver ela e pequena minha irmã.


[...]

- Camila, meu anjo, entre – minha abuela falou contente ao me ver, sorri e lhe abracei

- Tudo bem com a senhora? – perguntei me dirigindo até o sofá

- Tudo sim, só com um pouco de dor nas costas... E com você? – sentou ao meu lado e acariciou meus cabelos

- Tu... – fui cortada pelo barulho do meu estomago

- Tomou café da manhã? – perguntou já imaginando a resposta

- Não. Eu passei no supermercado primeiro – preferi omitir o fato de que não tinha comida em casa – onde está Sofia? – perguntei e ela levantou

- Tomando banho, espere aqui que eu vou cortar um pedaço do bolo que fiz ontem – falou me dando um beijo na testa e saiu em direção à cozinha. Esperei por cerca de três minutos enquanto olhava um programa aleatório na televisão, vovó voltou com duas fatias de bolo de chocolate com confete e uma xicara de café. – obrigada, vó – falei e ela apenas sorriu voltando a sentar comigo no sofá

Comi com pressa, estava com bastante fome, depois que terminei levei as coisas para a pia e lavei, voltei e Sofia estava descendo as escadas.

-MILA – gritou animada quando me viu

- Oi, minha princesa – falei e a agarrei firme assim que ela se jogou no meu colo, fechei os olhos e a apertei contra mim.

- Eu estava com tanta saudade de você, mana – falou com a voz abafada conta meu pescoço

- Eu também estava, mas agora eu vim aqui buscar você pra gente ir ao parque, topa? – perguntei fazendo uma voz animada e seus olhos castanhos brilharam de felicidade

- Claro que sim, Mila. Vamos logo – pulou do meu colo contente me puxando pela mão

- Vai com calma ai, pequena. A gente precisa passar na casa da mana primeiro – falei e sua expressão murchou

- Aquele cara vai estar lá? – perguntou se referindo ao nosso padrasto e eu assenti

- Mas a gente vai bem rapidão e já sai, ok? – ela confirmou e saiu para se despedir da nossa avó fiz o mesmo

- Camila, venha morar comigo e com Sofia, deixe sua mãe e aquele crápula para trás – sussurrou enquanto me apertava em seus braços

- Bem que eu queria vovó. Mas tenho medo que algo aconteça com a mamãe caso eu não more mais lá

- Você não pode passar a vida pensando em alguém que não pensa em você, ela não está nem ai se você tem passado bem ou mal.

- Eu sei, vou dar um jeito nisso, mas por enquanto continuo lá. – ela pareceu ficar triste com a resposta mas acabou por entender. Lhe dei um beijo na bochecha e logo já estava caminhando em direção a minha casa.

Sofia usava um vestido de bolinhas, uma sandália e um lacinho preto que eu havia lhe dado, me contava entusiasmada sobre a escola e os amigos, eu apenas sorria completamente feliz por estar com ela, fomos o caminho todo de mãos dadas, ela é uma menina incrível, se algum dia eu tiver uma filha quero que seja como Sofia.

Assim que chegamos a levei até meu quarto e tranquei a porta pra caso o maluco do nosso padrasto estivesse em casa não nos incomodasse.

- Pode jogar que eu vou trocar de roupa – falei lhe entregando meu celular e ela se jogou na minha cama.

Toquei o short e regata por uma calça jeans e uma camiseta manga longa, calcei um vans e arrumei o cabelo, peguei minha mochila e coloquei meu notebook dentro junto com algumas folhas brancas e um estojo, minha irmã continuava jogando quando escutei o barulho da campainha

- Vem comigo? – perguntei e ela assentiu me entregando o celular, quando cheguei na porta vi o entregador, ele descarregou as mercadorias e eu assinei a nota fiscal. – ajuda a mana a guardar as compras?

- Claro – ela disse e rapidamente começamos a guardar as coisas, conversamos sobre as aulas de balé que ela tinha começado a fazer e estava adorando, olhei rapidamente em direção à sala e vi minha mãe nos observando com lagrimas nos olhos, senti pena mas eu sabia que ela não ia se aproximar e que parte disso tudo era culpa dela, desviei o olhar e finalmente terminamos, peguei uma barra de chocolate que eu tinha comprado no balcão e alcancei para Sofia dizendo que era pagamento pelo trabalho.

[...]

O parque estava como sempre bem movimentado, a pequena ficou encantada com tudo, escolhemos um banco e eu lhe alcancei as coisas para desenhar enquanto eu escrevia, ela adorou a ideia.
E assim passamos a tarde, em meio a conversas e risadas, depois lhe deixei em casa e fui para a minha, e ai que começou o problema, assim que pisei para dentro meu padrasto apareceu furioso.

- Você não serve pra nada mesmo – esbravejou e eu arregalei os olhos

- Do que esta falando? – perguntei com receio, sua mão atingiu meu rosto com força e eu fechei os olhossentindo uma ardência terrível na região atingida.

- Eu não te mandei comprar comida, era pra deixar o dinheiro dentro da lata de açúcar – falou enquanto apertava meu braço com força e me chacoalhava, deixei que algumas lagrimas caíssem.

- Para que? Pra você pegar e ir beber? A gente nem tinha mais comida, você tem é que me agradecer por colocar as coisas dentro de casa – falei em um surto de coragem e a próxima coisa que senti foi novamente um tapa estralado e forte, meu lábio doeu e o resto do rosto ardeu mas ele não estava nem ai.

- Você é uma vagabunda e imprestável, olha o horário que chegou em casa hoje, eu quem decide se compra comida ou não. Agora some daqui – me soltou com agressividade e eu cambaleei para trás porem logo me recompus e fui para o meu quarto me trancando lá logo em seguida.

Meu rosto ficou vermelho, meu lábio cortou e ficou uma marca roxa de dedo em meu braço, mas o pior era a certeza de que minha vida não iria mudar.

Someday  ✏️ *Camren* Onde histórias criam vida. Descubra agora