Jantar com o Diabo

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Ao acordar, Alix percebeu que estava em uma pequena sala cinza, como as salas de interrogatório de delegacia, com duas cadeiras contando com a em que sentava, algemas prendiam-na à mesa por uma corrente. Ficou inteiramente só por mais ou menos duas ou três horas, até que a pesada porta de metal se abriu com um rangido revelando a figura de um homem alto, vestindo um terno preto, seu cabelo escuro perfeitamente penteado e à medida que se aproximava, Alix notou o crachá que pendia do bouço do terno, em lugar de seu nome, nele estava escrito AGENTE M e a insígnia de talvez uma organização ou algo do gênero. Ao se sentar o agente começou - Desculpe-nos pelo modo como tudo aconteceu, não podíamos fazê-lo de outra forma...
- Vocês sabiam que isso é sequestro! E que dá cadeia. C-A-D-E-I-A. Ca-dei-a!- interrompeu Alix com ódio estampado no rosto.
- Há há há há! Ai... No Brasil? Aqui é terra sem lei para quem tem poder e dinheiro minha querida.- debochou M deixando-a sem palavras.
- Mas isso não vem ao caso, nós à apreendemos menina, somos o DIEB, Departamento de Inteligência e Espionagem do Brasil, patrocinado por fundos particulares.
- Sim. Mas, por que sou tão importante para vocês? Ao ponto de ter de me "apreender"?- perguntou Alix.
- Não, não, não, as perguntas corretas são: por que você e o que lhe traz aqui.- disse M.
- Tudo que você precisa saber no momento é que vai ser transferida para um quarto, onde vai passar o resto do dia. - disse enquanto a soltava da mesa e com um aceno seu, alguém abriu a porta novamente, ele saiu da sala para chamar quem quer que fosse. Um tal agente E apareceu meio-minuto mais tarde e M falou algo em seu ouvido.
- Alix, o agente E vai ser responsável por você a partir de agora. - disse trazendo-a até o imenso corredor branco e completou olhando-a de cima a baixo - E vê se toma um banho, você vai jantar com o chefe.- o que fez E rir.
- Ihh! Você tá rindo de que? - retrucou Alix cruzando os braços.
- Nada. Vamos.- disse E.
****
Ainda no corredor, Alix se deparou com uma grande janela retangular blindada que dava para uma sala onde haviam vários outros agentes. Percebendo a expressão dela, E disse:
- Esta é a sala de treinamento.- ela continuou encarando a janela.
- Aquele cara ali é o agente K, um dos nossos melhores, ele está aqui desde os oito anos de idade, é chamado de prodígio. - disse E apontando para um garoto de pele cor de oliva que treinava combate corpo a corpo com uma garota também com o mesmo tom de pelo que segundo E era a agente L, irmã de K. Alix concluiu que os dois eram muito bons naquilo, mas L derrubou K com uma rasteira e o prendeu com uma chave de braço, o que a impressionou muito.
- ALIX! - berrou E, o que à fez voltar ao mundo real.
- O que? - disse ela atordoada.
- Em que planeta você estava? Caramba!- disse E.- Vamos, temos que chegar ao seu quarto.- completou andando apressadamente, o que fez Alix segui-lo.
                                ****
Pararam à porta do quarto 06 e E se inclinou na direção do escâner ocular.
- Todos os quartos abrem assim? Seu chefe não costuma receber muitas visitas, não é?- disse sarcasticamente.
- Pelo contrário, recebemos muitas visitas, mas a maioria não tão agradáveis.- disse E.
- Pronto. Está entregue.- completou pigarreando.
Percebendo a deixa, ela entrou no quarto e fechou a porta.
                                ****
Depois do banho, ela abriu o guarda-roupa metálico embutido na parede, nele encontrou um vestido (que pelo corte deveria ser caríssimo), acessórios, um par de sapatos, um roupão e um par de chinelos. Ela vestiu o roupão e deitou na cama. Como tinha passado a noite acordada, logo que deitou adormeceu.
****
Doze horas mais tarde, acordou com alguém batendo na porta. Ela se sentou, bruscamente, na cama e passando as mãos nos cabelos disse:
-Pode entrar! - então E entrou carregando uma bandeja metálica ( nossa, como esses caras eram obcecados por metal ) com o almoço dela.
- Boa tarde, bela adormecida. - disse E com um sorriso brincalhão no rosto.
