Capítulo sem título 4

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Capítulo 26

João foi ter até a Casa de Pedra e viu os dois adormecidos, inquietos, em sonhos angustiados e os sacudiu.

-Acorde moça, acorde, dizia ele. Milla despertou de um sobressalto e olhou em volta sem saber onde estava. Depois que se deu conta de onde estavam, despertou Clovis também, que assustado, ainda, engatinhava pensando fugir de seus perseguidores.

-Levante seu moço, porque está assim de quatro, feito um gatinho medroso?

Clovis ainda sem acreditar, abriu os olhos devagar e soltou seus impropérios.

-Jamais voltarei a dormir, jamais fecharei os olhos, por minutos que sejam. Depois olhou para João e perguntou agressivo.

-Quem é você?

-Não me reconhece mais seu moço? Sou João?

-Não pode ser você, era um moleque e agora é um homem, como pode acontecer isso em algumas horas em que dormimos?

João risonho falou. Posso ter crescido rápidos, ou modificado minha aparência tão rapidamente que não se deram conta, ou talvez não tenha dormido por poucas horas como imaginam, podem ter sido muitos anos, mas posso dizer a vocês que fazia muito tempo que eu não vinha à Casa de Pedra.

-Sinto que dormi muitos anos em minutos, uma sensação estranha e incomoda, parece que adormecia a poucas horas, mas os meus sonhos foram como de muitos anos, sofrimentos, dores angustiantes, momentos que não quero repetir. Disse Milla. Nem sei se quero mais dormir.

-Não sei ao certo moça o que se passou com vocês, mas às vezes os maus não vão ao purgatório é o purgatório que vem a eles. Falou João espiando entre olhos, para ver a reação deles.

-Minha perna ainda dói muito. Disse gemendo Clovis. A moça da enfermaria, poucas horas antes de dormimos disse que o meu perispírito está saturado de sensações externas, o que ela quis dizer?

-Num sabe Seu Moço, dizem que os Espíritos são imateriais, que pela suas essências se diferem de tudo o que conhecemos sob o nome de matéria.

-Que linguajar é esse João, onde aprendeu a falar assim professoralmente?

-Eu tenho estudado muito por ai, mas se o Senhor fosse cego, precisaria de palavras para definir o que é a luz e seus efeitos. O cego de nascença recebe todas as percepções pelo ouvido, pelo olfato, pelo paladar e pelo tato. O Senhor compreende isso Seu Moço?

-Sim, mas o que tem isso com a pergunta que eu fiz?

-Porque quando falamos de espíritos somos verdadeiros cegos, em relação à essência dos seres espirituais, como definir algo se só temos coisas imperfeitas para compará-la? No corpo vivo, estas sensações estão localizadas nos órgãos, mas quando morremos quem assume essa função é o perispírito, o responsável pelos registros de todas as sensações sentidas pelo espírito. Sendo o corpo espiritual imaterial formado de matéria sutil, etérea que compõem o Universo, não sofrendo influência direta de elementos materiais, como chuva, fogo, mas, no entanto, muitos Espíritos continuam mantendo as sensações vinculadas a estas situações, como: lembrança de sofrimentos anteriores ou impressão de algo que na realidade não está ocorrendo. Sabe Seu Moço é como uma forte nevoa, que sabemos que existe , mas que não conseguimos pegar. Como uma ilusão que se transforma em materialização.

-De onde você aprendeu essas coisas seu neguinho? Ainda outro dia era um menino, agora um homem e falando como um professor. Neste lugar tudo é muito estranho.

João riu de se esbaldar.

-Você que dizer que eu imagino que estou com dores? Perguntou Clovis.

O GRITO - Uma História de Amor e PreconceitosOnde histórias criam vida. Descubra agora