A primeira coisa da qual tomo consciência antes de abrir os olhos, é de que meus pés estão frios. Quando puxo as cobertas para me proteger e desperto, em um sábado. Minha mente confusa da noite mal dormida, relaciona esse frio, com a antiga casa da vovó. Isso me lembra de que o prazo para encarar os fatos como adulta, está acabando. Tenho uma semana para resolver os 'problemas' que vovó me deixou como herança. Quando eu era pequena, acordava de manhã com o som de passarinhos cantando... Exceto quando minha ela resolvia relembrar dos tempos dourados, e eu não entendia muito bem, mas quando Elvis cantava lá da cozinha, era sinal de que teríamos bolinhos no café e um dia divertido pela frente. Ou seja, o ninar dos passarinhos não eram tão atraentes para mim, quanto para branca de neve, no filme que Vovó Lourdes nos levou para ver. Me lembro até hoje, que eu e Rick brigamos por algum motivo nesse dia. Esse ultimo devaneio me convence a pular da cama. É isso, ou sonhar acordada que os passarinhos também cantam por aqui. O que não é verdade. Do meu quarto pequeno, tudo que ouço é o barulho de carros, e de adolescentes rebeldes que vem beber no bar ao lado, e depois chorar ou mijar de rir na minha calçada. Os emos estão tomando conta do local, e notei que o motivo das lágrimas agora nem sempre é o riso. As vezes eles vomitam, e na próxima sexta se desculpam, dizendo "cara, foi mau, só vim afogar as mágoas, ta ligado?". Ontem o barulho do Julio's não me incomodou tanto, eliminou a opção de ligar a TV, apenas para dar impressão de sinal de vida humana, além da minha por aqui. Enfim, saio da cama pensando no que me espera, com um certo frio na barriga e a expectativa de mudança. Estou retrocedendo, matando hoje a dor de nostalgia, e voltando no tempo. A diferença é que agora sou uma adulta... A menos de 5 horas estarei em Marrigton, cidade onde morei até os meus 10 anos. Estou partindo hoje, com 18 anos, uma casa para assumir, uma vida para começar, independência financeira e meu velho, porém útil, Scort vermelho.