- Argh, você é sempre tão irritante com as  pessoas, E? Por que vocês não usam seus nomes verdadeiros, ao invés de letras do alfabeto, hein ? - disse Alix de maneira provocativa.
- Nem sempre, só nas terças e quintas. - disse E ironicamente, colocando a bandeja próxima aos pés da garota completou:
- E mantemos nossos nomes em sigilo por segurança, para a segurança dos agentes, ou seja, a minha.
Alix pegou a bandeja, colocou-a no colo e começou a comer a gororoba que era servida naquele lugar.
- Vai mesmo ficar me encarando até eu terminar? - perguntou Alix com um sorriso irônico.
- Por que? Tem algum problema, princesinha? - retrucou E com um quê de sarcasmo em sua voz.
- Hahahaha! Ah, não, não, não. Você falou o que?! - perguntou Alix deixando a bandeja na cabeceira, e ao levantar, completou:
- Repete! Repete aqui ô. Na minha cara. - já com o rosto bem próximo ao dele, ficaram assim por segundos (que mais pareciam uma eternidade), foi aí que ela percebeu como os olhos escuros de E ficavam bonitos em seu rosto anguloso e como sua boca era desenhada.
- É-é... diz logo! - gaguejou Alix ofegante.
Então, E à virou de costas e sussurrou ao seu ouvido com um sorriso:
- Princesa. - o que soou mais como um elogio do que uma ofensa. Ela se voltou para ele novamente olhou-o nos olhos e baixando a cabeça disse:
- M-melhor você levar isso de volta, minha fome p-passou. - entregou a bandeja à E que assentiu e saiu do quarto.
Alix passou a mão nos cabelos e disse:
- O que é que deu em mim?! Eu nem conheço esse cara!
- Ai.- suspirou jogando-se na cama.
                              ****
Em sua casa, Ivan andava de um lado para o outro tentando achar uma solução para o sumiço de Alix.
- Ivan, fica quieto, eu tô com dor de cabeça.- resmungou Pandora.
- Ressaca! Quem mandou beber, e que pelo que eu saiba ainda é ilegal pra gente da sua idade... - reclamava Ivan até Pandora interrompê-lo:
- Ai! Grava o sermão me manda pelo WhatsApp, valeu? - deitando-se no sofá novamente.
Ivan finalmente teve a ideia de ligar para a casa de Alix e pegou o telefone. Quem atendeu foi a mãe de Alix:
- Alô?- disse ela.
- Tia Melina? Aqui é o Ivan, irmão de Pandora. Será que a senhora podia me dizer onde Alix está? - perguntou ele.
- Ah, oi Ivan! Olha, ela veio pra casa e saiu de novo agora de manhã. O pai dela veio buscar. - disse Melina.
- Pai?! Como assim?! - disse Ivan espantado, mas não houve resposta.
- Alô!? Tia? - disse, porém Melina já tinha desligado.
- Porra! - gritou Ivan jogando o telefone no chão, o que fez Pandora se assustar e dar pulinhos nervosos no sofá.
                                ****
Após passar horas deitada olhando para o teto, ela resolveu se arrumar para o jantar. Se maquiou, colocou o vestido preto, os lindos brincos que deixaram para ela e calçou os sapatos.
Às vinte horas, E estava pontualmente batendo à sua porta.
- Pode entrar! - disse ela levantando velozmente.
- Chegou a hora. Já está pronta?! Ótimo. - disse E abrindo a porta e ao vê-la, desviou o olhar, passando a mão no próprio cabelo tentou disfarçar o que acabara de fazer mexendo na escultura sobre à mesa que ficava perto da porta.
- E então, né? Hum. - disse Alix desconfortável.
- Uhm? Ah, claro. - disse ele oferecendo-lhe passagem, ela saiu e ele fechou a porta atrás de si.
****
- Qual é, exatamente, o tamanho desse lugar? Meu pé tá doendo demais, velho! - reclamou Alix.
- Grande o bastante. Hahaha. - disse E rindo.
- Você tá rindo porque não é você que tá de salto alto. - disse Alix empurrando-o com um meio sorriso.
- Ei! Hahaha! - disse E apoiando-se nas paredes, rindo e o clima ficou novamente estranho entre eles.
Ficaram calados até chegarem numa porta de vidro (tipo as de consultório médico, só que bem maior).
