Capítulo 04 - Daniel

2.2K 206 21
                                    

A Clara não é linda com esse cabelo curtinho e cara de quem quer aprontar?!

Vamos entrar na cabeça do Daniel?!

Beijos!
---

Hoje era para ser o nosso primeiro encontro. Eu faria uma cara de surpresa e conversaríamos calmamente sobre a feliz coincidência de termos vindo parar no Rio de Janeiro, na UFRJ e, principalmente, na mesma sala de aula. Ontem foi um erro terrível, eu quase não fui capaz de esconder o verdadeiro motivo de ter voltado de Nova York e, além disso, não pude evitar que Marina fugisse de mim sem antes conversarmos. Está na cara que ela não gostou de me encontrar, e a última coisa de que preciso é que Marina evite qualquer contato comigo. Mas, depois de ontem, tenho certeza que é a única coisa que ela vai fazer. Com isso em mente, passei o resto da noite enchendo a cara e acabei cedendo aos encantos de uma garota. Minha última lembrança foi tê-la levado até a porta, quando já não havia mais ninguém na minha casa.

Entro na sala onde serão dadas as aulas de Matemática para o curso de Administração no último minuto antes do professor, garantindo que poderei ver Marina antes que ela me veja. Dessa forma, ela não teria como fugir de mim outra vez. Ela está no centro da sala, com a amiga do lado direito e um cara do lado esquerdo que, por algum motivo idiota, está de papo com ela. Por sorte, há uma carteira vazia ao lado dele. Vou até a sua fila e sigo até eles, ignorando os lugares vazios existentes e incomodando quem estiver a minha frente.

― Cara! Senta nessa cadeira vazia ao seu lado, por favor.

― Por quê?! Senta você! ― Responde, me ignorando.

"Resposta errada!"

― Olha só, vou te fazer um favor e lembra-lo que você é apenas um calouro, que ainda não conhece as regras da casa. Eu me chamo Daniel Alcântara, você já deve ter ouvido falar de mim. Vou também ignorar o fato de você estar dando em cima da minha irmã, e olha que eu estou fazendo um grande esforço para conseguir isso. Então, vou te dar outra chance e perguntar novamente: você poderia sentar nessa outra carteira, por favor?

― Mas o que...

Antes mesmo que Marina começasse a reclamar, o cara já estava de pé, tirando todos os seus pertences do meu lugar.

― Eu sabia que você seria compreensivo. Como é o seu nome mesmo?

― É...é Pa... Paulo.

― Obrigada, Papaulo, você é um cara legal.

Dando as costas ao garoto, me sento feliz da vida, com um sorriso de orelha a orelha.

― O que você pensa que está fazendo? ― Marina me olha, parecendo irritada.

― Bom dia para você também! Bom dia, Clara!

― Bom dia, Daniel! ― Ela responde com um sorriso luminoso.

― Nós não somos irmãos!

― Eu sei disso, não precisa ficar nervosinha! Mas você há de concordar que foi esse argumento que fechou com chave de ouro o meu discurso. O fedelho ficou branco quando achou que estava dando em cima da irmã do Daniel Alcântara.

― Então você adotou o sobrenome.

― O seu pai me adotou, porque não usar o nome do cara que me aceitou como filho?

― É, você tem razão! ― E, com ódio nos olhos, continuou. ― E é exatamente por isso que eu deixei de usar o nome dele. Para que usar o nome do cara que te deu as costas no momento em que você mais precisou dele?

Eu não tenho argumentos contra isso. Nunca consegui entender como o Luiz Carlos foi capaz de me adotar e, ao mesmo tempo, ignorar uma filha legítima, que é linda, inteligente... Simplesmente perfeita. Por sorte, o professor começou a aula, impedindo o desastroso rumo que essa conversa poderia tomar.

A aula prossegue e, cada vez que olho para o lado, me deparo com uma nova expressão de dúvida, confusão ou pavor. Marina sempre teve sérios problemas com matemática, pude perceber pelas poucas vezes que ela tentou entender alguma coisa com a ajuda do pai. Esses momentos sempre culminavam com a Marina correndo para o quarto, escondendo as lágrimas, ou com os gritos impacientes do Luiz. Essa é a minha chance de me aproximar dela, foi por isso que havia deixado essa disciplina do primeiro semestre para depoisara garantir que ela aceitasse a minha ajuda com sua dificuldade e a deixasse me aproximar dela.

― Algum problema aí? ― Perguntei, tentando disfarçar o sorriso.

― O quê? Não! Só estou tentando acompanhar a explicação. Matemática não é o meu forte, e o professor não está indo com calma.

― É, eu sei. ― Deixei escapar num sussurro.

― Como?

― Nada, só falei que eu gosto de matemática. Se você precisar, posso te ajudar.

― Não! Hum... Não. Você não precisa fazer isso, eu vou estudar em casa e logo estarei acompanhando.

"Melhor não pressionar. Eu sei que ela vai acabar cedendo."

― Tudo bem, mas a oferta está de pé, caso ainda tenha alguma dúvida depois de estudar sozinha.

― Obrigada, mas não será necessário.

Mal terminou a aula e Marina já estava correndo com suas coisas nas mãos. Ela está louca para se afastar de mim, mas eu não vou permitir isso. No meu caminho em direção à porta, fui interrompido por uma dupla de loiras. Lembro-me delas da festa de ontem, principalmente porque uma passou a noite pendurada no pescoço do GG, e a outra é a menina com quem fui para a cama.

"Droga! Eu tenho que aprender a me controlar!"

― Oi, gatinho! Já estou com saudades, sabia?! Você não está a fim de estudar comigo hoje, na minha casa?

"Como é mesmo o nome dela? Regina? Não! É Renata. Porra! A Marina já saiu do auditório."

― Infelizmente, Renata, eu não posso. ― Vejo um discreto sorriso quando ela percebe que lembro seu nome, apesar da minha embriaguez na noite passada. Eu me policio para me lembrar das garotas com quem me envolvo. É o mínimo que um homem deve fazer, mesmo que não tenha interesse em manter um relacionamento sério, que é o que a maioria das meninas quer. ― Tenho um compromisso do centro acadêmico. Inclusive, estou atrasado. Depois a gente se fala.

Ela sumiu.

ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora