-Nós não devíamos estar aqui! Eu sempre soube disso! - eu gritei o mais alto que pude apesar de minha garganta estar cheia de poeira e quase dilacerada por aqueles malditos espinhos- É tudo culpa sua Henrique! TUDO CULPA SUA!
-Minha culpa?!- Henrique Magno também gritou em meio aos raios que ele mesmo soltava, descontroladamente- Você foi quem achou a inscrição naquela parede, você, Ruan, nos trouxe a esta floresta com seu ego do tamanho do mundo! E agora estamos aqui, sendo engolidos por nosso próprio feitiço!
-Mas foi VOCÊ que roubou tudo de mim! Eu viria aqui sozinho de qualquer forma! Você queria A BRUXA!
Quando disse aquelas palavras, os raios de Henrique ficaram mais fortes e o vórtice que eles criavam brilhou como o sol.Nós dois fechamos os olhos quando tudo foi pelos ares.
Fomos lançados da explosão do vórtice de raios a uma força fenomenal.
Um carvalho duro segurou meu impacto.
Minha visão estava fraca, e todo queimado, eu tentava me desgrudar do chão depois do impacto com a árvore.
Tinha lama por todo o chão, não sabia como algo úmido teria sobrevivido a um calor como aquele. Então uma dor alucinante cobriu meu corpo quando a lama tocou as queimaduras.
A beira do que parecia ser o meu fim, olhei para cima ouvindo um barulho horrível, como gemidos ou gritos muito altos.
A conjuração estava completa, o vórtice finalmente havia cessado, mas o que saiu dele agora parecia não poder fazer um estrago maior do que quebrar uma unha.
Cheguei a achar que estava louco, mas realmente, o que vi foi uma mulher, não uma camponesa qualquer, mas uma mulher bonita, não tão jovem, parecia ter uns 35 ou 40 anos, tinha os cabelos transparentes como água, pele branca, e os olhos... apesar de estar a pelo menos 500 m de distância dela, eu via a cor dos seus olhos, vermelhos, sedentos por sangue. E ela estava nua, completamente nua, o que fez meu entorpecer parecer um sonho proibido.
Era ela.
A BRUXA.
Olhando pela visão periférica eu cheguei a ver Henrique cambaleando na direção dela, a minha esquerda, seguindo como um louco em direção a um dos seres mais desprezíveis do mundo em que vivíamos. De repente, ele se levantou, e como um soldado que não se rende fácil numa guerra, gritou alto para que aquele vale inteiro o ouvisse.
-EI! - Henrique parecia ter uma voz mais forte agora do que eu costumava ouvir- VOCÊ, SEU DEMÔNIO! É MEU DEVER BANÍ-LA DESTE PLANO, PARA SEMPRE!
Eu cheguei a ver ele conseguir.
Eu cheguei a pensar a ver ele conseguir.
Henrique tirou algo escuro de dentro do bolso, que pela visão periférica não era mais do que um borrão ao longe, como uma mancha de café. Mas eu sabia o que era. Era o seu livrinho de anotações. Todos tinhamos um. Pelo menos até agora.
Mas eu sabia que ele ia querer usar um daqueles feitiços que ele mesmo criou, mas não soube concentrar a magia direito, e então ele acaba numa explosão de Eletro-plasma. Se ele usasse um daqueles feitiços de prisão, estariamos condenados. Ele mal conseguia prender um rato, quanto mais uma bruxa poderosa.
-ODINU ALEP ETION
ODALES ALEP AID
EU TE CONDENO A DANAÇÃO ETERNA!
NA ONDA DE LUZ!
Nada aconteceu.
Se eu estava com a cara na lama, ela podia me enterrar mais por que estavamos ferrados.
De repente, um grito horrivel daquela mulher soou no vale inteiro, e ela foi na direção de Henrique.
O vulto que se tornou Henrique chegava a ser ridículo, como uma morsa encalhada fugindo de um tubarão faminto.
Num único passe rápido e certeiro, ela agarrou Henrique e ali mesmo, abriu sua boca demoníaca e sugou sua força vital. Engoliu por inteiro toda a sua alma.
Dos meus olhos saiu uma única lágrima, que caiu na terra e fez um terremoto no meu coração.
A coisa-mulher brilhou por poucos instantes e sumiu na mata, correndo como uma coiote vitorioso.
O coiote que levou o meu melhor amigo.
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O Livro das Sombras - O Encanto da Bruxa
FantasyEu Sabia que não devíamos ter ido aquele lugar. Eu Sabia que não devíamos ter feito aquele conjuramento. Eu Sabia que não havia conseguido fazer nada para impedí-la Eu Sabia que eu era o Culpado. Graças a mim, os dias eram negros e as noites eram cl...