- Pronto, daqui você segue sem mim. - disse E seguindo na direção oposta à que vieram e desapareceu assim que entrou em um corredor próximo ao que estavam. Então, Alix virou-se novamente para a porta, respirou fundo e entrou.
****
- Oi? Tem alguém aqui? - perguntou Alix.
- Senhorita... Alix? É Alix, não é? - chamou uma mulher.
- Sou eu. - respondeu Alix com o cenho franzido.
- Me acompanhe, por favor. O chefe estava à sua espera. - disse a mulher abrindo uma porta (totalmente diferente das demais) e falou:
- Ela está aqui. Posso convidá-la para entrar?
- Claro. Que pergunta! - disse o homem com sua voz grave.
- Entre senhorita. - disse a mulher ao sair da sala.
Ao entrar, viu a enorme mesa de jantar, o homem misterioso sentava-se em uma das pontas da mesa.
- Por favor sente-se. - convidou o homem apontado para a cadeira vazia na outra ponta da mesa. Assim que sentou Alix começou:
- Quem é você? E o que quer comigo?
- Uhm, já percebi que você gosta de ir direto ao ponto, é o que temos em comum, eu e você. - falou o homem.
- Aposto que sua mãe nunca falou de mim. - completou.
- Você conhece minha mãe?! - se espantou a garota.
- Claro que sim! Como acha que você nasceu? - disse o homem.
- Não, meu pai morreu quando eu era um bebê. Foi um... - foi interrompida.
- Deixa eu adivinhar, um ladrão tentando roubar o carro dele, atirou e o matou a sangue frio. - disse ele imitando a voz da mãe dela.
- E você comprou essa história? Deus do céu, pensei que fosse mais esperta. Completou ele levantando-se.
- Tome! Pergunte você mesma. Vamos! Ligue pra sua mãe. - disse entregando um celular a ela .
- Tá! Tô pagando pra ver. - disse Alix cheia de ódio.
- É assim que se fala, filha. - disse o homem sorrindo e dando tapinhas nas costas dela.
- Não me toca! Não sou sua filha. - disse ela rispidamente.
- Alô? - disse Melina.
- Alô, mãe? - disse Alix.
- Filha você tá bem? - perguntou Melina preocupada.
- Não mãe, eu não tô nada bem. O que tá acontecendo? - perguntou Alix.
- Como assim? - perguntou Melina desconfiada.
- Como assim "como assim"? Você me criou a vida toda dizendo que meu pai estava morto e eu descubro que ele está vivo, mãe se isso for verdade... - Alix respirou fundo segurando as lágrimas.
- Filha, tudo que seu pai disse, sinto muito, mas é verdade.- soltou a mãe.
- O que?! Quer dizer... que a pessoa que eu mais amo na vida... mentiu pra mim desde que eu nasci? - disse a garota entre lágrimas.
- Filha, e-eu... - tentou dizer a mãe, mas:
- Não, não quero ouvir mais nada! - gritou com a voz esganiçada pelo choro, e desligou o celular encarando o recém descoberto pai.
- Não seja tão dura com sua mãe, ela acreditava que era o melhor pra você não saber. - disse o pai.
- A verdade é sempre o melhor caminho, não tente me convencer do contrário. - disse ela com frieza e secou as lágrimas.
- Tudo bem, não planejava fazer isso. O que quer que eu faça agora, Alix? - falou o pai.
- Se não se importa, eu planejo ficar aqui e até fazer o treinamento. - disse ela fria e dura como um iceberg e serviu-se de uma sopa de legumes(uma delícia).
- Não me importo, mas você vai precisar buscar suas coisas em casa, deseja que um dos agentes à acompanhe pra dar uma ajuda com a bagagem? - perguntou ele.
- Sim, com certeza. - disse ela com um sorriso frio.
- Mas, prefiro fazer isso amanhã, pode ser? - completou ela.
- Claro. Por que não?! - disse o homem retoricamente e dando uma colherada da sopa.
- Ah, que cabeça a minha, eu nem sei o nome do meu próprio pai. - disse ela sem qualquer traço de emoção no rosto.
- Sou Elias, minha querida filha. - disse ele.
- É cedo demais pra isso, vou demorar a me acostumar com essa coisa de pai e filha.
P.S.: O que vocês acharam desse capítulo? Comentem aí. O que acham que Alix vai fazer?
As.: IsabelaMontezuma

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